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Vera Botta (*)

Criança Esperança: Marketing e realidade

Dia 12. Domingo. Dia de Nossa Senhora Aparecida, do descobrimento da América, Dia das Crianças. Com a proteção da padroeira do Brasil é das crianças que queremos falar. O que comemorar?

Outdoors abusam da exposição de crianças bem nutridas, com lindos dentes, como se um bom padrão alimentar, saúde, escola, moradia, família estruturada, lazer, cultura, fossem direitos extensivos a todas. De todos os cantos deste nosso imenso país…Campanhas dirigidas ao consumidor, horários especiais do comércio, promoções de vendas, corre-corre nas escolinhas, shows e palhaços, aqui e acolá dão a este dia um tom de alegria, mesclado ao clima primaveril que acentua cores e cheiros, em um convite à festa, à felicidade. Quase como se ela fosse um direito de fato, não produto de imagens fugidias vindas de marketings bem produzidos que associam criança e esperança.

E o que a realidade tem nos mostrado?

Evasão escolar, desnutrição, fome, miséria, prostituição infantil – problema não exclusivo do Brasil, mas que tem crescido em nosso país, atingindo mais de 500.000 meninas – associadas ao crescimento da violência dão um triste quadro da exclusão vivida pelas nossas crianças. O Estatuto da Criança e do Adolescente, promulgado em 1990 representou, inegavelmente, uma importante brecha na luta pela erradicação do trabalho infantil. Entretanto, o Brasil apresenta um dos mais altos índices de trabalho infantil. Este Record está na contra-mão da cidadania???

Por que as crianças trabalham?

Há quem considere que o trabalho infantil educa e é necessário. Basta relembrar a polêmica criada na cidade com a extinção da Guarda Mirim!!! Não importa se em condições de exploração, de insalubridade e até na rota violenta do tráfico, a discussão entre afastar ou não as crianças das atividades do trabalho desdobra-se em dilemas infinitos…Organismos internacionais, como a OIT e a UNICEF distinguem o trabalho explorador e pernicioso socialmente do trabalho que pode ter um papel na socialização infantil. Pode mesmo? Dilemas que se chocam com o princípio “Lugar de criança é na escola”, não mais do que um slogan em muitos lugares da nossa terra.

Um retrato de desesperança

Crianças que deveriam freqüentar as escolas trabalham nas ruas, muitos deles envolvendo-se com as drogas e estando no mundo do crime. Segundo estimativas, as crianças que trabalham para o tráfico de drogas chegam a receber “altos” salários. Os “fogueteiros”, aqueles que soltam fogos de artifício para avisar que a polícia chegou, recebem em torno de R$ 50,00 por semana, os “soldados” que fazem a segurança dos pontos de venda e os “aviões” que vendem cocaína e maconha chegam a receber semanalmente R$200,00. E quando são detidos? Vão para a FEBEM e reproduzem a triste história de “Pixote” no filme e na vida real. Onde ficam os compromissos públicos diante deste triste retrato? No marketing? Ou na busca da realidade?

O que querem as crianças da nossa morada?

Nossa Velha amiga Araraquara tem orgulho de suas crianças. Resolveu como guerreira que é, enfrentar a temida conspiração do silêncio, sem desistir do apelo à alegria para falar como gostaria de presentear suas crianças, sementes do seu futuro. E foi abrindo um sorriso de esperança. “O direito à educação é sagrado”. É possível difundir alegria, bons valores na escola. É possível gerar alegria na escola. Basta ver o trabalho desenvolvido pela Léa e sua equipe na Escola Técnica “Anna de Oliveira Ferraz”. No projeto Escola Aberta lá desenvolvido no último dia 3, o brilho nos olhos dos (as) alunos(as) ensinando a cozinha econômica, a utilização da soja, o prazer do teatro e outros tantos nos traduziu alegria, vontade de levar adiante, esperança.

Como lutar pela mudança do mundo?

“Vamos enfrentar este desafio” e tudo fazer para que este Dia das Crianças estimule, através da educação, a criatividade infantil e dê muitos bons frutos. Falar-lhes da educação ambiental, das doenças sexualmente transmissíveis é possível e necessário.” Não quero só indicações para Prefeitos amigos da criança.” “Quero ações integradas para que, de fato, um grande movimento envolvendo Ong’s, a Pastoral da criança, Empresas amigas da criança – e a Lupo nos dá exemplos neste programa – Conselhos Municipais, todos se unam para construir a realidade da esperança para minhas crianças”… Não precisa nem de muito marketing, nem bastam bonitos slogans. A receita é vontade política, solidariedade, sensibilidade, uma pitada acentuada de crença na importância das crianças, no futuro de nossa cidade. Vamos servir esta receita no cardápio deste domingo? Com direito a ter, de sobremesa, um lindo sorriso infantil. Que fale muito mais do que qualquer outdoor. Que nos toque a alma e o coração!!!

Boa semana a todos! Para os professores, pelo seu dia no próximo 15, meu abraço fraterno. Pela sua luta na educação de todas as idades. Até a próxima!!

(*) É pesquisadora da Uniara e vereadora pelo PT.

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