Teste o seu Português (653)

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Prof.ª Dr.ª Terezinha de Jesus Bellote Chaman (*)

Penetra surdamente no reino das palavras.
Lá estão os poemas que esperam ser escritos.
Estão paralisados, mas não há desespero,
há calma e frescura na superfície intacta.
Ei-los sós e mudos, em estado de dicionário.
Convive com teus poemas, antes de escrevê-los.
Tem paciência, se obscuros. Calma, se te provocam.
Espera que cada um se realize e consume
com seu poder de palavra
e seu poder de silêncio.
Não forces o poema a desprender-se do limbo.
Não colhas no chão o poema que se perdeu.
Não adules o poema. Aceita-o
como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada
no espaço.
Chega mais perto e contempla as palavras.
Cada uma
tem mil faces secretas sob a face neutra
e te pergunta, sem interesse pela resposta,
pobre ou terrível, que lhe deres:
Trouxeste a chave? (ANDRADE. 1987, p. 186-187).

Optamos por abrir essa coluna com um fragmento de A procura da poesia, já que segundo o poeta, não se pode tirar poesia das coisas e nem fazer versos sobre acontecimentos, mas deve-se concentrar toda a energia na contemplação das palavras, com suas mil faces secretas, sob a face neutra. Ao ler Drummond, Cabral, que se julgava incompetente para a poesia, descobre que ela pode ter uma outra dicção: a do verso contido e seco, quase gaguejado, em que o sentimento é subjugado pela inteligência. “A poesia elide sujeito e objeto”, pontua Drummond (1987, p. 186). Nessa linha de pensamento, assentindo ao convite do poeta, cada qual usa e contempla a palavra a seu modo. O que privilegia a informação e a rapidez, o testemunho e a verdade; o que não dispensa a fantasia, a metáfora, o jogo linguístico. Um e outro parecem dicotomizar a relação jornalismo e literatura, informação e sensibilidade.
“Que se dissipou, não era poesia. Que se partiu, cristal não era” (DRUMMOND, 1987, p. 186). Palavras são como cristais, com faces e gêneros com propriedades diversas. Palavras são utilizadas por jornalistas e escritores. É a dinâmica e a multiplicidade da linguagem. O fato de jornalistas e escritores utilizarem a palavra com diferentes ajustes e técnicas não exclui da linguagem sua vocação: a de aspirar à totalidade dos significados.
Ilustremos a ideia com a experiência de Euclides da Cunha, Graciliano Ramos, João do Rio. O que fizeram eles, senão romper os limites canônicos estabelecidos? E o que nos revelaram ao agirem assim? Revelaram-nos que comunicação é literatura, que literatura é comunicação. Disseram-nos, nas mil faces secretas das palavras, que o jornalismo, ao aproximar-se da literatura, camuflando-se nela, desnuda-nos todo o seu valor de arte híbrida, mestiça e complexa. E essa dimensão não é recente na história do jornalismo, se nos reportarmos ao ano de 1470, na Inglaterra, com a publicação de Livros de Notícias (newsbooks ingleses). Alguns anos depois, Charles Dickens, também na Inglaterra, faz levantamentos de tipos humanos e linguagens como ponto de partida para construções literárias. Também não se deve estranhar o fato de a Cultural Studies valorizar tanto a literatura, como fator importante de entretenimento da cultura midiática da época. E o que dizer de Honoré de Balzac? Certamente terá, com sua técnica, inspirado o New Journalism norte-americano dos anos 1960 e 1970. Quanta contribuição da literatura ao jornalismo, quanta palavra compartilhada. Que bela convivência!
(Fragmento da Dissertação de Mestrado apresentada para a obtenção de título de Mestre na área de Comunicação, UNESP/Bauru – 2005, CHAMAN, T. J. B).

Teste o seu Português

01 – Que lindos cabelos! Ela deve usar um bom _______.
a ( ) shampoo;
b ( ) xampu;
c ( ) champu;
d ( ) shampu.
Em um bom português, qual a alternativa correta?

02 – É delicioso saborear um ____________, no friozinho.
a ( ) cappuccino;
b ( ) capucino;
c ( ) capuscino;
d ( ) capuxino.
Qual a forma aportuguesada da palavra?

03 – Adoro um bom molho à base de ____________. Que delícia!
a ( ) champignon;
b ( ) xampignon;
c ( ) champignom;
d ( ) champinhom.

04 – O paletó do seu marido estava todo ____________.
a ( ) engrovinhado;
b ( ) engruvinhado;
c ( ) ingrovinhado;
d ( ) ingruvinhado.

05 – Ficamos todos __________ com o ___________ que os rapazes aprontaram.
a ( ) perplequesos – xarivari;
b ( ) perplexos – charivari.

06 – Todos sofremos com a ___________, em época de safra de cana.
a ( ) foligem;
b ( ) fulijem;
c ( ) fuligem;
d ( ) folijem.

07 – Pelé fez mais de mil ______, em toda a sua carreira de jogador.
ATENÇÃO: existe alguma resposta inadequada?
a ( ) golos;
b ( ) gols;
c ( ) gois;
d ( ) gol.

08 – ____ estepe é o pneu ____________ disponível em um veículo.
a ( ) O – sobressalente;
b ( ) A – sobreçalente.

09 – Você sabe o nome que recebe o local destinado a o pouso de helicópteros?
a ( ) heliporto;
b ( ) heliponto.
Preste atenção!

(*) Pesquisadora do GEPEFA – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Famílias – UNESP/Franca.

Respostas

Resp 1.: b – Que lindos cabelos! Ela deve usar um bom xampu.
OBS.: A forma aportuguesada xampu corresponde ao inglês shampoo (forma usada com menos freqüência).
Resp 2.: b – É delicioso saborear um capucino, no friozinho.
Capucino (= bebida preparada com café, leite, chocolate e canela). Borba 2004, à p. 236.
Cappuccino – palavra italiana.
Resp 3.: d – Adoro um bom molho à base de champinhom. Que delícia!
Champinhom (= cogumelo comestível).
Champinhom, do francês champignon.
Resp 4.: b – O paletó do seu marido estava todo engruvinhado.
Engruvinhado (= amassado, amarrotado) Borba 2004, à p. 498.
Resp 5.: b – Ficamos todos perplexos com o charivari que os rapazes aprontaram.
Perplexo (= espantado, assustado).
Charivari (= tumulto, balbúrdia, confusão).
Resp 6.: c – Todos sofremos com a fuligem, em época de safra de cana.
Fuligem (= substância preta produzida por combustão).
Resp 7.: a – b – c –Pelé fez mais de mil gols (gois ou golos), em toda a sua carreira de jogador.
Obs.: O plural usual de gol é gols.
Gramáticas tradicionais e dicionários recomendam a forma gois.
O plural golos tem uso raríssimo, porém está correto. (Neves 2003).
Resp 8.: a – O estepe é o pneu sobressalente disponível em um veículo.
CUIDADO: a estepe designa um tipo de vegetação.
Resp 09.: a – b – As duas respostas (heliporto e heliponto) são válidas, desde que você faça uma distinção (Borba 2004):
Heliporto: campo ou área destinada especialmente ao pouso e à partida de helicópteros.
Heliponto: espaço para pouso de helicópteros (= ponto de helicópteros).

OBS.: Colunista semanal dos jornais Diário do Grande ABC (SP) e Jornal de Araraquara (SP), Jornal Independente – Dois Córregos (SP), Tribuna do Norte – Natal (RN), Jornal de Nova Odessa (SP), Diário da Franca – Franca (SP) e Diário de Sorocaba – Sorocaba (SP) – Jornal de Itatiba – Itatiba (SP) – O Liberal Regional – Araçatuba (SP) – Diário da Serra – Tangara da Serra (MT).

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