Sarah Coelho (*)
Quando criança fui praticamente criada no mato.
Minhas férias, que ficaram gravadas na mente,
Foram com meus tios, 21 irmãos que a mamãe tinha na Fazenda Santa Sofia de vovô Pedro.
Era uma grande farra:
tombos do Pedrinho de seu cavalo, ida às escondidas no riacho,
Bate-papo sem fim nas noites e
comer agrião, com fartura, na beira do riacho.
Sem falar nas imensas jaboticabas.
E os figos com espinhos era
a sua flor enfeitar o pomar.
Bom, frutas eram de todas as espécies.
Fartura na dispensa imensa,
da cozinha tudo vinha de caixa ou de saco.
E as pencas encostadas nas paredes?
As cobras eram o nosso breque.
Tomar muito cuidado,
nunca encostar em toco velho,
Muito menos mexer em uma moita serrada.
Cobra pra garotada
Era sempre seu pesadelo.
Sei que as cobras comem os ratos
Que vão na nossa plantação comer tudo.
Então entendi: é melhor ter medo de cobra
do que o risco de passar fome.
E eu perdi o medo das cobras…
Mais de 50 anos, mas
Sempre a seu tempo.
Hoje, cobras não fazem
mais parte de meus pesadelos.
(*) É colaboradora do JA.