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Líderes criam filhos líderes?

Betânia Tanure e Roberto G. Duarte (*)

Não podemos entender como se formam os grandes líderes, ou mesmo traçar seu perfil sem antes conhecer as características fundamentais de sua história de vida. Este é um dos resultados do estudo internacional que estamos realizando em parceria com a Wharton University of Pennsylvania – uma pesquisa qualitativa com 42 presidentes de empresas brasileiras de capital nacional ou estrangeiro e outra quantitativa, com mais de 300 executivos. Nesse estudo, observamos alguns aspectos da vida dos líderes que contribuíram para modelar sua personalidade desde muito cedo.

A maioria dos entrevistados teve uma infância difícil. Restrições financeiras obrigaram boa parte deles a ingressar no mercado de trabalho ainda crianças ou no início da adolescência. Alguns sofreram ainda a ausência do pai ou da mãe, por falecimento ou separação conjugal – os obstáculos que, em determinados momentos parecem intransponíveis.

A figura materna, na maioria dos depoimentos, representou encorajamento, apoio e motivação. Mesmo os nascidos em berço de ouro, que não tiveram de enfrentar situações tão difíceis, relatam as rédeas curtas que fizeram parte de sua educação. Pais exigentes impuseram limites claros aos filhos, que tiveram de criar seus próprios meios de obter o que mais queriam. Por exemplo, lutar para conquistar “a tão desejada bicicleta”, como disse um dos entrevistados.

Certamente esses líderes são hoje espelho para muitos executivos. Sabe-se no entanto que as exigências da vida profissional tornam seu tempo cada vez mais curto e disputado. Nesse processo de ascensão, o líder vê diminuir a disponibilidade para a vida pessoal ou familiar.

E como conseguirá fazer dos seus filhos novos líderes?

Muitas vezes os pais tentam compensar a ausência de uma intimidade maior com os filhos proporcionando-lhes conforto físico ou se empenhando para atender aos seus desejos.

Essa pode ser uma forma, mesmo que inconsciente, de minimizar o sentimento de culpa por sua ausência.

Tudo isso nos leva a crer que na história de vida atual e futura do jovem brasileiro – filhos de grandes executivos – não se observam as condições que foram de extrema importância na formação da maioria dos que estão no topo das organizações. O mundo muda, é verdade, mas essa visão deve servir de alerta aos que vivem a tensão da construção do sucesso, como dirigentes empresariais.

Muitas vezes, os problemas pessoas são atropelados por não estarem sujeitos a “um sistema de metas de curto prazo” tão claro.

Cabe aí uma reflexão para quem acumula as funções de líder com as de pai ou mãe. Você tem consciência do seu papel na história de vida do seu filho? Consegue estabelecer os limites necessários para que ele lute para conquistar o que deseja ou seja estimulado a vencer desafios?

Isso também envolve outra questão importante. Sabe-se que a certeza de ter o amor dos que nos rodeiam é essencial para o desenvolvimento da nossa auto-estima – e que não podemos ser competentes como líderes se ela for baixa. Considerando isso, quanto tempo você tem dedicado ao seu filho? O necessário para fazê-lo perceber seu afeto por ele?

Ao optar pela carreira de executivo, seu filho terá maior oportunidade de obter uma formação acadêmica sofisticada.

A lacuna pode estar em não oferecer as condições emocionais para que ele seja desafiado a buscar o caminho do crescimento. Ao concentrar-se no “ter”, corre o risco de deixar o “ser” cair no vazio.

Exerça seu papel na construção de indivíduos potencialmente mais plenos. É desse tipo de líder que o mundo contemporâneo necessita.

(*) Betania é professora da FDC e Duarte, PhD Professor da PUC MG. Texto publicado pelo Estadão (16/1) e enviado ao JA pela Juliana Fernandes.

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