Nhô Pedro

Lembranças…quanta lembrança dos tempos que lá se vão. Minha vida de criança, minha bolha de sabão! Achei um relógio, gritava janjoão, pulando e cantando com ele na mão. Era o trem da Estrada de Ferro Araraquara, 6 horas da manhã, meu pai mandou um amigo da EFA me buscar aqui em Araraquara. E lá ia eu, de cesta na mão, cheia de roupa e com todos os troços que eu tinha na época. Não tinha mala.

E a “Maria Fumaça”, com determinação, avançava pelos trilhos e, de vez em quando, vinha um carvãozinho aceso que queimava a pele e sujava a roupa. Não sei se fui de primeira ou segunda-classe, mas, foi uma viagem inesquecível: odiei tudo o que passava pela janelinha, salgadinhos nas estações… o amigo de meu pai fazia de tudo para me agradar. Os meus coelhos, galos-índios e minhas pombas ficaram sozinhos. Tive que abandoná-los para me juntar à família em Catanduva.

E as mangueiras, pessegueiros, macieiras, parreiras de uva que pareciam verdadeiro céu. Tudo que meu avô plantava, dava e era gostoso: coquinho, tangerina, jacas, caquí, melão e melancia. A dezenas de pés de jaboticaba, da sabará à paulista, brancas e rajadas. Eu curtia tudo com a maior força de minha alma. Na casa de meu avô só existiam mulheres e eu reinava soberano, primeiro neto e primeiro em tudo, até em sabedoria.

Eu sabia onde estavam as melhores frutas e como apanhá-las. Tinha, também, um enorme chiqueiro onde meu avô criava porcos que eram vendidos para todo o Estado. Eu tomava conta deles e parecia que todos me conheciam e me respeitavam.

Mas, a cada apito numa curva, eu chorava mais. Parecia que o mundo estava acabando e que nada mais tinha remédio. O trem vencia os metros, no ritmo determinado pela locomotiva a vapor, alimentada por lenhas que os foguistas não cansavam de jogar na fornalha. Sabia que estava me distanciando da chácara do meu avô e as lágrimas aumentavam, cada vez mais, em que pese o esforço do amigo de meu pai. Coitado…tentou mais não conseguiu estancar minhas lágrimas. Como consolar um coração de criança que tinha a cabeça voltada para a plantação a criação do avô? Sem falar daquele carinho enorme…

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