A virada depois da traição

Marilene Volpatti

Quem já recebeu o beijo de Judas sabe o efeito devastador de sentir rejeitado, humilhado, profundamente infeliz. Há maneiras positivas de usar todo esse sofrimento para reconquistar a confiança em si mesmo, e porque não, no resto do mundo

Quase todo mundo já passou pela terrível experiência de ser traído por alguém. Um amigo, um amor, um colega de trabalho. As marcas podem ser profundas ou fáceis de recuperar, mas nem por isso a dor é menor. O pior de tudo é que o traído perde a confiança não só nos outros como no seu próprio julgamento. Fica se culpando por não ter percebido o que estava acontecendo, por ter sido tão cego.

Mesmo que não existam mentiras envolvidas, a quebra da lealdade magoa muito.

Psicólogos explicam que só nos sentimos traídos por aqueles de quem gostamos, com quem temos intimidade e a quem respeitamos. “Se sou uma pessoa totalmente indiferente para você, meu comportamento vai no máximo, aborrece-lo ou irritá-lo. Será encarado como uma dessas coisas desagradáveis da vida e ponto final. Agora, se você gosta de mim, me respeita, a traição vai mexer nas suas estruturas. Não sou a pessoa que você imagina, a relação que existe entre nós não é o que parecia ser. Cada traição representa uma espécie de perda. E mesmo que dê para consertar a situação, a relação nunca voltará a ser como antes”, dizem os psicoterapeutas. Dar a volta por cima não é fácil, pois quer dizer que devemos repensar na nossa visão sobre o mundo.

Torpor

Para se recuperar do baque, as pessoas passam por diversos estágios.

“Meu sentimento ficou como se tivesse morrido alguém muito próximo de mim”, contou Silvia quando descobriu que seu sócio e amigo de infância a estava roubando há meses nas contas do escritório que mantinham juntos. “A única coisa que conseguia fazer era trabalhar para poder resolver o problema imediato do caixa. Quem me conhecia dizia que eu estava reagindo tão bem que nem parecia estar passando por esse tremendo golpe. Eu me sentia anestesiada. Era muito difícil pensar no que tinha acontecido que resolvi me dedicar frenéticamente ao trabalho até ter cabeça para lidar com as minhas emoções”, afirmou.

Quando a situação se ascentou, Silvia trocou o estado de torpor por crise de ódio. Oscilava entre ataque de choro e planos de vingança contra aquele sujeito que durante tanto tempo se disse seu melhor amigo.

Ódio

De acordo com especialistas, sentir ódio é importante para nos curarmos da traição. Trata-se de um direito que temos. Assim como fantasiar as mais variadas vinganças também é mais sadio do que virar a raiva contra nós mesmos, se sentindo um total idiota por não ter percebido o caráter do outro. “Mas cultivar esses sentimentos ruins pode nos fazer mal”, alertam os psicoterapeutas. “O melhor é usar essa raiva para lidar construtivamente com a pessoa e com os problemas que ela nos causou”.

Uma outra cilada é ficar repetindo para todo mundo nossa história, como se a vida tivesse sido injusta só com nós. Abrir o coração com um amigo, tudo bem, mas extravasar o ódio acusando o golpe para a cidade inteira só vai trazer energia ruim de volta para nós.

A atitude mais inteligente diante de uma traição é jogar limpo e enfrentar o outro cara a cara.

Colocar a raiva para fora não quer dizer que o outro vai ver as coisas de nosso jeito ou admitir que estava errado, principalmente no terreno amoroso, é muito difícil a relação voltar a ficar numa boa. Admitir uma traição significa uma mudança das regras estabelecidas. O traidor pode desejar que tudo continue como antes. E não é bem assim. Nesse caso, o outro tem que avaliar se a fidelidade é fundamental a ponto de justificar a ruptura da relação.

Harmonia

“Na hora da raiva, muitas pessoas se culpam. 'O que foi que fiz para que isso acontecesse?’ é a pergunta mais comum e errada” explicam os terapeutas. “A menos que viva sendo traído por todos que o cercam – o que realmente seria um sinal de que o problema está com você – a pergunta deve ser: por que isso aconteceu comigo? E a resposta é: simplesmente porque traições acontecem com todo mundo, em algum momento. Faz parte da vida”.

Mesmo assim, é importante para quem foi traído fazer uma restropectiva e analisar que sinais de perigo deixou passar, sem levar em consideração. Queremos tanto que tudo dê certo, gostamos tanto um do outro que apagamos nossas suspeitas na esperança de que não sejam verdadeiras. Mas depois de vivermos esse drama, ficamos mais atentos para não nos iludirmos novamente com o mesmo tipo de pessoa.

No entanto, se resolvermos investir numa segunda chance, devemos fazê-lo com consciência. Acreditando em uma mudança de comportamento possível e não em promessas absurdas.

Confiança

A pior sequela que a traição pode deixar é a falta de confiança nos outros.

Ficar paranóico, achando que o mundo é de traidores, só faz nos enfraquecer. Todos precisamos fazer aliança para subir na vida. Uma decepção não pode invalidar a experiência. A mesma coisa se aplica aos nossos afetos. Desistir de ter amigos porque um deles nos traiu não faz sentido. É um empobrecimento. Uma perda muito maior.

“O tempo é o melhor remédio para curar as feridas” dizem os psicoterapeutas. “Se você tenta se recuperar depressa demais acaba se expondo a outras traições, pois ainda não está pronto para perceber os perigos. Ou, então, se mune de tantos escudos protetores que ninguém consegue se aproximar”.

É um trauma que faz com que demoremos mais a confiar em alguém. É até positivo, pois, quando nos entregamos, o ato é feito com outra firmeza. Estamos sabendo o que fazemos. Estamos confiando, acreditando no nosso ato.

Serviço:

Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.

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