Marilene Volpatti
Tem dia que a fome do físico está saciada, mas… a da alma está roncando, pedindo colo. Há duas alternativas: correr para o colinho da mamãe ou fazer uma comidinha especial.
Comidas pastosas, quentinhas e fáceis de engolir trazem conforto ao serem ingeridas em colheradas, principalmente naqueles dias em que tudo está dando errado e que a alma fica carente de aconchego.
O primeiro prazer que o bebê sente é na boca. Se foi amamentado ao peito e depois com papinhas quentinhas e bem-feitas, vai perceber que o mesmo conforto do leite da mãe é transferido para a comida, chupeta, e no futuro pode ser o arroz-doce da avó ou de algum restaurante, que lhe irá despertar a mesma sensação. Dessa forma criou-se a sabedoria de saborear, por isso que esse tipo de comida traz de volta a sensação de alento e proteção.
Todos nós ao sairmos da infância tomamos conhecimento desse vazio momentâneo, que por sorte pode ser preenchido com leite quente com canela, sopas, mingaus, etc. Essas delícias evitam que muitos marmanjões voltem para o colo da mamãe correndo.
Renato, 49 anos, conta que quando está com algum aborrecimento pede a esposa que lhe faça um arroz molinho, com bastante queijo, para poder comer com colher. “Só ela tem a capacidade de fazer como eu gosto. Me farto de comer e não aborreço ninguém com minhas lamúrias”, confessa.
Infância
A famosa canja, cantada pelos nossos avós como a comida da coragem e resistência, encabeça a lista de comidas que ultrapassam os limites da nutrição para mexer com as emoções e curar o espírito.
Cada pessoa tem uma preferência, mas todas essas comidas têm algo em comum: lembram o passado. Pode ser as férias da infância ou até mesmo a casa dos pais. As comidas são simples, feitas sem receitas usando somente a imaginação e o amor. Quando adultos, ao fazermos um mingau, só o movimento de ficar mexendo para não encaroçar na panela já é um ritual calmante e restaurador. Essa calma não vai se conseguir descongelando uma torta e ingerindo-a diante da televisão.
Receitas da alma
Ao improvisar uma receita, o principal ingrediente é o carinho, que marca o coração para sempre. Claúdio, 52 anos, conta que até hoje quando come bolinho-de-chuva com mel ou pulverizado com açúcar e canela sente a mesma sensação de quando criança. “Todos os sábados, a casa cheirava a bolinho-de-chuva. E para completar a alquimia, minha mãe preparava uma bela mesa com café e leite servidos em grandes canecas de louça. Para mim e meus irmãos era só alegria. Mas, não fica só nisso. O tradicional arroz mole, tem para mim, um efeito relaxante e restaurador. Até hoje é a comida que procuro quando preciso de acalento e da lembrança dos cuidados de minha mãe”, completa Claúdio.
Beleza
No cardápio de afeto, o preparo do alimento é rápido. Ninguém que está com problema quer ficar muito tempo no fogão. Na hora de servir, por exemplo o mingau de aveia, fubá ou de amido de milho, ele deve ser colocado em tigela bonita ou prato fundo também bonito. Peça feia não nutre a alma. O leite quente deve ser servido em caneca grossa. Chá, em xícaras finas ou mesmo de madeira.
Ao serem ingeridos, esses alimentos passam facilmente pela garganta, aquecem o estômago e restauram a vitalidade do espírito.
Quando não se está nos momentos de carências, aguçar o paladar também garante alegria e paz. Quando se está bem, tudo de que se gosta (chocolate, sorvete, torta de amendoim, pão, feijão…) tem o mesmo efeito acolhedor. A preferência muda conforme a situação vivida. “Quando dei meu grito de independência e fui morar sozinha, passava horas fazendo arroz, feijão, almeirão cozido e carne de panela. Foi o jeito que encontrei de matar a saudade de minha mãe”, conta Ana Claúdia, 23 anos, estudante.
Light não
A comida que é feita para o espírito não pode ser ligth. Esqueça as calorias e nem deixe passar por perto a idéia de trocar açúcar por adoçante, manteiga por margarina sem colesterol, leite integral por desnatado, chocolate integral por ligth. Se você já está carente, não vai querer que lhe tire alguma coisa, nem que sejam calorias. No entanto, pequenas quantidades já serão suficientes para saciar a fome da alma. Agora…muita atenção: Não vale a pena se empanturrar para depois cair na culpa, transformar momentos de prazer em punição e se amargar de arrependimentos depois de comer exageradamente arroz-doce. A magia das comidas que curam a alma só se dá quando, ao final, permanece a sensação de prazer. Somente o prazer, mais nada. Pense nisso. Se você ainda não se pegou sentindo a falta dessa comidinha, na próxima depressão pense em alguma aqui citada, que você saboreava na infância e que lhe traz conforto e satisfação. É uma idéia simples, fácil de executar e que só traz benefícios. E, sempre, sem efeitos colaterais!
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236- 9225.