A maior energia que o homem admite existir no Universo aparece na Bíblia sob o nome Verbo, como pode ser lido no capítulo primeiro do Evangelho de São João. Quem tem uma Bíblia Vozes, católica, ou outra de tradução semelhante, poderá encontrar essa palavra verbo também em Apocalipse 19:13. Tem algo a ver porque, na língua de qualquer país, os verbos são as palavras mais fortes, mais energéticas.
Em nossa língua e nas outras que vieram do Latim (espanhol, francês, italiano, romeno, etc.) a gente menciona o verbo no infinito: amar, fazer, querer, falar, correr, etc. Em inglês, o correto é dizer o infinito, o passado e o particípio passado: “to need – needed – needed”, “to want – wanted – wanted”, “to be – was – been”, etc. Batendo o olho, já se sabe se o verbo é regular ou não. Nos exemplos, o terceiro é irregular (ser ou estar).
Em Latim, o verbo amar é regular e a gente deve dizer “amo – amas amavi – amatum – amare”. Já o verbo querer é irregular: “volo – vis – volui – velle”. O verbo amar não é o verbo mais forte, como muita gente diz. Amar é lindo, mas o verbo mais forte é o verbo querer, porque implica em ter vontade e implica em usar energia para realizar alguma coisa.
A forma verbal latina acima citada “vis” pode ser traduzida como: “quero ou quis”, “tenho vontade” ou “uso minhas energias”. Esse “vis”, que é verbo, deu origem ao substantivo vis e seu correlato vires, significando força, energia, poder, talento, faculdades naturais, virtude.
Jesus falou da energia dele usando uma palavra que a Bíblia traduziu por virtude naquele lance da mulher que sofria de hemorragia vaginal. Jesus estava no meio do povo e ela passou a mão na roupa dele com a intenção de obter a cura. Apesar de estar rodeado por tantas mãos, Jesus falou que dele havia saído “virtude” – exatamente a “energia” que curou o sangramento da mulher, como pode ser lido no Evangelho de Lucas, 8:46.
Meu professor de Latim, no ginásio, ensinava também fábulas. A que mais gostei foi aquela da raposa e as uvas, que até hoje sei de cor. Ela começa assim: “fame coacta vulpes alta in vinea, uvam apetebat sumis saliens viribus…” Pois eu gosto até hoje dessa fábula, não é pela lição dela, mas por causa dessa palavra “viribus”, que dá a idéia de energia.
Pois esse “viribus” é derivado da palavra “vis” e essa frase latina inicial da fábula significa que “a raposa esfomeada queria as uvas que estavam mais altas e saltava com o máximo de sua energia…”
A palavra virilidade, que dá idéia de força, tem a mesma origem da palavra viribus. Da mesma forma, os vírus receberam esse nome porque, embora menores do que os micróbios comuns, como é o caso do tão falado causador da dengue, eles têm uma energia tremenda e terrível, sendo capazes de se esconder dentro de um insetinho e depois sair dele para dominar o corpo enorme de um ser humano como o nosso. Não posso deixar de falar que, enquanto tais vírus estão curtindo a vida dentro do bucho dos ditos insetinhos, temos uma oportuna e facílima chance de liqüidá-los.
Como disse, fiquei gostando da palavra “vis” e seus derivados desde o tempo de moleque. Ao entrar na Faculdade de Medicina, eu fiquei até babando e maravilhado ao aprender que no corpo e na mente humana existem várias energias funcionando, as quais têm exatamente o nome de “vis”.
Vou mencionar algumas dessas forças que existem dentro de nós, presidindo e mandando em seu funcionamento de uma forma encantadora e maravilhosa, igualmente muito mais poderosa do que a gente quer ou pensa que pode controlar.
Existe a “vis a fronte” e a “vis a tergo”, que são as forças que atraem e que impelem, servindo tanto para o apetite, como para a tesão.
Existe a “vis conservatrix” que dá resistência ao organismo para adquirir imunidade e resistência conta infecções e outros ataques.
Existe a “vis formativa” que é a energia da cicatrização e da regeneração dos tecidos e a “vis medicatrix” que é a energia que nos ajuda a obtermos a cura das enfermidades que nos atacam.
E existe a energia mais forte de todas, fortíssima, mas incontrolável por nossa humilde vontade, que é a “vis vitalis”, a energia que nos mantém vivos e que nos estimula ao otimismo e ao interesse em permanecermos vivos.
Essa “vis vitalis” é o chamado alento, que o livro bíblico de Jó 27:3 menciona como o ânimo da vida. É uma energia que ferve dentro de nós e que dá, de forma secreta, a expectativa mental da vida de cada pessoa, em dose própria e personificada.
Acredito podermos dizer que essa energia vital é aquela que Jesus chamou ôvirtudeõ e a mesma que foi soprada no nariz de Adão ao ter sua vida ativada, conforme está registrado em Gênesis 2:7, logo na página 2 da Bíblia.
O grande problema é que nenhum de nós, antes de ter vivido bastante, consegue saber o tamanho de sua “vis vitalis”. Estou mostrando hoje aos leitores a foto da Dona Benedita Rolan de Lima, Avó da Cilene, qualificada por uma tremenda “vis vitalis”. Ela nasceu no dia 29-1-1904 e, sendo muito lúcida em sua contagem, vinha dizendo que em 2002 entraria nos 99 anos e em 2003 irá entrar nos 100 anos.
Há poucos meses, tendo machucado a perna, nós a internamos no hospital da Unimed para ficar em observação. Ela é bem consciente de sua poderosa “vis vitalis” e então disse prá nós: “Vocês podem me levar prá casa que eu não quero ficar aqui ocupando o lugar de outra pessoa que precise de hospital”. Nós ficamos perdidos.
A Cilene e eu não temos a menor idéia do tamanho do “sopro” que foi dado em nossos narizes. Assim sendo, somente nos resta torcermos por nós e também torcermos para que a “vis vitalis” da Dona Benedita Rolan de Lima permaneça forte e acesa. Nós queremos ter a glória de estarmos unidos e comemorarmos, com ela e todos os seus queridos, a entrada nos 100 anos numa gostosa festa e com outras fotos dela, tão charmosas como esta de hoje.