Va Pensiero

André Naves (*)

Domingo, 6 de outubro de 2024. Agora, 8:30. Já votei. Meus grandes amores: Ana Rosa, Democracia e Ópera.

Algumas coisas fora do comum têm acontecido aqui em São Paulo. Tenho valores extremamente sólidos. Quem me conhece, sabe bem que eu acredito nos valores da família, do trabalho, da disciplina, mas, acima de tudo, na Alteridade e na Esperança. Para mim, a Utopia é a Luz no horizonte que, ainda que nunca chegue totalmente, inspira nossos passos. Nós, indivíduos, devemos ter o direito de sonhar, de acreditar no amanhã, de nos tornarmos o melhor de nós mesmos.

Mentira, malandragem, marginalidade e maledicência… essas barbaridades não são, nem nunca poderão ser, admitidas. No dia em que isso acontecer, os princípios que fundam o templo de nossa civilização serão conspurcados e reduzidos a pó! Nosso pensamento, que voa com suas asas douradas, ficará aprisionado nas masmorras da indignidade e do medo. E o preconceito, dejeto marginal, impede o florescimento social!

No sábado, 05 de outubro, Ana Rosa e eu estivemos no Theatro Municipal de São Paulo. Fui assistir à ópera Nabucco, de Giuseppe Verdi. É a minha ópera favorita, e por um motivo extremamente interessante e ímpar: nela, o coro, a voz do Povo, é a “personagem” mais importante.

A história narrada é conhecida: o rei assírio Nabucodonosor invade Jerusalém, profana o Templo, leva os hebreus para o cativeiro babilônico, mas termina por se ajoelhar ante o Altar do Altíssimo e libertar os judeus para a reconstrução de sua própria Utopia Divina. Assim como em todos os clássicos, não há spoiler aqui. A beleza se sustenta em como aquela obra é contada, cantada e recontada. Todo mundo sabe, ou pode saber, de Romeu e Julieta, de Dom Casmurro ou de O Guarani, por exemplo. Eles jamais perderão a graça.

Na verdade, sempre tenho medo de que a mediocridade vença e nosso pensamento seja reduzido aos fragmentos cortados das redes sociais. Se isso acontecer, estaremos perdidos e os pilares que sustentam nossa cultura serão destroçados. Perderão a graça! Mas isso é outra história…

Voltando… O Povo tem posição central. A voz popular parece até guiar os passos das personagens. Aliás, toda a vez que ouço o coro popular, já liberto, cantando Va pensiero sull´ali dorate…, que coisa arrepiante! É a Utopia, sob forma de Jerusalém e Sião, de um novo mundo com que se sonha, e que será construído. Pedra a pedra, palavra a palavra, som a som.

PESSOA A PESSOA!

Fica a pergunta: será que não conhecemos Deus pelo cântico popular? Pela poesia do povo? Pensamentos que são música e mostram os caminhos da Liberdade, da Inclusão e da Justiça…

Todos… Juntos!

(*) É Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos, Inclusão Social e Economia Política. Escritor, professor, ganhador do Prêmio Best Seller pelo livro “Caminho – a Beleza é Enxergar”, da Editora UICLAP (@andrenaves.def).

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