A Cultura em Diálogo

Bom dia, desculpem, mas tenho de desabafar: "que saudade do tempo (que não vai muito distante) em que Araraquara era uma cidade limpa".

"Antes de começar o trabalho de modificar o mundo, dê três voltas dentro de sua casa".

Segue entrevista com Liliana e Michele Iacocca, autores do livro De onde você veio. São citações muito inteligentes, você vai gostar.

Liliana, você é brasileira descendente de italianos; Michele, você é italiano e mora no Brasil desde 1964. Como essa mistura de nacionalidades e culturas, que é o tema do livro “De onde você veio?”, se reflete na vida e no trabalho de vocês?

Liliana: Eu sou paulistana, da Mooca, um bairro que sempre foi reduto de imigrantes. Cresci convivendo com essa mistura de culturas e acho fantástico. Tudo isso acabou sendo determinante na minha formação, que considero privilegiada. É como se eu tivesse ganho um pouco de cada parte do mundo. E para passar adiante esse “presente” é que surgiu a idéia do livro.

Michele: Exatamente por ser estrangeiro, eu sinto uma ligação muito forte com o Brasil. Quer dizer, eu me sinto “mais um deles”, num universo muito mais amplo e colorido. O livro para nós é um pouco a expressão disso e uma tentativa de contar para as crianças esta nossa história que é também a história delas.

Logo nas primeiras páginas do livro, surge a pergunta: “O que quer dizer ser brasileiro?”. De que forma vocês imaginam que o livro ajudará o leitor a respondê-la?

Liliana e Michele: As indagações são costumeiras em nosso trabalho. Acreditamos estimular com isso a reflexão, o hábito de repensar e a discussão. O que quer dizer ser brasileiro? É ter um país, uma identidade, uma cultura, ser cidadão e ter consciência disso tudo.

Outra pergunta feita ao longo do livro sempre rende polêmicas: “No Brasil existe discriminação racial?”. Qual a opinião de vocês e por quê?

Liliana e Michele: Sem dúvida nenhuma. De forma declarada, disfarçada ou camuflada, a discriminação existe para uma grande maioria. O que observamos é que tais comportamentos são passados de pais para filhos e a criança e o jovem repetem o modelo, muitas vezes, sem se dar conta.

O livro é um convite para o entendimento e a tolerância, em oposição ao absurdo da discriminação, que gera todo tipo de violência.

O texto do livro critica duramente a exploração indígena e a escravidão. A desigualdade social no Brasil de hoje ainda é reflexo dessas práticas colonizadoras?

Liliana e Michele: Acreditamos que sim. Desde a chegada dos europeus, o Brasil sempre foi mais explorado, saqueado e pirateado do que administrado. Isso refletiu na política, nas relações de trabalho e até nas relações humanas. Daí a enorme desigualdade social, a absurda distribuição da renda e o desprezo das elites pelo povo. E, por conseqüência, a miséria e a exclusão.

As ilustrações de Michele acompanham o texto com humor também crítico. O humor é um aliado importante da reflexão sobre problemas sérios?

Michele: Claro, porque o humor é síntese. É uma forma de “mostrar”, mais do que explicar. É a máquina desmontada, o rei nu.

Que aspectos da cultura brasileira vocês mais admiram?

Liliana e Michele: Para nós a música é a expressão que mais reflete essa riqueza e essa diversidade. Ela veio um pouco de todos os lugares e está presente em todos os espaços, acompanha e dá ritmo ao cotidiano do brasileiro.

Que problemas contribuem para impedir que o brasileiro aproveite melhor sua cultura miscigenada e que atitudes ajudariam a superar preconceitos em relação a essa miscigenação?

Liliana e Michele: De uma forma ou de outra, continuamos sendo colonizados, pela indústria do consumo que faz de tudo para um produto ser vendido. Tanto faz um tênis da moda ou uma manifestação artística. Os jovens que acabam sendo influenciados por isso abrem mão da própria identidade. Por que não se respeitar um pouco mais, aprender a ter discernimento e opção de escolha?

Como vocês imaginam que o livro deva ser trabalhado em sala de aula?

Liliana: De forma aberta, estimulando o debate, a opinião, a discussão e a troca. Para que surjam novas idéias a partir da história contada, para que os verdadeiros valores sejam reconhecidos, dentro de uma proposta de convivência harmoniosa e tolerante, valorizando a diversidade.

O que os pais devem fazer para que seus filhos cresçam aceitando as diferenças culturais que irão encontrar nas ruas?

Liliana e Michele: Respeitar a si mesmo como indivíduos, cidadãos e pais. E passar isso para os filhos. E, ao mesmo tempo, permitir que os próprios filhos levantem questões, apontem saídas ou soluções. Na esperança de que ser isto ou aquilo, desta ou daquela cor, de um credo ou de outro passe a não ter importância nenhuma nas relações.

Como vocês reagem, no dia-a-dia, quando presenciam algum ato de racismo ou preconceito?

Liliana e Michele: Com indignação e perplexidade. Acontece que nem sempre esses atos são claros, eles aparecem no linguajar das pessoas, nas piadinhas, em programas da TV e até nos gestos mais imperceptíveis. Até que ponto esse mal está enraizado na nossa cultura? Nas conversas com nossos leitores discutimos muito o assunto.

Como é gostoso saborear um "bate-papo" com pessoas inteligentes. Adquira o citado livro, vale a pena.

Na próxima semana, voltaremos com outros assuntos importantes.

Mande seu recado ou manifestação celp@terra.com.br

Até lá.

Profª Teresinha Bellote Chaman

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