Vera Botta (*)
É Natal … Vamos brindar à vida
Tempo de enterrar mágoas. De se abrir à solidariedade. Tempo de pensar que a vida é mais do que exibicionismos e lutas estéreis pelo poder… Tempo de pensar nos valores que nos movem… Tempo de refletir por que muitas vezes vivemos como autômatos, de olho no relógio, sem nos dar, sem espaço para receber… Talvez seja no Natal que nossas carências fiquem mais expostas… Brindamos sem perdoar, abraçamos sem afeto, muitas vezes por medo até de nos sentirmos inferiores por demonstrar sentimentos, fraquezas…
Como fazer “renascer” o Natal?
“Mudemos nós e o Natal. Abaixo Papai Noel, viva o Menino Jesus! Em vez de presentes, presença – junto à família, aos que sofrem, aos enfermos, aos soropositivos, aos presos, às famílias das vítimas de crimes, às crianças de rua, aos dependentes de drogas, aos deficientes físicos e mentais, aos excluídos. Façamos da ceia cesta a quem padece de fome e do abraço laço de solidariedade a quem clama por justiça. Instalemos o presépio no próprio coração e deixemos germinar Aquele que se fez pão e vinho para que todos tenham vida com fartura e alegria”.
Palavras de Frei Beto que nos tocam a alma. Que nos levam a querer abrir as portas de nosso coração à fraternidade, à solidariedade, ao respeito com o outro e a nós mesmos. Que apontam para aquela política alimentada por princípios. Onde não existe espaço para meias verdades. Onde o ideal não se negocia.
Neste momento, acima das dores de se desmontar gabinetes, esvaziar gavetas e de se fechar ciclos, que prevaleça a vontade de sentirmos os que vivem ao nosso lado… Que continuemos a tecer sonhos, cultivar mudanças não de fachada, mas de essência que busquemos semear a justiça… Que possamos – Oxalá!!! – romper, de fato, com todos os ciclos mesquinhos dos individualismos!!! “Feliz Natal a todos que sabem voar sem abrir asas e abrem caminhos com os próprios passos”.
Um convite à solidariedade
Tive inúmeras lições na Câmara. Infelizmente, a voz de comando não é a do interesse coletivo… Disputas pelo poder levam pessoas a se afastarem de valores, de princípios. Disputas levam o Legislativo a não ter, em todas as situações, a independência desejada. Pipocam relações de servilismo aqui e acolá…
Em contrapartida, o contato com a população nos põe, face a face, com carências exacerbadas e escancaradas…. Carências do ter, do ser… Como fazer?
Sem receitas mágicas, gostaria de desejar à nova Câmara que deixem espaço para a solidariedade. Que não ceda à pura ambição. Que semeie a cultura dos direitos… não a dos favores… Que pense na população não como capital eleitoral… Que prevaleça o respeito, a dignidade, a ética… Que a miséria alheia na seja alimento para a perpetuação da mediocridade na política. Que os apelos do Executivo, por mais sedutores, não sejam aceitos sem um diálogo franco, aberto, transparente… Que não haja espaço para trocas quando se trata de direitos… à vida… à liberdade de pensamento e de expressão…
E aos araraquarenses, do fundo do coração…
Quero desejar um Natal de paz, de amor, de serenidade… Que possamos substituir o ter pelo ser… Que sejamos receptivos uns aos outros, sem temores, nem rancores… Que possamos aprender com todos aqueles que nos cercam. Sem medo de nos envolver, nos dar, nos doar… Esforçemo-nos para compartilhar a vida em sua plenitude. Que neste Natal façamos uma reflexão profunda sobre tudo aquilo que faz ou não sentido para nossa vida. Que possamos brindar a vida verdadeiramente. Sem máscaras, mas com nossa verdade.
“Neste Natal, não quero o Papai Noel das promoções comerciais, da ceias, dos presentes caros embrulhados em afetos raros. Neste Natal, dispenso abraços protocolares e sorrisos sob medida, sentimentos retóricos e emoções que encobrem a aridez do coração. Neste Natal, não me interessam as oscilações dos índices financeiros, as promessas viciadas dos políticos, os cartões impressos a granel, cheios de coloridos e vazios de originalidade. Quero o amor sem dor , a oração só louvor, a fé comungada no sabor de justiça”.(Frei Betto)
Quero os araraquarenses unidos por um sentimento intransferível, o de serem herdeiros do Sol, de sua irradiação bem aventurada. A Coluna fica por aqui!!! Desejando a todos muita paz no coração e multiplicidade de afetos sinceros entre todos. Que o Novo Ano nasça semeando ternura em todos os lugares, até mesmo onde as pedras buscam sufocar as flores. Até o próximo ano!!! A Coluna Veracidade deixa de circular por um mês, mas volta, se Deus quiser. Com fé e com verdade!!!
(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.