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Mãe: bate coração, bate forte!

Vera Botta (*)

O sentimento de ser mãe, inigualável me faz querer abraçar a todas as mães de Araraquara – mães de sangue, de adoção, escolhidas por afinidade com carinho, com solidariedade. Com vontade de vê-las felizes.

Ser mãe é sofrer no paraíso? Filhos só dão trabalho? Que nada! Sofrimentos e lidas mesclam-se a prazeres, à vontade de tê-los por perto. De cuidar de um vínculo que não se acaba nunca. Que nos faz mães, nos armar de coragem, mesmo de rebeldia quando se trata de defender nosso fruto maior, nossos filhos.

O que querem as mulheres-mães?

Querem segurança para melhor enfrentar a violência que perpassa o campo doméstico e chega às ruas, ameaçando a vida de seus filhos. Querem programas de segurança nas escolas, baseados em ações preventivas e educativas continuadas. Querem ser ouvidas em suas carências e necessidades. Querem ver o Programa de Primeiro Emprego implantado, para que seus filhos não fiquem ao Deus dará, sem acreditar no futuro. Querem ter chances de matriculá-los em cursos de capacitação profissional. Querem ver seus filhos longe dos apelos das drogas. Querem ter o direito de trabalhar e encontrar vagas nos CERs, nos quais enfrentam um círculo vicioso: sem registro em carteira, não têm direito à vaga e sem vaga, não podem encontrar emprego.

A quem me refiro?

Às mulheres que vivem a angústia diária de ver seus filhos jovens barrados no mercado de trabalho. Às mulheres que vivem atemorizadas com a ronda do tráfico de drogas e da violência. Às mulheres que querem ver os seus filhos portadores de necessidades especiais tratados sem preconceitos. Às mulheres que são discriminadas pela cor. Às mulheres assentadas que querem ter o direito de serem reconhecidas como produtoras rurais.

Falo às mulheres de distintas trajetórias de vida que têm, em comum, um sentimento de amor maior.

Na Câmara, homenagem à algumas mulheres.

A idéia nasceu. Foi ganhando corpo na preparação da Semana Municipal da Mulher, em março. Os atalhos burocráticos foram providenciais. Na semana do Dia das Mães, dia 10, a Câmara se abre para homenagear, em nome de Olinda, Nazaré, Haidée, Catarina, Clara, Dulce, exemplos de coragem e de amor, todas as mães-mulheres de Araraquara.

Mulher-vanguarda

Se ainda é forte o atributo de que mulher e política não combinam, imaginem no início dos anos 50!! Olinda, que mora em Araraquara desde 1937, nunca se intimidou com olhares preconceituosos. Fundou uma Associação Feminina com o objetivo de organizar as mulheres na luta pelas reivindicações dos bairros, contra a carestia e aumento dos impostos. Foi da sua cabecinha que surgiu a idéia do Comício da Panela Vazia realizado na praça Pedro de Toledo, em 1954. Dois anos depois, vencendo as impugnações da sua candidatura, foi eleita suplente de vereadora. A primeira mulher a assumir tal cargo.

Consciência Negra

Tive o prazer de ter Nazaré como aluna no curso de Ciências Sociais. Seu sorriso largo, olhos atentos, sua presença marcante. Sua indignação de ver o lugar subalterno imposto às mulheres negras através de imagens construídas.

Nazaré tem pautado sua vida pela resistência e inserção no movimento negro. No Grupo Gana, no Festival Comunitário Negro Zumbi – Feconezu, nos vários espaços de luta, Nazaré tem dito: presente!

A benção da vida

Quantas crianças nasceram pelas suas mãos? Parteira por mais de 50 anos, participou do nascimento de milhares de araraquarenses. Escolheu ser parteira por vocação. Catarina não precisou aprender seu ofício na escola. Cultivou o dom recebido, mostrando em horas difíceis, momentos alegres ou tristes, sabedoria e dignidade.

Voltada à justiça

De quantas lutas participou Haydée? Incontáveis. Pensemos em como se empenhou para que fosse implantado o Conselho Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente. Tanto na presidência deste Conselho, quanto na luta pela conscientização de que a criança e adolescente são sujeitos de direitos, tem sustentado sua opção de vida. De servir à comunidade.

Na condição atual de presidente do CEDRO, tem lutado bravamente pela cidadania, contra a violência.

Educadora nata

Quem faz com paixão, faz bem. Dulce precisou esperar a criação de um curso superior em Presidente Prudente onde morava para fazer Ciências Sociais. Voltou aos bancos escolares, casada, mãe de duas filhas. Tem feito da luta pela educação pública e pela cidadania, o norte de sua vida. Injustiças sempre a inquietaram e a puseram em ação. Dulce é exemplo a ser seguido. Há 25 anos vem formando jovens pesquisadores. Em nossa parceria no estudo de assentamentos rurais, tenho aprendido com Dulce que travessias implicam em carregar pedras e semear flores.

Sabedoria e solidariedade

O currículo de Clara Peckmann tem muitos títulos, conquistados com distinção e louvor. Competente e empreendedora, transformou os Centros de Pesquisa em referência nacional. Foi dela o trabalho de concepção e instalação de laboratórios de Análises Clínicas e do Núcleo de Hemoterapia que tantos serviços vêm prestando à comunidade. Nos 10 últimos anos, no apoio ao portador de HIV/AIDS, na coordenação do Gaspa, no trabalho de conscientização e prevenção, tem aberto portas de solidariedade de um fazer desinteressado. Não foi diferente a sua atuação à frente da Secretaria Municipal de Saúde. Sem meios termos, Clara é verdadeira luz.

Às mães-mulheres de Araraquara, meus melhores comprimentos. Pelas lutas vencidas e a vencer. Pelos espinhos. Pelas rosas. Pela esperança!

Ao Gustavo, luzinha da minha vida, dedico esta coluna. Até a próxima!

(*) É Coordenadora do Mestrado da Uniara e colaboradora do JA.

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