Vera Botta (*)
Mudanças
Dia de começar a Semana da Mulher. Continuidade de uma luta que provocou massacres e mortes, semeou conquistas e vitórias. Solicitamos Sr. Presidente da Mesa da Câmara Municipal a suspensão da sessão por um tempo. Pedimos passagem para mais uma vez mostrar que mulher e política podem conviver muito bem e que não há razões para fazer de qualquer Casa de Leis a morada de tabus e preconceitos.
E as vereadoras foram chegando, vestindo tons lilás, verde-esperança. Com um brilho no olhar, prontas para um momento especial, não apenas um ritual de sessão da Câmara. Nos entreolhamos. Será que todas deveríamos falar, indagou Deodata. Claro que sim!!!
Somos quase 25% da composição da Câmara, o que mostra que a população quis ouvir a voz da mulher na política. Aumentamos a representação feminina de 1 para 5 em todo o país, a participação das mulheres na vida política na esfera municipal cresceu nacionalmente em 61%. E não foi somente pela obrigatoriedade da lei de cotas mínimas. As mulheres têm mostrado que invadiram legitimamente, ou melhor, conquistaram um mundo tido como masculino para lutar, ao lado dos homens sensíveis, pela igualdade de direitos.
Sessão Feminina
Deodata assumiu o comando, experiente e franca como sempre. Direta, de poucas palavras e de grande sabedoria. E quantas mulheres Deodata já não ouviu no Serviço Especial de Saúde e na Secretaria de Promoção Social?
Edna Martins, batalhadora incansável do Cedro, carro-chefe no enfrentamento da violência em nossa cidade, mais uma vez mostrou que é ainda preciso avançar muito, especialmente na instalação e ampliação das casas abrigos às mulheres vítimas das violências.
Limitei-me a estoriar os espinhosos vais e vens vividos no meu primeiro mandato. Para a mulher entrar na Lei Orgânica do Município como sujeito político, já que o instrumento legal maior da cidade era todo masculino. Início de mandato, a emenda acabou sendo aceita. Será que alguém iria acioná-la? Passado um tempo, a votação sobre um projeto de lei para se enfrentar a situação das mulheres no mundo do trabalho -que não se limita apenas à questão salarial, mas acoberta violências simbólicas e diretas vividas sob a forma de assédio sexual e de muitas outras- foi derrotado. Seguido de comentários do tipo: Mais um projeto sobre mulher? Para que? Zum..zum..zum!!!
A vereadora Helenita resgatou a importância vital das Indústrias Lupo na geração de trabalho e emprego para as mulheres araraquarenses. Uma empresa que faz parte da memória/história viva da cidade. E a homenagem, permeada por vozes discordantes, talvez fora de lugar, mostrou que não é feita de lamentos e críticas destrutivas a luta das mulheres. É hora de ação!!!
A Vereadora Juliana Damus quer, no seu “Momento Mulher”, aprovado em 2001, mostrar em várias dimensões da vida que a praça é das mulheres nos dias 8 e 9 de março, em um requintado esforço em combinar saúde, beleza, justiça, com direito a brindes e Curso de Fuxico. Além do espetáculo, ficam os desafios de se elevar a auto-estima e a auto-determinação das mulheres.
Profissional
Um grupo pequeno de pessoas discutiu no Bairro Santana, na última terça-feira, um tema crucial para os dilemas vividos fora e dentro de casa– “Mães e filhos: o dilema da profissionalização”. Com a participação do Secretário Municipal de Desenvolvimento Econômico, da Secretária de Assistência Social, da educadora Dulce Whitaker, sob minha coordenação, procuramos ver através dos números, caminhos para os jovens se capacitar e ter chances reais de entrada no mercado. Há mais de 500 jovens credenciados no Centro de Capacitação Profissional localizado no Santana, à espera de serem abertas outras parcerias com escolas profissionalizantes. As 4 turmas formadas de “Educação para o trabalho” (120 alunos), programa mantido em parceria com o SENAC, tem nas oficinas dirigidas ao atendimento ao público, à informática, à prevenção, à transações comerciais, claros sinais de esperança. O jovem tem elementos para aprender as perspectivas de mudança de comportamento, o que, por sua vez, atua favoravelmente na restrição da violência.
As vagas não foram suficientes. Temos urgências de outras parcerias! A política de qualificar com critério, pensando-se o perfil do mercado, correta em nossa avaliação, vem igualmente sendo a opção da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Econômico, que referiu-se à perspectiva de mais 400 vagas para a capacitação em mecânica, elétrica, hidráulica. De olho na Embraer!!!
Oxalá, no próximo ano, o nosso diálogo com as mães sobre a profissionalização tenha muitas boas novas… Com uma coisa, todos concordamos: LUGAR DE CRIANÇA E ADOLESCENTE É NA ESCOLA! Por que não ousar em implantar uma escola em tempo integral onde o ensino e a preparação para o trabalho caminhem juntos, foi a sugestão da profa. Dulce, aplaudida com entusiasmo pelo grupo presente, ao qual havia se juntado a vereadora Edna.
Lições de vida: o diálogo com as merendeiras
Fora do programa oficial da Semana da Mulher, diante de um edital publicado e depois cancelado pela Administração Municipal que falava em licitação de empresas especializadas em “novos instrumentos de gestão”, em reunião realizada na Câmara, as merendeiras falaram com a sabedoria de quem vive no dia a dia, de problemas de seu trabalho, de sua saúde, de sua preocupação com a pior qualidade e menor quantidade da merenda escolar, de suas frustrações, de seus sonhos… Nenhum edital poderia captar a riqueza dessa experiência. As merendeiras honraram a Semana da Mulher! Parabéns da Coluna pela lição de vida…
Um abraço em todas as mulheres de minha terra. Anônimas, famosas, todas merecem nosso respeito. A Coluna vai para a Dra. Clara Peckmann Mendonça, exemplo de uma vida de solidariedade e para minha mãe, minha estrela-guia que completaria 90 anos nesta semana. E ela está, com certeza, em um bom lugar. Até a próxima!
(*) É Coordenadora do Mestrado na Uniara e colaboradora do JA.