Esperança e Esperanto

Há poucos dias, lendo que foi canonizada uma santa brasileira, fiquei curioso para saber se, no rol dos santos, há algum com o nome São Guaracy. Minha única fonte é o Almanaque do Pensamento, onde estão arrolados os santos que abençoam cada dia do ano. Não achei nenhum Santo Guaracy e fiquei preocupado porque, se tivesse que concorrer ao honroso título, a primeira coisa a fazer seria parar de dizer palavrões e, por conseguinte, parar de escrever estas crônicas. Minha ESPERANÇA caiu por terra, mas eu tive uma idéia que quero combinar agora com os leitores: Vamos deixar que algum outro Guaracy concorra ao título de Santo e, no caso dele ser canonizado, vocês se incumbirão de esparramar para o povo que o Santo sou eu. Acredito até que o amigo Polezze seria o primeiro a liderar tal movimento.

No dia em que manuseei o referido "Almanaque do Pensamento", olhei a lista dos santos, dia por dia. Ao chegar no dia 30 de setembro, estava escrito apenas ESPERANÇA. Acabei ficando na dúvida se existe ou existiu alguma Santa Esperança ou se a data está apenas fazendo alusão à segunda das três maiores virtudes que a Bíblia recomenda.

Essa palavra ESPERANÇA me fez meditar bastante tempo, pensando primeiro em meus seis filhos e no que espero para a vida de cada um deles. Em seqüência, pensei em minhas três netas e no neto, aos quais, nessa fase da vida em que estou, sonho que possa ter refletido neles um pouco de mim e depositando neles uma grande ESPERANÇA, desejando que eles consigam superar todos os defeitos que herdaram de mim e que cultivem e aperfeiçoem alguma eventual qualidade.

O fato é que, como já comentei neste espaço, os netos herdam mais do avô do que do pai, motivo pelo qual sempre me senti uma verdadeira encarnação de meu Avô Manéco, a quem amo tanto a ponto de até cultivar os defeitos dele que tive a graça de herdar…

Meu neto Bruno, cuja foto estou mostrando hoje, parece que captou algumas heranças minhas e eu confesso que me divirto bastante quando o ouço dizendo meus palavrões prediletos. Eu finjo que não escuto mas, por dentro, fico curtindo os lances dele.

Nesta semana, um dos jornais da cidade mencionou um programa público de saúde direcionado aos pacientes de anemia falciforme. Esse tipo de anemia tem esse nome porque os glóbulos vermelhos, ao invés de serem redondinhos, têm o formato de uma foice ou de uma lua em quarto crescente. Foice em latim é "falci", daí o nome. No jornal saiu escrito com S, "falsiforme", motivo pelo qual enviei um FAX ao jornal e outro à Câmara Municipal indicando a correção.

Logo após ter passado o dito FAX, minha filha Nilce, mãe do Bruno e da Gabriela, me ligou de Ribeirão e eu contei prá ela o lance da palavra falciforme. Ela deu uma gargalhada e me disse que o Bruno havia passado perto de um carrinho que vende água de coco, no qual havia um cartaz escrito "água de côco". Ela me disse que ele fez a maior folia ao redor do carrinho, gritando que coco não tem acento, que só cocô tem acento e não perdeu a oportunidade para ficar repetindo a palavra cocô um montão de vezes. A Nilce completou dizendo que ele faz igualzinho faço: corrige e aproveita para dizer algum palavrão. Agora eu fiquei na dúvida se alimento a ESPERANÇA de que ele pare de falar palavrão ou se prefiro que continue falando, porque gosto que ele se pareça comigo…

Pensando ainda na palavra ESPERANÇA, associei-a à palavra ESPERANTO, que é o nome da língua internacional inventada no ano de 1887 pelo inteligentíssimo Médico polonês, Dr. Lázaro Ludovico Zamenhof. Ele sabia falar dezenas de línguas e pensou em inventar uma língua nova, na ESPERANÇA de poder facilitar a comunicação entre os povos. Foi por isto que ele deu à língua internacional o nome de ESPERANTO.

Ao inventar o ESPERANTO, Zamenhof aproveitou o que havia de melhor nas línguas existentes e criou algumas terminações e radicais que reduziram o vocabulário ao mínimo, ficando facílimo para qualquer pessoa do mundo aprender. Foi uma pena que os povos do mundo preferiram adotar o inglês como língua internacional, porque o inglês é de difícil pronúncia e tem um vocabulário milhares de vezes maior do que o vocabulário do Esperanto.

São duas as coisas que mais gosto no Esperanto. A primeira é a palavra "tchu", que é escrita com a letra C com acento circunflexo e a letra U, para ser usada no início de uma pergunta. O efeito dessa palavra é semelhante àquele ponto de interrogação invertido que se usa na língua espanhola para indicar que a frase é uma pergunta. Zamenhof adotou isto na fala. Ao começar uma frase pela palavra "tchu", a pessoa que ouve já presta a atenção porque vai ter que responder. Por exemplo, quando a gente vai perguntar a alguém se ele é o Médico, a pergunta é assim: "tchu vi estas la kuracisto?" Sendo assim, "Tchu vi amas min?" quer dizer "Você me ama?" e "Tchu vi parolas Esperanton?" quer dizer "Você fala Esperanto?"

A outra coisa que eu gosto é que em Esperanto não há antônimos. Cada vez que a gente precisa dizer uma palavra de significado contrário a outra, basta colocarmos o prefixo "mal" antes da palavra. Por exemplo, a palavra grande em Esperanto é "granda". Para dizer pequeno, a gente diz "malgranda". Bom é "bona" e mau é "malbona". O verbo fechar é "fermi", e o verbo abrir é "malfermi". Moleza!

Quando eu tinha a idade do Bruno, eu gostava de ficar lendo as palavras de trás prá frente e ele herdou de mim essa mesma mania.

Há algumas semanas, a professora dele do 2º ano primário deu uma aula sobre antônimos. Inicialmente, ela explicou que antônimo é uma palavra que é ao contrário de outra. Dito isto, ela perguntou de forma coletiva: "Quem entendeu, me responda qual é o antônimo de PRETO?". Ele foi o primeiro da classe a ficar em pé e respondeu: "O contrário de PRETO é OTERP…" e deu a maior gargalhada.

Amo esse meu neto Bruno e, baseado em sua grande vivacidade, tenho uma grande ESPERANÇA no futuro dele…

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