Paulinho, certamente você viu a sua mãe sendo abraçada pelas suas tias, irmãos e outras pessoas… gente solidária que foi beijá-la. O Marcelo e o Mauro vão cumprir a promessa de olhar carinhosamente pela Mara, Luciano e Bruno, a sua família e, com certeza, não estarão sozinhos nessa empreitada. Fique em paz porque o mundo não é frio, notadamente, no indescritível e insubstituível núcleo familiar. Os que têm um caminho a percorrer, antes de ver libertado o espírito, vão somar para dividir o calor, numa sintonia do coração. É o que anima a continuar a busca pela Verdade e Vida: dando para receber, amando para ser amado e morrendo para usufruir das delícias de uma vida eterna, pela misericórdia do Senhor.
Em pleno verão de 2004, no jazigo de seu saudoso (e também apressadinho) pai Benê, é colocada a urna com a “roupa” que você usou. O seu corpo, como uma fotografia do sofrimento causado pela terrível moléstia, é guardado. As lágrimas teimam em rolar pela face, mesmo acreditando na vitória do espírito sobre a morte. Elas são o atestado eloquente de que gostaríamos de tê-lo conosco por mais tempo. Afinal, você vai antes de sua mãe, o que pelos nossos valores não é natural. E outro detalhe carinha, você vai cedo demais. Sei que não dá para questionar, mas, é o que aprendi a fazer por essa vida cheia de (desnecessária e abominável) violência, com registro de fraticídio a cada milésimo de segundo. Irmão matando irmão: com arma, com a língüa, com inveja, com pés mentirosos e insensíveis sobre a cabeça de gente decente que constrói durante uma passagem efêmera, mas, honrada e digna. Crente de que está realizando, com extremo amor, na esteira que alavanca os que sabem medir o privilégio de serem criados à imagem e semelhança de Jesus.
Sem sombra de dúvida, essa separação dói até porque ainda não conseguimos entender a beleza dessa libertação espiritual. Obviamente, lembramos do que nosso Mestre disse (“quem morre escudado pela minha promessa terão vida eterna”), mas, dói muito entendeu?. Por isso mesmo, bendito o bálsamo oferecido aos que vão continuar amando o seu sorriso permanente e alegria própria dos que são puros de alma e vêm para cumprir algum pequeno trabalho…
Como uma explosão, você nasce para outra dimensão. O espírito segue sua trajetória, como uma linda borboleta que doloridamente sai do casulo e com asas multicoloridas voam para novos recantos de liberdade extrema.
Que você seja feliz e … até qualquer dia. Claro que tinha muito a dizer, mas, o editor informa que o espaço acabou. A propósito desse final, um bondoso senhor, na hora do sepultamento de seu corpo, afirmou: tá aí o nosso fim. E, crente de que este mundo maravilhoso não poderia ter um final tão chato, sem graça, verdadeiramente canhestro, respondi: ou aqui é o começo caríssimo?
(Crônica de um tio que se lamenta de não ter tido tempo para participar de muitas brincadeiras do Paulinho, Marco, Marcelo, Rogério, Maurinho e a molecada da vizinhança. Mas, se efetivamente tiver outra vida …).