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Nhô Pedro

Parece que o mundo da gente era muito pequeno. Do Armazém do Zaniolo e do lado da Chácara do Maracine começava uma rua, sem calçada e com muita poeira, que descia até o Rio do Ouro e depois seguia para direita, passava o viaduto da Estrada de Ferro e chegava a um mundo de campo que alguns diziam que ia até ao Mogi.

Lá é que se buscava lenha e fruta do campo, na época: gabiroba, marmelo preto rasteiro ou em pequenas árvores, marolo, vaca preta, giló-doce, orvalho e uma infinidade de outras frutas.

Cem metros para baixo, da pequena capela de nossa Senhora de Aparecida, morava, numa esquina, uma velha agradável e amiga de molecada do lugar. Era uma bela casa, sabia-se que ela tivera vinte filhos, mas, nenhum morava com ela. A porta da cozinha era dividida em duas partes e quando perguntada por que a porta era dividida, ela respondia que, assim, poderia tratar dos lobisomens que em princípio comiam suas galinhas. Agora ela passou a tratá-los. Isso se dava às sextas-feiras, à meia noite, ela os tratava como cachorros.

A molecada tinha horror dos tais lobisomens, a história corria por todo canto e todos acreditavam na velha senhora. Na frente da igreja de Nossa Senhora havia um bar, que era tido como o “Último-Gole” e lá frequentava um casal. Ele, Zé Botinha, tinha esse apelido porque sempre andava de botas e ela era uma velha conhecida da molecada.

Todos achavam que o tal de Zé Botinha era um lobisomem pois, durante o dia ele era coveiro e ganhava seus trocados fazendo túmulos, isto é, cavando-os. A molecada o olhava de longe e morria de medo.

Durante o dia ele era visto no “Último-Gole”, e dava para perceber que na parte cima das mãos, nos cotovelos, nos pés e nos joelhos haviam muitos calos grossos. Sua companheira não negava que ele era lobisomen e dizia que nada fazia para ela, além de lhe trazer algumas galinhas nas noites de sexta-feira.

Havia na linha do trem uma companhia de gasolina e óleo, que possuía quatro ou cinco tambores que deixavam como sobra, as borrachas das tampas que a molecada ia buscar para fazer tapetes.

Á noite, quando escurecia, lá iam 20 ou mais meninos, subindo o estradão, montados em seus carrinhos com rodas de latas e com seus faróis de borracha, pregado em pau-de-vassoura, fazendo a maior algazarra, com o mau cheiro da borracha queimada, subindo até à entrada da Chácara Vieira.

Havia naquele tempo muito fogo facto, restos de cadáveres que eram enterrados por lá. Isso já assustava, mas, a marcha continuava até que aparecesse um cheiro diferente e todos corriam para casa.

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