Juliana Fernandes(*)
Um pouco antes das 8 da manhã, ela vem chegando. Passos leves, olhar tranqüilo, um sorriso sempre presente. Cumprimenta e já vai se preparando para mais uma seção de Ginástica. Aquecimento, alongamentos, exercícios localizados. A professora Fanny está atenta. Da mesma forma que acompanha cada aluno, fazendo suas correções, acompanha com mais cuidado ainda, sua aluna Gilda Bifani. Compreensível, uma vez que essa aluna é muito especial. Sabem por quê? Quando pensamos em alguém com 88 anos, é muito natural que imaginemos uma pessoa com dificuldades para se locomover, andando lentamente, porque, embora existam as exceções, é assim que se comporta a maioria. Mas…Gilda não faz parte dessa maioria. É a minoria que teima em dar a sua vida um sentido mais amplo do que o comum à sua idade.
Nascida em Rio Claro, a 23 de setembro de 1915, chegou em nossa cidade há 17 anos e desde então, freqüenta a Academia Atalanta. Muito comunicativa, Gilda conta, por meio de gestos, que vem de uma família de 8 irmãs e dois irmãos. Por meio de gestos, sim, pois Gilda é deficiente auditiva, o que chamamos, comumente, de surdo-mudo. Mas três de suas irmãs também tinham essa mesma deficiência. Uma delas, juntamente com Gilda, vive com uma irmã no bairro de São José, próximo à Academia Atalanta.
Se você está pensando que a idade, a deficiência, a solidão, tomaram conta da vida de Gilda, está enganado. Ela nos conta que procurou a Academia para aliviar dores no pescoço e na coluna e que essas dores desapareceram logo depois de iniciar as atividades. E continua, dizendo que uma outra dor, tão importante e muito mais profunda, também desapareceu. A dor da solidão, a dor da tristeza, a dor da ausência de companhia para conversar. Isso mesmo, conversar. Porque Gilda, apesar da deficiência, conversa na Academia. Faz-se entender, por gestos ou balbuciando sons e todas as amigas de turma a entendem e respondem ao que ela diz. Por isso, adora freqüentar as aulas. E fica muito brava se por alguma razão, precisa faltar. Também gosta muito de dançar e nas festinhas da Academia, tenta seguir os passos das amigas, com muita desenvoltura, apesar de não ouvir os sons.
Especializada em Ginástica Corretiva para problemas de coluna, a professora Fanny Camargo Sampaio reúne em sua Academia, alunas da Terceira Idade (a grande maioria), num ambiente alegre, descontraído, familiar. Todas ficam amigas, dividem as preocupações, os problemas, as alegrias. E foi nesse ambiente que Gilda encontrou o carinho e atenção que buscava para sentir-se jovem e alegre como é. Perguntado a ela o que a faz tão disposta, a resposta é sempre a mesma. Ela diz, em sua linguagem perfeitamente entendível, que faz ginástica diariamente, porque os dias em que não vem para a Academia, pratica exercícios em casa, recordando os mesmos que fez em aula, com os cuidados na orientação que recebeu da Professora Fanny. Diz ainda que muita gente pensa que exercícios só se faz na hora em que aparecem os problemas, mas que faz exercícios, para não ter problemas. Não sente dores nos ossos, nos músculos, abaixa e levanta com a maior facilidade. Pra ela, ginástica faz parte da vida, como respirar”!
Quem a vê durante a aula, fica surpreso com tanta agilidade, excelente coordenação motora e muita disposição, o que serve de exemplo para tantas pessoas mais jovens que acreditam ter envelhecido apenas por estarem na Terceira Idade. Sabemos que não. Envelhecemos no momento em que não temos mais sonhos, objetivos, esperanças. Não importa que idade tenhamos. E Gilda, ao iniciar suas atividades aos 71 anos, mostra isso. Que a vida pode começar no momento em que buscamos realizar o que desejamos.
Gilda Bifani, aos 88 anos de idade. Que sua vida possa continuar servindo de exemplo para os mais jovens!
Serviço:
Academia Atalanta, Av. Antônio de Pádua Corrêa, 676 – Bairro S. José.
Fone – 222-75-53
