Antonio Delfim Netto (*)
“Criar empregos e combater a fome”… para que o país não continue sendo “uma nação injusta, assistindo passivamente o sofrimento dos pobres”. Esses objetivos citados no discurso de posse, que o Presidente Luís Inácio Lula da Silva prometeu perseguir com verdadeira “obsessão” em seu governo, podem parecer piegas numa leitura apressada, mas sendo realizados produzirão o “salto de qualidade” que os brasileiros pediram nas eleições de outubro.
Foi um discurso duro e realista na abordagem das condições sociais e da insegurança em que vive a maioria da população, empobrecida nos últimos dez anos de baixo crescimento da economia, de aumento do desemprego , de queda dos salários, e de piora na distribuição de renda. Ao mesmo tempo um discurso comovente na simplicidade com que o Presidente assume a sua condição de retirante da fome no Nordeste brasileiro, mas também de toda uma trajetória de pobreza e luta vitoriosa no sudeste industrializado, de metalúrgico e líder de trabalhadores à Presidência da República.
Essa árdua e longa trajetória imprime autenticidade à sua fala quando se compromete a empenhar seu governo numa guerra sem tréguas à miséria, pedindo paciência mas também garantindo persistência até que possa produzir as mudanças “sem atropelo”. Há uma grande dose de realismo tanto do Presidente quanto de sua equipe econômica, no reconhecimento que a erradicação da fome e a redução da pobreza não dependem do aumento de gastos com os chamados “programas sociais”, mas antes com políticas que estimulem o setor privado a expandir a produção e criar empregos.
É evidente que a prioridade do combate à fome vai exigir um tratamento à parte em matéria de gastos, mas isso não significa que tenhamos que recorrer a recursos fora do exercício da programação orçamentária nos limites aprovados pelo Congresso Nacional.
A diretriz – a meu ver correta – para o ano de 2003 é buscar o equilíbrio fiscal pelo lado do corte das despesas públicas, que reduz a demanda do governo. É o oposto do que realizou o governo FHC que foi leniente com as despesas do governo, aumentou impostos e a dívida publica e elevou os juros, cortando a demanda do setor privado e portanto inibindo a produção que garante os empregos e reduz a pobreza.
O discurso inaugural do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de linguagem sóbria e forte conteúdo, sem devaneios retóricos a que estivemos submetidos nos últimos tempos, nos estimula a acreditar que seu governo promoverá as mudanças que ajudarão a retomada do crescimento e do emprego, que é a forma eficiente de acabar com a fome e permitir a melhora efetiva dos padrões de vida dos cidadãos brasileiros.
E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br