Antonio Delfim Netto (*)
Gostaria de estar comemorando, neste artigo de final de ano, o renascimento de um robusto crescimento da economia brasileira. Tínhamos boas condições para isso quando 2005 começou, com o PIB crescendo 5% e a taxa de inflação a menos de 7% e em declínio. Desde sempre aprendi que o desenvolvimento depende do estado de espírito da sociedade, do animo dos empresários, da crença e da garra dos trabalhadores.
Depois de quase 20 anos de baixos níveis de desenvolvimento, o comportamento da economia em 2004 (mais 4.95 de PIB) reanimou a expectativa de crescimento, com a expansão do comércio exterior, diminuição da extrema dependência externa, ligeira (mas continuada) melhoria de emprego e até mesmo redução dos índices nacionais de pobreza. Renasceu o clima de otimismo. O ôespírito animalõ dos empresários voltou a manifestar-se. Projetos de investimentos começaram a ser desengavetados. A expansão do consumo doméstico estimulava o aumento da produção.
Logo no início de 2005, no entanto, o espírito do desenvolvimento começou a ser torpedeado pela crença fundamentalista do Banco Central que o Brasil não pode crescer mais que 3,5% sem produzir dramáticos efeitos inflacionários. Durante nove meses perseguiu implacavelmente a atividade econômica, elevando o juro real dos papéis do Governo de 9% para 14%. Trocou um “fantástico” corte de 0.5% na taxa de inflação pela queda ainda mais fantástica de 2% na taxa de crescimento do PIB. Ao final do terceiro trimestre, o estado de espírito favorável ao desenvolvimento, criado pelos excelentes resultados de 2004, havia sido destruído por três fatores: 1. A lambança em que o Governo foi metido pelo PT; 2. A constante ameaça sobre a atividade econômica produzida por uma taxa de juros real indecente e; 3. Os efeitos dos juros sobre o câmbio e sobre o crescimento econômico, fatores que poderiam amenizar a supervalorização do Real que vem reduzindo a produção da indústria devido à competição desleal das importações e aos obstáculos às exportações.
Apesar de tudo, ainda creio que 2006 poderá salvar o governo Lula da praga de repetir a desprezível performance de seu antecessor em matéria de desenvolvimento, quando o PIB cresceu menos de 1% per capita ao ano e deixou aos brasileiros a certeza que sua renda só será o dobro da atual daqui a 70 anos… Ele pode atuar em três ou quatro vetores de um choque de gestão estabelecendo inicialmente um limite para as despesas de custeio do governo, com um programa de redução anual deste teto de 0.1% ou 0.2% do PIB por 10 anos; num segundo passo enfrentar o problema das vinculações, num sistema que é defendido pelas corporações e se transformou na avó da vagabundagem porque permite a acomodação e evita o controle rigoroso do orçamento; em terceiro lugar mostrar o caminho da eliminação do déficit nominal que, sendo acreditado, garante que não vai crescer a relação Divida/PIB e antecipará a queda do juro real; e por fim a eliminação completa da tributação dos investimentos.
Não é tudo o que é preciso fazer mas é o básico para recuperar a expectativa favorável dos setores privados e fazer renascer o amortecido espírito do desenvolvimento. Em muitas outras ocasiões de nossa História o Brasil superou o desânimo e é isso que esperamos que aconteça em 2006 desejando um Feliz e Próspero ano novo aos caros leitores que tiveram a paciência de me acompanhar este ano. Com os meus votos de Feliz Natal.
(*) e-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br