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Doce lembrança do meu Querido Pai

No domingo passado, além da foto de Meu Avô Manéco com a Avó Eulália, mostrei Meu Pai com dois irmãos dele. Hoje, Papai está comigo no canto direito, com minhas homenagens pelo Dia dos Pais.

Papai faleceu quando eu tinha 41 anos. Foram anos em que o vi trabalhando com afinco e com invulgar capricho, sempre justo em seus passos e em sua conduta, sempre bondoso e carinhoso, sempre disposto a me ensinar lições de vida, especialmente a arte de administrar a economia doméstica, sempre planejando para gastar um pouquinho menos daquilo que ganhar.

Vejam só os leitores a idéia que ele teve quando eu passei no vestibular de Medicina no Rio de Janeiro: Ele me pediu para obter informações sobre quanto de dinheiro eu precisaria por mês e, sendo operário da EFA, pediu ajuda a minha irmã Leila para compor minha mesada. Pegou a reserva que ele tinha, montou a mesada de dois meses e me deu, dizendo: "Esse dinheiro é de março e abril, mas você só gasta o dinheiro de março; em início de abril eu mando o dinheiro de maio, em maio em mando o dinheiro de junho, etc.; você sempre vai ter na mão o dinheiro do mês atual e o dinheiro do mês seguinte; se souber controlar, você não vai passar apertado…"

Papai era um homem simples, tendo estudado apenas até ao meio do 3º ano primário aí no Grupo da Rua Um (Carlos Baptista Magalhães), onde foi colega de classe do saudoso Vereador Mário Ananias, que foi Presidente de Nossa Câmara Municipal de 1953 a 1958.

Agora vejam só o rosto e o peito de Meu Pai Arlindo. Eu não herdei o rosto dele, porque herdei o rosto do pai dele. O resto do corpo, também não herdei de Meu Pai, pois meu físico, com ossos miúdos, me vieram do lado materno, do meu avô português, Manoel Lourenço. (Manoel dos dois lados, só eu mesmo!)

Eu aprendi muitas e muitas coisas com Meu Pai e existe uma coisa que eu tenho certeza de ter herdado dele, que é a vontade incontrolável de consertar as coisas. Quando Meu Pai via alguma coisa quebrada, torta, desigual, principalmente perigosa de alguém se ferir, ele não conseguia dormir se não fosse lá e consertasse.

Não há a menor dúvida de que, dentro da Medicina, escolhi Cirurgia Plástica para consertar os defeitos do corpo dos outros. Herança de Meu Pai. Quantas vezes, confesso, parei pessoas na rua propondo "consertá-las", até de graça se não me pudessem pagar. É um ímpeto incontrolável.

No ensejo, vou contar aos leitores alguns exemplos de reparos que fui impelido a fazer, do mesmo jeito que Meu Pai fazia.

Há alguns meses, indo almoçar aquela comida gostosa do "Degraus", verifiquei que na escadaria havia uma pequena farpa de metal que poderia machucar a mão de alguém. Nem disse nada ao Manoel ou aos irmãos dele; no dia seguinte, levei comigo uma pequena lima triângulo e, sem que ninguém visse, limei a farpa deixando o local bem liso.

Há alguns meses, vindo a pé pela Rua São Bento, vi na minha frente uma jovem de 15 ou 16 anos, cujo avô foi operado por mim. Ela estava com a costura da calça, na parte detrás, totalmente fora do rego. Não agüentei. Cheguei perto dela e perguntei: "Você me conhece?" Ela me respondeu: "Claro que sim!" Puxei-a prá dentro da loja do Foto Sandro, falei "dá licença", juntei a calça dela na cintura e dei-lhe um giro num golpe só colocando a costura no alinhamento. Ela me disse: "Não é à-toa que meu avô adora o Senhor!"

Recentemente, publiquei as fotos do reparo que fiz no letreiro ao lado de minha casa, onde o pintor escreveu "Av. Maúa". Não resisti e corrigi o erro à noite, com meus pincéis e tintas, para "Av. Mauá".

Agora vejam as fotos da esquerda. Há mais de seis meses, estava seguidamente quebrada a calçada da Câmara Municipal, pertinho da banca de jornais, com um buraco fundo e perigoso de alguém sofrer uma fratura exposta. No domingo dia 4, no fim da tarde, uma senhora magrinha enfiou sem querer o pé esquerdo dela ali e esfolou um pouco. Por sorte, eu ia passando e segurei-a para que não caísse. Levei-a até à minha porta, passei-lhe um antisséptico e ela se foi. Entrei prá dentro, peguei meus apetrechos, voltei lá e consertei o buraco, enquanto a Cilene me fotografou em ação.

Agora, com essa propaganda toda, acredito que a Prefeitura irá ficar sensibilizada. Evidentemente, meu trabalho foi provisório. Cabe ao Município fazer ali uma tampa metálica, portanto inquebrável, que definitivamente não irá colocar ninguém mais em risco.

Não posso deixar agora de contar das pessoas que passaram pela Duque exatamente na hora que eu estava consertando a calçada.

Duas senhoras passaram e uma delas falou afirmando: "Ei, o Senhor é o Dr. Guaracy que a gente gosta de ler as estórias aos domingos, muito prazer, nós moramos ali na D. Pedro, entre a 6 e a 5." A outra disse: "Muito prazer e parabéns pelo que o Senhor está fazendo!"

Logo atrás passou a Natalina, que trabalha na parte de enfermagem da Gota. Ela me abraçou afetuosamente e me parabenizou por meu trabalho.

O Vereador Pastor Raimundo passou e gostou de minha ação. Desconfio que ele me vai elogiar na próxima sessão camarária.

Imaginem só agora, os leitores, quem também passou por ali indo para o culto da Igreja Presbiteriana? Exatamente a Dona Ruth, mãe de meu amigo Samuel da Farmácia, que estava acompanhada pela sobrinha. Ela olhou bem e me mandou consertar o resto da calçada da Câmara, que está uma lástima!…

A última que passou enquanto eu labutava foi uma outra enfermeira da Gota, apressada pelo horário de entrar em serviço, já beirando as 19 horas. Do outro lado da calçada, ela me gritou: "Aí, Doutor Guaracy, tá pagando os pecados!…" Sem ter o que responder, eu apenas falei: "Nem todos!…"

Mil abraços espirituais ao Meu Querido Pai Arlindo, de quem eu herdei uma outra coisa que não havia dito ainda: herdei dele a capacidade de amar um pai sem interrupção!

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