A coragem do jornalista, a técnica de fixação de imagem ou resgate da qualificação inerente a suposto líder da comunidade ou, ainda, quaisquer outros motivos visando amparar metas inconfessáveis, eventualmente de caráter pessoal, enfim, por interesse ou falta de respeito ao Papa João Paulo II e aos seus inúmeros seguidores na região de Araraquara, o radialista-âncora da Rádio Morada do Sol (pertencente ao monopólio da família Montoro) causa mal-estar ao tentar desqualificar o trabalho realizado pelo líder cristão que o mundo respeita e admira.
A multidão reza, inclusive, para que o sucessor continue a batalhar pelas coisas de Deus com o coração aberto para todos os demais segmentos religiosos. O aludido repórter afirma que a imprensa “dá muito espaço ao Papa João Paulo II que nada mais fez que a sua obrigação”. Uma redução paupérrima, uma síntese infeliz e impertinente que se torna possível numa região onde tal informativo não tem concorrência.
O Direito é ferramenta essencial
Em outubro do ano passado quando o brilhante Juiz da Comarca de São Carlos e Professor no Curso de Direito da Universidade de Araraquara, Dr. João Baptista Galhardo Júnior, visitou a redação do JA para informar sobre o tradicional acontecimento jurídico, pudemos falar de nossa experiência de alguns anos como jornalista e, diante de fatos observados, concluir que o Curso de Jornalismo deveria agregar disciplinas no seu currículo tendo conteúdo de Direito. De preferência, durante todo o curso…
Para ilustrar, lembramos de um radialista que há muitos anos gritou e babou ao microfone que os moradores da Vila Ferroviária deveriam mover uma ação de usucapião contra a então Fepasa “porque estavam ocupando a casa há mais de 20 anos”. E falou corajosamente, do alto de sua ignorância jurídica. Ora, como ingressar em juízo para discutir o direito sobre um bem se, mensalmente, era descontada do holerith dos ferroviários certa quantia a título de locação?
Para uma parte dos ouvintes – sem conhecimento técnico para desprezar tão absurda sugestão, com forte componente sensacionalista para construir uma grande audiência – o repórter destemido abria portas e dava a entender que as autoridades e empresários do segmento deveriam atendê-lo para não sentir o peso de sua mão poderosa.
Outras sugestões
Se a conversa com o Dr. Galhardo Jr. fosse hoje, abusando de sua atenção, diríamos que o profissional jornalista deve ler muito, discutir temas e posicionamento da imprensa diante de fatos cotidianos, vivenciar as disciplinas jurídicas para conhecer seus limites profissionais e o direito de outras pessoas, mas, primordialmente que a rebeldia natural ou adquirida para chamar a atenção da sociedade não merece prosperar em bons profissionais. Para diluir traumas ou auto-estima deturpada o candidato a jornalista deveria buscar o divã de um psicólogo e não a ofensa gratuita e destruidora.
O jornalista deve ter bom senso, ampla educação formal e informal com sentimento fraternal e respeito à emoção e crença de seus ouvintes ou leitores. E jamais pisar na cabeça de pessoas como se fossem degraus para atingir a glória.
A comunidade católica ou, numa visão ampliada, os cristãos em geral ficaram sentidos com a morte do Papa João Paulo II. Ele, em seu exemplar sofrimento foi um ser comum, como tantos outros milhões, na hora da passagem em busca da cobiçada luz. A borboleta também sofre na hora da transformação, quando ganha asas multicoloridas… Papa João Paulo que peregrinou para alavancar a mensagem de amor, não precisa de defesa. Seus atos foram maravilhosos na caminhada pela paz. Mas, também, dispensa comentários desairosos de quem quer que seja.
Para algumas pessoas que procuraram o JA, “é uma covardia falar de quem não pode se defender. De quem, por ser amado, é chorado pela ausência física”.
Segundo essas pessoas, “na hora certa qualquer repórter poderia falar sobre um possível conservadorismo, por exemplo, da decisão do Papa de não aceitar preservativo, em época de doenças sexualmente transmissíveis. Mas, com o corpo da autoridade máxima da Igreja Católica sendo velado, qualquer jornalista ou pretenso paladino de pobres e oprimidos (que normalmente sofre de apoteose mental que leva-o a se achar sempre certo e todos os demais carregados de vícios, falhas…achando-se acima do bem e do mal), nesta hora, o comunicador deve ser generoso, exercitar a solidariedade porque existe uma multidão sofrendo com a perda de um ente-querido. Nessa situação, emitir opiniões grotescas é demais. Ser grosso ou violento tem hora. Se é que existe hora para as grossuras”.
Dedo na
ferida
Se a região de Araraquara tivesse opção, seria fácil. Quem não gostasse do radialista “A” passaria para o “B” e ponto. Ocorre que em Araraquara não existe alternativa. O sr. Madalena, como uma faísca, surge no rádio de quem deseja notícia. Não tem outro, em termos regionais.
Por um conjunto de justificativas, há vários anos se ouve (é bem verdade que audiência não infere credibilidade, notadamente de pessoas medianamente esclarecidas) apenas uma equipe de jornalistas e repórteres. Por melhor que seja, trata-se apenas de uma fonte. Enquanto isso, a cidade não faz absolutamente nada para ampliar as opções em canais comerciais.
O leitor interessado nesta matéria pode pesquisar: nos últimos 20 anos, quantas pessoas foram execradas e perseguidas em Araraquara? Sem dúvida, sofreram ferimentos descabidos, pessoais e que atingiram a família e amigos. Certamente, muitos até hoje não encontraram remédio para cicatrizar feridas causadas pelo mau uso das ondas de rádio.
Lamentavelmente, existe em Araraquara o monopólio da radiodifusão. As emissoras da Rádio Cultura e Morada do Sol pertencem à família Montoro.
Os políticos, detentores de mandato popular, poderiam lutar para sanar a falha que, sem dúvida, será cobrada pela história. Mas, quem se dispõe a mover uma palha sequer?
Constituição
é cristalina
A Lei Magna, a norma maior determina no Capítulo V “Da Comunicação Social”, Artigo 220, ítem II e parágrafo 5º:
Os meios de comunicação social não podem, direta ou indiretamente, ser objeto de monopólio ou oligopólio.
Canal é
do povo
Trata-se de uma concessão, o povo é o titular. O canal de rádio pertence ao povo e, em seu nome, agentes políticos concedem ou renovam a concessão por 10 anos. Mas, a concessão pode ser cancelada conforme o Artigo 223, parágrafo 4º:
O cancelamento da concessão ou permissão, antes de vencido o prazo, depende de decisão judicial.
Vale dizer, qualquer cidadão pode ingressar em juízo (Justiça Federal) para denunciar uso indevido de uma concessão de rádio, monopólio e suas consequências nocivas em termos sociais. Pode até reivindicar dos deputados federais (temos Marcelo Barbieri e Dimas Ramalho) que as emissoras tenham programação local e, com isso, absorvam profissionais da região.
As emissoras ligadas ao satélite (Band, Jovem Pan…) vendem espaço para empresários da cidade, mas, não usam nosso pessoal para alimentar suas “24 horas no ar”.
São Carlos x
Araraquara
A vizinha tem a EPTV que permite uma imagem metropolitana. Araraquara tem um simples estúdio auxiliar, nem pensar em concorrer com os benefícios canalizados para São Carlos.
É verdade, Araraquara tinha a TV Mulher, mas, a família Montoro a vendeu para os bispos de uma Igreja.
Assim, não temos televisão de qualidade semelhante a de São Carlos embora ela (TV Mulher) continue sendo gerada em Araraquara.