O ginecologista José Roberto Polletti, coordenador da Rede Básica Municipal e diretor clínico da Maternidade Gota de Leite, concedeu entrevista especial em que falou sobre assuntos ligados às mulheres, sejam elas mamães ou não. Suas respostas são verdadeiras receitas de informação e alerta nos tempos de hoje.
Indicado por Sarah Coelho Silva, ele é o destaque em Gente nesta edição.
JA – O número de mamães jovens continua crescendo?
JRP – Sim. É grande o número de grávidas nessa faixa etária. É sabido que esta gestação acarreta na maioria das vezes uma desestruturação familiar pela inversão de valores. Isso porque a mulher moderna primeiro realiza sua vida profissional para, posteriormente, ir a maternidade. Além disso, nessa faixa de idade é alta a incidência de patologias obstétricas e suas complicações como a prematuridade. Devemos ter consciência de que o jovem quando da prática da sua sexualidade o faça de maneira orientada e preparada para evitarmos problemas mais sérios que são doenças sexualmente transmissíveis e gravidez não programadas.
JA – Elas estão deixando de lado os métodos contraceptivos ou utilizando-os de maneira incorreta?
JRP – A maioria faz uso sem orientação médica adequada, muitas vezes de maneira escondida e uso incorreto. É importante comentar que Araraquara tem rede básica de saúde capacitada para receber essas jovens e orientá-las.
JA – E o que fazer se deixar de tomar pílula?
A pílula é sem dúvida é o melhor método contraceptivo para a adolescente. Ao interromper o uso, caso decida ter uma relação sexual, a mulher deve se proteger com preservativo masculino ou feminino até rediscutir com seu médico um novo método. Digo sempre para que não confie na sorte pois uma única relação não protegida pode resultar em gravidez.
JA – Existe limite de idade para tomar pílula?
JRP – Não. As pílulas modernas oferecem segurança a sua saúde. Desde que com a orientação de um médico, o método poderá ser usado até a menopausa. As mulheres fumantes e com doença trombo embólica não devem usar pílula em nenhum momento da vida, pois aumentam o risco de embolismo. Já as com pressão alta, diabéticas, obesas, portadoras de enxaqueca e outras doenças poderão usá-las desde que bem acompanhadas (são contra indicações relativas).
JA – Por quanto tempo é possível tomá-la e quais são os benefícios?
JRP – Por todo o seu período reprodutivo se não desejar ter filhos ou interrompê-la quando desejar engravidar ou surgir algum problema de saúde que impeça o seu uso. A pausa periódica utilizada no passado não tem mais razão de ser feita com o advento das pílulas modernas. O principal benefício é a possibilidade de programar a gravidez para o período da vida que julgar mais adequado. Os benefícios não contraceptivos são menor incidência de câncer de endométrio e ovário, ausência ou pouca cólica menstrual, menor fluxo menstrual, protegendo-a de anemia e, se for do interesse, programar a menstruação.
JA – E os dilemas das cólicas menstruais?
JRP – As cólicas menstruais são uma disfunção orgânica que habitualmente se iniciam de dois a três anos após a primeira menstruação. Tem intensidade variável e quando de intensidade mais forte acompanha outros sintomas como náuseas, vômitos, diarréia, alteração do estado de humor. O importante é entender que cólica não é normal.
JA – Explique o que provoca a menopausa.
JRP – É um processo biológico natural na vida da mulher e o que define o seu aparecimento é a carga genética exceto quando ela acontece por perda dos órgãos produtores (ovários) por cirurgia ou radioterapia
JA – Quais os primeiros sintomas?
JRP – Na prática médica, os dois principais sintomas que levam a mulher ao médico são os distúrbios menstruais e as ondas de calor. Outros sintomas habitualmente acompanham tais como distúrbios do sono e humor, secura vaginal, dor no ato sexual, perda urinária aos esforços, infecção urinária, perda da elasticidade da pele, ganho de peso com acúmulo de gordura visceral (bebedor de cerveja) e queda do libido.
JA – O que faz a Terapia de Reposição Hormonal?
JRP – Oferece à mulher os hormônios femininos que seus ovários deixaram de produzir, estrógeno (principal) e progesterona. São hormonios naturais portanto semelhantes aos que a mulher produzia e podem ser utilizados de três maneiras que são: a via oral (digestiva), a pele na forma de gel ou adesivo, sub dérmica que é um bastão de estrogênio colocado abaixo da pele e a intramuscular.
JA – O que as mulheres podem fazer para contribuir à melhora do quadro?
JRP – A principal orientação é cuidar da sua saúde como um todo. Dieta equilibrada com pouca gordura e rica em fibra, leite e derivados, folhas verdes escuras e peixe que são fontes naturais de cálcio, tomar sol com moderação (de preferência no inicio da manhã ou final da tarde) e atividade física. Estas atitudes, aparentemente simples, contribuem e muito na prevenção de doenças do aparelho cardio circulatório, ossos (osteoporose) câncer de reto e Alzheimer.
JA – Porém existe o risco do aumento de doenças cardíacas nesta fase.
JRP – Sim. É sabido que o estrogênio é um protetor natural da mulher pois mantém o colesterol bom (HDL) em nível elevado e o colesterol ruim (LDL) baixo, protegendo o organismo feminino da doença arterioesclerótica. Com a menopausa e a perda deste protetor natural existe um risco do aumento destas doenças.
JA- Quais as outras doenças comuns nesta idade?
JRP – Existem quatro doenças descritas que são mais freqüentes nas mulheres do que nos homens e provavelmente esta incidência maior está ligada a falta de estrogênio. Elas são conhecidas como “assassinos silenciosos”, pois seus sintomas só aparecem com doença avançada. São as doenças arterioesclerótica, câncer de reto, osteoporose e doença de Alzheimer.
JA – O hábito de fumar é um agravante para as doenças da terceira idade?
JRP – Sim. O fumo é um agravante para as doenças degenerativas quais sejam: doença do aparelho circulatório, osteoporose, câncer de reto e pulmão. De forma resumida, o fumo é um agressor ao nosso organismo.
JA – Sua mensagem
JRP – A saúde da mulher é de fundamental importância para a família e a sociedade. A maioria das doenças ginecológicas têm sintomas tardios, mas uma visita regular ao ginecologista permitirá o diagnóstico precoce. Uma sociedade saudável cuida de suas mulheres.