Elaine Ribeiro (*)
O fim de ano leva muitas pessoas a refletirem sobre suas vidas: o que foi feito, o que ainda pode ser realizado e as necessidades não alcançadas. Esse momento de balanço também desperta pensamentos sobre solidariedade, que se torna mais visível em ações voltadas aos necessitados, como asilos, lares de crianças, hospitais e moradores de rua. Muitas pessoas se voluntariam para promover festividades natalinas, doações de roupas e outras iniciativas.
Nos últimos meses do ano, a coletividade tende a se unir com mais intensidade. A época das festas traz uma sensação de renovação e reflexão sobre o ano que passou, e muitos se sentem impulsionados a contribuir para causas sociais. As campanhas de arrecadação, que envolvem doações de alimentos, brinquedos, roupas e até dinheiro, demonstram o impacto positivo dessas ações, com imagens de crianças sorrindo ao receber presentes ou famílias reunidas ao redor da mesa.
Esse movimento de solidariedade é bonito, com grupos anônimos, associações de amigos, empresas e até condomínios promovendo ações para ajudar o próximo. No entanto, surge a questão: por que esse espírito de ajuda desaparece após as festividades? Como garantir que a solidariedade não seja algo restrito ao final do ano, mas que se torne parte da rotina ao longo de todo o ano?
Movimentos como o Natal Solidário e a atuação de voluntários em hospitais e abrigos geram um ciclo de compaixão e engajamento coletivo. Porém, após as festas, muitos retornam à rotina habitual e a preocupação com os outros vai diminuindo. As campanhas de arrecadação perdem força, e o sentimento de urgência que o Natal traz desaparece, restando apenas boas intenções e promessas de ajudar mais no futuro, sem compromisso contínuo.
O grande desafio é transformar a solidariedade em uma prática constante, não limitada a uma época. As necessidades das pessoas em situação de vulnerabilidade não desaparecem com o fim das festas, e o que é urgente em dezembro continua sendo necessário nos meses seguintes. É essencial que a sociedade mantenha essa consciência ao longo do ano.
Repensar a solidariedade como uma prática diária é o primeiro passo. Pequenos gestos podem ser transformadores: ajudar alguém com uma tarefa, oferecer um prato de comida a quem precisa ou doar um pouco do tempo para ouvir o outro. Tais atitudes já geram um impacto positivo. As empresas também têm um papel importante, podendo desenvolver programas de responsabilidade social que atuem durante todo o ano. Apoiar instituições de caridade, promover capacitação para pessoas em vulnerabilidade ou fomentar a inclusão social são ações que podem ser mais eficazes quando não são limitadas a uma época do ano.
Do ponto de vista individual, a solidariedade pode ser integrada à rotina de forma simples e sem sobrecarregar. Doações regulares, como roupas, alimentos ou dinheiro, podem ser feitas de maneira planejada. Organizar o armário e doar itens que não são mais usados, por exemplo, pode ser um hábito periódico que faz a diferença. Participar de grupos de voluntariado ou apoiar negócios sociais são outras maneiras de se envolver.
A verdadeira diferença para a construção de uma sociedade mais justa e igualitária está na continuidade das ações solidárias. A generosidade não precisa ser um ato isolado, mas parte de um movimento coletivo ao longo do ano. Em tempos de desafios globais como pobreza, fome, violência e desigualdade, a solidariedade é essencial para a mudança. Pois, quando as pessoas se unem por uma causa comum, o impacto é muito maior.
O fim de ano, com sua atmosfera de fraternidade, é um momento propício para a reflexão e ações solidárias. No entanto, a transformação real ocorre quando conseguimos levar o espírito de generosidade para o cotidiano, fazendo da solidariedade uma prática constante. Se incorporarmos essa mentalidade, não apenas em datas comemorativas, contribuiremos para uma sociedade mais empática e justa. Que o espírito de solidariedade que surge no final do ano se mantenha vivo e ilumine todos os dias do ano.
(*) É psicóloga clínica e organizacional da Fundação João Paulo II / Canção Nova. Instagram: @elaineribeiro_psicologa. Site: Elaine Ribeiro.