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Vera Botta (*)

Lutas entrelaçadas: violência, racismo e solidariedade

Lutas que se expressam em vidas humanas. Lutas que têm se traduzido em mortes. Lutas que vêm fazendo vítimas. Lutas olhadas com preconceitos, com medos. Lutas que têm tido um revigoramento com as mudanças no cenário político nacional. Lutas que tiveram nesta semana, marcas significativas de um novo horizonte para nossa Morada da Cidadania.

De quem falo e de que conquistas?

Dia 25 de novembro. Dia Internacional de Combate à Violência contra Mulheres. Como romper este ciclo perverso de ameaça à vida? Como mudar este quadro que tem mostrado incidência de quase 80% de violência doméstica e sexual em adultos e crianças do sexo feminino? Como levar a questão da violência contra mulheres ser objeto de políticas públicas? Com ações afirmativas. Com construções de espaços para abrigar e, mais do que isto, para resguardar emocional, jurídica e psicologicamente mulheres que sofrem agressões e, muitas vezes, são forçadas a voltar para a casa e dormir com os agressores que as espancaram. O que fazer?

Uma luta que vem de longe

1995. A proposta de uma Casa Abrigo para as mulheres vítimas de violência de minha autoria, com apoio do Cedro, da Delegacia da Mulheres, nem chegou a ser votada. Vereadores rejeitaram, com chacota, a necessidade de leis para mulheres. A violência não foi interrompida face ao machismo demonstrado pela Câmara. Dados continuaram a mostrar que a violência crescente nada tinha de retórica. Tinha rostos, marcas, cicatrizes que levaram muitas mulheres ao sofrimento, à dor, à morte emocional e, até mesmo, à morte física.

O Cedro, Centro de Referência dos Direitos da Mulher, muito fez diante desse trágico quadro. A força de sua luta, dessas mulheres corajosas e guerreiras, tendo a vereadora Edna na linha de frente não foi, ao longo dos anos, igualmente retórica. Demonstrou vontade de não cruzar os braços diante de desigualdades que, por longo tempo, pouco sensibilizaram o poder público.

2000: a 1ª aprovação da Casa Abrigo

O projeto da Casa Abrigo navegou em banho-maria em nossa Casa de Leis por cerca de 5 anos. Entre carimbos de inconstitucionalidade, pedidos de vistas, adiamentos. O desdém da Câmara Municipal naquela ocasião não passou incólume. Sentimentos de indignação de muitas e muitas mulheres foram publicizados.

Entre a retórica e a prática, muita água rolou. O projeto da Casa Abrigo foi aprovado em 2000, mas não tinha lugar no orçamento. Parece ter sido aprovado como um ato retórico de homenagem às mulheres, na semana do Dia das Mães, em um ano eleitoral (2000) em que, com certeza, os vereadores sabiam muito bem do peso do voto feminino nas decisões municipais!!!

Dois anos depois: A Casa Abrigo vai virar realidade?

A Casa Abrigo às Mulheres Vítimas de Violência entrou e saiu do orçamento. Parecia um sonho difícil de ser concretizado. Dois anos e meio depois de sua aprovação, chegou à Câmara, no Dia Internacional de Combate à Violência contra Mulheres, o projeto da Casa Abrigo. Com direito de lá permanecer por 6 meses. Com a esperança de levar as mulheres vitimadas a se reestruturarem emocionalmente, podendo reorientar suas vidas. Sob comando do Centro de Referência da Mulher, devendo o Conselho Gestor incorporar representantes do Cedro, da Câmara. Um presente para as mulheres? Basicamente o reconhecimento de seus direitos, a expressão de mudanças no olhar do poder público para a violência e para as mulheres. A Casa Abrigo é uma realidade! Vitória dos homens e mulheres que sempre lutaram por uma cidade cidadã, na qual homens e mulheres pudessem unir esforços para a solidariedade.

E por falar em solidariedade

Dia 1º, Dia Mundial de Luta contra a Aids, será marcado em nossa cidade por uma campanha maciça de prevenção levada adiante pela Faculdade de Ciências Farmacêuticas e pela Prefeitura. Em um pacto de solidariedade. Com direito a usar e abusar do laço vermelho, símbolo de comprometimento na luta contra a Aids. O laço vermelho, escolhido por causa de sua ligação ao sangue e à idéia de paixão, tem o significado simbólico de um convite. Como bem disse o dr. Pizzolito na Tribuna Livre: “Venha participar dessa luta”.

E o GASPA, como vai?

Vivendo cotidianamente lutas e atos de amor. Sob comando de voluntários que atuam nas mais diversas áreas, desde limpeza até atendimento aos portadores. O Gaspa sofre os efeitos do corte dos 250 passes. Os problemas financeiros não tiram do grupo a vontade de fazer, de ir além. De ver com esperança a ampliação do leito-dia no Pronto Atendimento da Vila Xavier. Um grupo que tem me dado inúmeras lições de vida e que levou-me a conhecer e admirar, do fundo do meu coração e de minha alma, a Dra. Clara Peckmam Mendonça, guardiã maior dessa luta solidária. A ela, minha admiração e renovadas homenagens!! Clara, luz, nunca se deixou intimidar pelos preconceitos que cercam a luta contra a Aids.

E por falar em preconceitos

O Dia da Consciência Negra teve desdobramentos. O Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo foi aprovado na Sessão de 25 de novembro. Para enfrentar as pressões, direta ou dissimuladamente enfrentadas pela nossa população negra. O ato mutilador da morte de Zumbi não eliminou a continuidade da resistência. Mesmo porque a utopia não tinha e não tem preço. A homenagem a Zumbi e a todo movimento negro tem, na proposta do Conselho Municipal de Combate à Discriminação e ao Racismo, novos sinais de alento. De expressão viva de nossos sonhos e utopias e de rejeição a todas as formas racistas e violentas.

Boa Semana a todos! A temperatura do ar esquentou ainda mais na última Sessão. Questões de sucessão da Mesa em pauta. E viva a democracia! Até a próxima!

(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.

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