Texto: Prof.ª Dr.ª Terezinha de Jesus Bellote Chaman
“[…] o grande desafio presente no mundo de hoje, de cujo enfrentamento a família deve participar, refere-se à formação de pessoas que possam influir em transformações radicais para uma sociedade justa, solidária e ética. (JOSÉ FILHO M., 2002 p. 95).
Eis o papel da educação. Eis o papel do educador.
Parece que viver o presente seja a regra dos nossos tempos, finda é a época de sonhar, de contemplar. Surge então uma profunda sensibilização pela temporalidade do homem no mundo. E o homem, centro e plenitude do universo, se revela como uma grande atividade, um esforço, uma procura, uma tensão presente, endereçada ao futuro.
Assumindo o momento presente e permanecendo com o olhar do coração fixo nas coisas do alto, retorno aos idos de 1976… 1986. Ainda quartanista do curso de letras, aceito o desafio ao convite de Odyssea Nunes. Foram 10 anos de trabalho intenso, nas áreas de Gramática, Interpretação de Texto, Literatura Portuguesa e Brasileira. E nesses anos, muito se plantou, quanto se construiu! Famílias, amizades, almas amigas/irmãs, nascidas do ir além das fronteiras da informação, do ir além… muito além. Fontes vivas se cruzaram, fontes vivas irriquietas, autênticas, incitando-nos, cada vez mais, a uma entrega maior, a um desvelo maior, a uma comunhão crescente, comunhão de espírito, comunhão de saber, comunhão de intelecto, de razão e de coração.
E como me fortalece encontrar essas mesmas fontes vivas, hoje homens e mulheres formados, atuantes… águas vivas… pela vida afora… nunca águas estagnadas.
E, nesse caminhar de 10 anos, uma turma fez a diferença, peço licença aos demais, pois essa turma acompanhei por 6 anos consecutivos: da 6ª série ao terceirão BA. E os coloco, agora, no centro da conversa, lembrando que só se é capturado no afeto.
“É pela palavra que o ser humano se define em relação ao outro, à coletividade. A palavra é como uma ponte que se apoia sore mim em uma extremidade e, na outra, sobre meu interlocutor… A ponte que une a palavra do ‘eu’ com a palavra do ‘outro’ pode ser sólida ou precária…; a vida esconde armadilhas inconscientes que preparamos para nossos próprios passos em direção ao outro… Somos todos frágeis seres humanos, aflitos em busca do amar e do ser amado. Nosso olhar precisa estar atento para que não prevaleça mais hostilidade do que ternura, mais sofrimento do que alegria, mais ódio do que amor”. Bazzoli (2010 apud MIOTELLO, 2010, p. 177 – 180).
Uma turma que fez a diferença…
Palavras voam… escritos ficam… para sempre!
Existe sempre um momento, um tempo, para tudo embaixo do sol. Sim, existe!
Assim iniciei uma matéria, publicada no caderno Memórias de Araraquara, Jornal A Tribuna, agosto de 2010. E nesta linha de pensamento, prossegui meu discurso em 1986, dirigido a uma plêiade de jovens, educação ilibada, caráter já, de boa formação àquela época. Confesso que fiz essa publicação com o único intuito da salientar os valores daqueles jovens, todos na flor da idade. Eles eram especiais. Nada mais justo. Passados 24 anos, relembrar aqueles instantes finais de nossa jornada não deixa de ser um fato da memória. Transcorridos mais de 30 dias, recebo um telefonema. Que surpresa boa! Era a Kika, dizendo que muitos alunos daquela turma, lendo aquele discurso (e publiquei apenas um terço dele), voltaram no tempo e disseram: “somos nós”. E um foi ligando para o outro… e para o outro… e mais um, foi “pipocando”, como se expressaram. Praticamente todos leram e lembraram-se daquele momento final de colação de grau: saudades…
Mas não parou por aí. Resolveram, como fazem há algum tempo, reunir-se para bater papo, trocar ideias, experiências, falar da vida. Imagino… como faziam no idos de 86. Marcaram encontro no Tijuca Choperia (uma bela casa, por sinal). Fui convidada. Convite este que aceitei prontamente. Não ia deixar de comparecer. Ou vocês acham que eu iria perder a oportunidade de rever os meus queridos, os meus amores, como os chamava? NUNCA… A alegria foi tamanha: a Oíse, a Kika, o Márcio, o Marcelo, a Eloisa, a Juliana, a Flávia, a Patrícia, o Zakaib, a Ana e o Henrique (o terceiro BA tinha 47 alunos).
Lá estavam e me receberam com uma alegria que jamais esquecerei, enquanto viva for. E com direito a ramalhete belíssimo de copos-de-leite, brancos como a alma daqueles com quem convivi desde 1981. E ainda, uma imagem de Nossa Senhora do Sagrado Coração, um livro e um cartão assinado por todos eles, onde se lê:
“Não sei se a vida é curta ou longa para nós, mas sei que nada do que vivemos tem sentido, se não tocamos o coração das pessoas.
Muitas vezes basta ser: colo que acolhe, braço que envolve, palavra que conforta, silêncio que respeita, alegria que contagia, lágrima que corre, olhar que acaricia, desejo que sacia, amor que promove.
E isso não é coisa de outro mundo, é o que dá sentido à vida. É o que faz com que ela não seja nem curta, nem longa demais, mas que seja intensa, verdadeira, pura enquanto durar. Feliz aquele que transfere o que sabe e aprende o que ensina”. (CORLINA C.).
Acreditem, meus jovens, de coração, após aquela acolhida, reafirmo, com a obrigação de completar a frase: vocês foram uma turma que fez e ainda faz a diferença…
Obs.: Estava terminando de escrever minha coluna, em 2010, quando recebi um e-mail do Guilherme Correia, desculpando-se por não estar presente. Afina,l ele estava em Curitiba. Não poderia encerrar sem citar duas de suas frases: “Recomeçar sempre…” “Deixo aqui um muito obrigado por tudo o que você fez por nossa turma e por mim em especial. Não falo somente no ensino escolar, mas na contribuição muito importante para a formação humanística de cada um de nós”.
Para mim, educar é isso… ficar para sempre na mente, no coração e… acima de tudo… nos atos concretos daqueles pelos quais você passou como simples Professora de Língua Portuguesa e de Literatura, por seis anos consecutivos.
A vocês a vitória de um caminho percorrido, com fé e confiança. Prossigamos, mas… vamos juntos, de mãos dadas, nutrindo esperanças. O mundo é tão vasto… não nos afastemos muito… Vamos, à maneira de Drummond, de mãos dadas.
Parabéns ao Colégio Progresso, nos 100 anos de vida.
Foto: Henrique Santos