Marilene Volpatti
Quando sentimos um impulso enorme de falar da vida de alguém, com certeza, é pura fofoca.
Sempre que uma pessoa diz: “nem te conto…”, está avisando que, ao contrário, ela vai entregar com ricos detalhes a história da vida de um terceiro.
É a típica frase que sempre vem acompanhada de um sorrisinho maldoso, com um tom de voz mais baixo anunciando que o segredo é ainda melhor do que se imagina. Qual é a reação do interlocutor? É correto e diz que não se interessa pela vida dos outros? Faz a tipo superior e corta logo? Na maioria das vezes, não! Pelo contrário ajeita-se melhor e apura os ouvidinhos para não perder um puxar de fôlego.
Digamos que a tal fofoca seja divertida e, ainda por cima, cabeluda. Mais que isso, imaginemos alguém, de posse de informação tão surpreendente, não vai resistir a tentação de passá-la adiante, dando um toquezinho a mais aqui e acolá, pois é impossível duas pessoas contarem o mesmo fato de uma mesma maneira.
Com isso está formada a rede de fofocas, com pelo menos dois sentidos, pois o disse-que-disse não só flui de boca em boca como, muitas vezes, pode até se transformar numa perigosíssima armadilha. Trata-se de uma arma poderosa que pode ser usada para favorecer ou destruir alguém. E mais: ao virar um repetidor, a gente imediatamente passa a ser co-autor da fofoca. Uma pessoa medianamente inteligente sabe a diferença entre contar para o companheiro que fulana não toma banho todos os dias e, no intervalo do lanche do escritório, sussurrar que ouviu uma conversa que o chefe está de caso com a secretária.
O primeiro caso é uma estratégia de pessoa ciumenta para derrubar uma possível concorrente. No segundo, vale uma demissão por injúria e difamação.
A fofoca é um costume desde que o ser humano passou a se relacionar e bater longos papos em rodas de amigos.
Falso amigo
O presidente Bill Clinton, por exemplo, ficou em maus lençois porque a moça que se dizia “amiga” de Mônica Lewinsky inventou de gravar as conversas telefônicas sobre seus encontros amorosos na Casa Branca. De modo geral as pessoas públicas sempre foram, são e serão alvos de fofocas, injúrias e calúnias.
Tudo bem, falar de celebridades é fácil e não dói. O problema está naquela fofoca corriqueira, do dia-a-dia que é mesquinha e miúda e que ronda de perto as pessoas comuns.
Quantas vezes depois de um jantar, a conversa escorrega para o mexerico? E a sessão telefone, alguém vive sem ela? Contar e ouvir histórias sobre os outros é quase impossível não fazê-lo. Vejamos por que:
– Saber que outras pessoas cometem erros, gafes, injustiças e qualquer outra coisa não convencional nos faz sentir menos culpados por nossos erros, gafes e injustiças…
– Alivia aquele lado que ficou ressentido e magoado e, muitas vezes, saboreia a vingança de descobrir um ponto fraco em quem causou tanto desconforto. Vale um calmante.
– Somos fofoqueiros inatos, desde pequenos, por volta de 7/8 anos, a agressividade e a competitividade já afloram. Nos meninos, isso é demonstrado nos atos agressivos, como brigas e chutes violentos no irmão ou amiguinhos. Nas meninas, nos jogos de intriga, segredinhos e pequenas traições.
Os meninos quando crescem, já que por natureza não gostam de falar de si, deixam menor margem para comentários da vida pessoal.
As mulheres têm maior familiaridade com o aspecto íntimo das confissões e dos assuntos do coração, portanto, dão mais margens para comentários sobre suas vidas.
Segurando a língüa
Não é porque entendemos um pouquinho o poder e a função da fofoca que vamos liberar total. A fofoca depende essencialmente de três pessoas: de quem conta, de quem ouve e de quem é o assunto. É muito desagradável ser a terceira pessoa, mas pior que isso é ganhar fama de fofoqueiro, passando aquela imagem de quem não tem nada mais prazeroso a fazer, a não ser destruir e caluniar a vida dos outros. Faça um trato consigo mesmo: você pode até ouvir a fofoca, mas não passá-la para a frente. Morda a língüa quantas vezes for necessário para não ter o ímpeto de contar a uma outra pessoa. O resultado vai ser sentido em curto prazo desse gesto compensador, pois é mais uma luta travada contra costumes enraizados que existem dentro de nós, e com isso não corremos o risco de ver o feitiço virando contra o feiticeiro.
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – fone: 236-9225.