Ética e espiritualidade

(*) Benedicto Ismael Camargo Dutra

Ética é o estudo dos juízos de apreciação referentes à conduta, susceptível de qualificação do ponto de vista do bem e do mal. Porém, para examinarmos a ética humana deveremos ir mais fundo: até às origens da vida, pois as categorias do bem e do mal variam de sociedade para sociedade e da época em que estão inseridas. Então, que ética poderá surgir sem que haja um denominador comum e aceitável, de forma irrestrita?

No passado longínquo a humanidade recebeu os Dez Mandamentos para que não se desviasse em sua conduta. Mas as pessoas não reconheceram seu significado e importância para que pautassem suas vidas dentro de uma ética com alcance espiritual. O autor da Mensagem do Graal, Oskar Ernst Bernhardt, conhecido pelo seu pseudônimo Abdruschin, menciona em seu livro “Os Dez Mandamentos” que os seres humanos não demonstraram interesse nas exigências feitas pelo Criador. Ao invés de buscar a compreensão do propósito da vida, a civilização ocidental estagnou espiritualmente, disseminando uma ética dogmática, fazendo um corte com o passado e abandonando as raízes do saber.

Os Dez Mandamentos, submetidos a uma nova interpretação, se transformaram apenas em mais uma tarefa escolar que as crianças abandonam ao se tornarem adultas. Assim, a vida material se desligou da espiritual como se fossem independentes. Com a habilidade do raciocínio, o lado material resvalou para a conduta insensível que possibilitou a implantação da lei do mais astuto. Todos os setores da vida ficaram contaminados e, aos poucos, a permissividade foi aceita como normal.

Os seres humanos se sentiram donos do Planeta, quando na verdade apenas o habitam. Sem uma ética na utilização dos recursos naturais, as condições de vida ficaram ameaçadas. Os danos ao meio ambiente tendem para o agravamento, sendo provável que passemos a brigar por alimentos, água potável ou energia no futuro próximo. A solidariedade poderá ser substituída pela luta pela sobrevivência, prevalecendo a lei do mais forte ou daquele que estiver mais bem armado.

Os poderosos sempre falam em ética, mas ocultamente praticam a corrupção, acobertados por falsos discursos. Após os sofrimentos da Segunda Guerra Mundial havia a esperança de que a sociedade caminharia para um patamar mais elevado. Mas não havia o verdadeiro desejo de que a vida se orientasse para o bem geral e para a preservação do meio ambiente. Então surgiu a ética do dinheiro, que se sobrepõe a tudo.

Atualmente a população vê a desenfreada ação dos especuladores, sem que nada os detenha. Vê as empresas buscando o máximo lucro. Vê os políticos tirando o máximo proveito. E, em contrapartida, não vê um interesse maior na criação de condições que propiciem o desenvolvimento. Desiludido, o homem de bem se afasta da política e os malandros se aproveitam. O mundo afunda. Falar em ética se tornou um diálogo de surdos.

Sem a busca dos princípios espirituais, o ser humano se afasta de sua essência e se transforma em máquina insensível. Nada mais é sagrado. A mentira e a simulação se tornaram armas dos poderosos. Assim, a miséria e o sofrimento tomaram conta do Planeta. Miséria espiritual que acarreta miséria material sem precedentes, como resultado da atuação humana em desacordo com as leis da Criação. A verdadeira ética exige que a humanidade se volte para a sua essência espiritual, reconhecendo o significado da vida e o funcionamento das leis naturais. Somente assim poderá surgir o genuíno ser humano.

(*) É graduado pela Faculdade de Economia e Administração da USP, articulista e colaborador de jornais de São Paulo e realiza palestras sobre temas ligados à qualidade de vida. É um dos coordenadores do www.library.com.br, site sem fins lucrativos, e autor de livros sobre espiritualidade. E-mail: bidutra@attglobal.net

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