Teste o seu Português nº 52

Terezinha Bellote Chaman (*)

"Antes de começar o trabalho de modificar o mundo, dê três voltas dentro de sua casa".

Carlos Drummond de Andrade. Poeta maior, poeta de meu coração! Nesta última semana estive no Rio de Janeiro a passeio. Não pude deixar de fazer o que todo turista faz: passear pelo calçadão de Copacabana. Lá estava ele… Drummond… imponente, fase serena, como a convidar-me para sentar-me a seu lado. Exatamente isso que fiz. E ainda mais, meu filho tirou uma foto. Que saudade do eterno Carlos Drummond de Andrade.

A propósito, Federico Ferino escreveu uma crônica sobre Drummond e o calçadão de Copacabana. Vale a pena ler.

No banco dos réus

A estátua de Carlos Drummond de Andrade no calçadão de Copacabana é um pequeno ato de justiça poética. Lá está ele, sentado num banco, como um transeunte qualquer que saísse à tarde para dar um passeio no calçadão e sentisse doer-lhe os dedos dos pés. Classicamente sedentário. É verdade que nunca foi andarilho, como Gonçalves Dias, homem de sensibilidade oceânica e grandes espaços abertos. Mas também sabia que nosso céu tem mais estrelas e nossa vida mais amores. Sou do tempo do Brasil literário de Drummond. Naquela época, ainda havia poetas. Ele não era o único, é claro. Tinha a Cecília Meirelles. Tinha o Vinícius. Tinha o Manuel Bandeira. Tinha o Jorge de Lima, o Murillo Mendes. E a gente abria a revista e lá estava a crônica canora do Rubem Braga. Ou o texto culto e matizado do Paulo Mendes Campos. A leveza direta do Fernando Sabino e a leveza enviesada da Clarice Lispector. Mas nenhum brilhante faiscava como a poesia de Drummond. Bandeira e Vinícius que me perdoem, mas aquilo era novidade absoluta no português brasileiro. Um crítico literário iniciante ou um estagiário de jornal podiam destemidamente compará-lo a Dante ou a Shakespeare. Não havia perigo de errar ou cair no ridículo. Ninguém acharia absurdo. Hoje não. Hoje, qualquer um põe em dúvida o seu legado literário, o seu lugar na hierarquia das nossas musas. Impunemente: ninguém reclama. Por que em Copacabana? Drummond, rigorosamente mineiro, era também carioca de Copacabana. Ali viveu os últimos anos, os anos de medalhão – ou, como ele próprio diria, os anos de incerta medalha. Ali morreu, de infarto fulminante e de irremissível desolação. Pouco antes perdera a filha única, Maria Julieta. Morreu inconformado com as perdas, porque os ombros não suportam as dores do mundo. O Drummond perpetuado em bronze nada tem de marinheiro ou de náufrago. Vivia à beira-mar, como o próprio Rio, mas também como o Rio não era marítimo. Era serrano. O poeta está de óculos e relógio de pulso. Não sei se em vida usou relógio. Talvez sim. Não nos esqueçamos de que era funcionário público exemplar. Lá estão a testa alta, de intelectual de caricatura, e os óculos de míope, atributos de sua persona pública, como a timidez e a pedra no caminho. E o relógio? Vá lá, o relógio de pulso. Em todo caso, já não precisa ver as horas: virou eterno. E o tempo já não lhe soma, o tempo já não lhe subtrai. Há quem reclame da sua posição de costas para o mar, como se ignorasse a formidável presença do Atlântico – o oceano terrível, o mar imenso com suas vagas mordendo a fulva areia. Pode um poeta de alto coturno, um poeta de homérica altitude, dar as costas acintosamente para o mar oceano? Lembremo-nos de que ele vinha de Itabira. E, se não era um Göethe roseano, era, certamente, o mais machadiano dos sertanejos.

Carlos Heitor Cony é categórico: Drummond jamais ficaria de costas para o mar. Nem mesmo para a areia; quanto mais não fosse, pela nudez feminina das praias cariocas. Disse Cony numa crônica que Drummond, quando desiludido com os semelhantes, sentava-se num banquinho. De frente para o Atlântico, à procura de um ponto de fuga, de um horizonte de conciliação. Nessas ocasiões talvez abafasse um soluço, talvez lhe escorresse uma lágrima silenciosa. Esta é a diferença: estátuas não choram.

Belo, belo, belo… você não acha, caro(a) leitor(a)?

Vamos ao nosso "Teste o seu Português" de hoje.

1 – Qual das frases abaixo tem uma palavra inadequada?

a – Vou desafiá-lo para um jogo de cartas.

b – Vou usar tanto a faca, até desafiar seu corte.

c – Vou desafiar o leão com vara curta.

2- Fazemos questão de _____________ os atletas Olímpicos! Parabéns, vocês _____________ nosso país.

a ( ) homenajear – enobressem;

b ( ) homenagear – enobrecem;

c ( ) homenagiar – enobrescem.

3 – Vamos ______ bem alto o _________ de nosso país.

a ( ) issar – labaro;

b ( ) isar – labaru;

c ( ) içar – lábaro.

4 – Além de utilizar termos ______, queria aplicar um __________ em seu amigo. Pode uma coisa dessas?

a ( ) chulos – xaveco;

b ( ) xulos – chaveco.

5 – Allan, você não acha que deve pedir a ____________ de tempo, no programa Food Service TV?

a ( ) extenção;

b ( ) estensão;

c ( ) extensão;

d ( ) estenção.

6 – Em São Paulo, depois de uma ___________, tive de ___________ toda a minha roupa.

a ( ) enxente – enchugar;

b ( ) enchente – enxugar.

7 – Qual das frases abaixo está adequada?

a – Após a derrota, o técnico vai repensar a formação de sua equipe.

b – Após a derrota, o técnico vai repensar de novo a formação de sua equipe.

8 – Meu amigo, deixe de tanta _________!

a ( ) basófia;

b ( ) bazofia;

c ( ) bazófia;

d ( ) basofia.

9 – Aquela empresa possui um ___________ fantástico de seus produtos.

a ( ) porta-fólio;

b ( ) portfólio;

c ( ) portfolio;

d ( ) portifolio.

10 – Foi uma _______ do garçom. Apresentou um ___________, em branco, para o cliente.

a ( ) gafi – cardápiu;

b ( ) gafe – cardápio.

(*) Professora de Língua Portuguesa, com especialização em Lingüística de Texto. Mestre em Comunicação pela UNESP de Bauru – SP e Doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC – SP, Jornalista e produtora do quadro "Teste o seu Português", Programa "Chef" Allan, o Mestre-Cuca – CNT – Central Nacional de Televisão.

Respostas:

Resp 1.: b – A inadequação está na frase:

Vou usar tanto a faca, até desafiar seu corte.

Desafiar (= propor desafio, provocação).

Resp 2.: b – Fazemos questão de homenagear os atletas Olímpicos! Parabéns, vocês enobrecem nosso país.

Enobrecer (= dignificar).

Resp 3.: c – Vamos içar bem alto o lábaro de nosso país.

Içar (= alçar, erguer, levantar).

Lábaro (= bandeira, pavilhão, estandarte).

Resp 4.: a – Além de utilizar termos chulos, queria aplicar um xaveco em seu amigo. Pode uma coisa dessas?

Chulo (= grosseiro, baixo, rústico).

Xaveco (= conversa fiada).

Resp 5.: c – Allan, você não acha que deve pedir a extensão de tempo, no programa Food Service TV?

Extensão (= aumento, ampliação).

Resp 6.: b – Em São Paulo, depois de uma enchente, tive de enxugar toda a minha roupa.

Enchente (= inundação).

Enxugar (= secar).

Resp 7.: a – Após a derrota, o técnico vai repensar a formação de sua equipe.

Repensar (= reconsiderar).

Evite a forma: repensar de novo. Repensar já é pensar de novo.

Resp 8.: c – Meu amigo, deixe de tanta bazófia!

Bazófia (= vaidade).

Resp 9.: b – Aquela empresa possui um portfólio (porta-fólio) fantástico de seus produtos.

Portfólio (porta-fólio) do inglês portfolio (= material variado que se utiliza para apresentação profissional).

Resp 10.: b – Foi uma gafe do garçom. Apresentou um cardápio, em branco, para o cliente.

Gafe (= ato impensado e desastrado).

Cardápio (= relação de pratos).

OBS.: Colunista semanal dos jornais Diário do Grande ABC (SP) e Jornal de Araraquara (SP), Jornal Independente – Dois Córregos (SP), Tribuna do Norte – Natal (RN), Jornal de Nova Odessa (SP), Diário da Franca – Franca (SP) e Diário de Sorocaba – Sorocaba (SP) – Jornal de Itatiba – Itatiba (SP) – O Liberal Regional – Araçatuba (SP) – Diário da Serra – Tangara da Serra (MT).

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