Reginaldo Galli (*)
Tinha carradas de razão o falecido Magalhães Pinto, banqueiro, mineiro, maneiro, matreiro e, no cenário no poder nacional, conceituadíssimo líder. Filosofando, dizia: “a política é como as nuvens, você olha agora, elas estão de um jeito, volta a olhar daí a pouco, o desenho já mudou”.
Vi e ouvi o pronunciamento de Lula na última segunda-feira, ao abrir solenemente a instalação da nova legislatura federal. No momento mesmo de sua fala, das palavras candentes com que buscava conclamar os congressistas a não regatearem esforços patrióticos aos projetos de seu Governo, a marcharem decididos e sem fracionamentos partidários em busca dos ideais de nosso povo, deu-me um estalo. Voltou-me às retinas e aos tímpanos um outro Lula, de pouco tempo atrás, o Lula que qualificava seus ex-colegas como “aqueles trezentos picaretas do Congresso”! Será que frei Beto operou o milagre de converter esses reles varões e de absolvê-los, purificá-los e fazê-los abjurar as despudoradas condutas? Terá o fiel e devoto dominicano logrado ministrar-lhes o salvacionismo petista? Qual terá sido a dura penitência sussurradamente recomendada no confessionário planaltino? Em verdade, em verdade vos digo: precisei beliscar-me para sentir-me!
Francamente, surrealismo deve ser isso! Quem diria, por exemplo, que Paulo Salim Maluf, desafeto número zero do PT, desistisse “sponte sua” do processo que sustentava contra Lula, por haver sido mimoseado (em público e com toda a imprensa ali testemunhando) com a pecha de LADRÃO? Logo ele, a quem a prefeita Marta Suplicy só se referia e refere como “O NEFASTO”? Quem diria que Delfim Netto, o mago das finanças, amaldiçoado no regime discricionário, subscritor de Atos Institucionais, viria a cair, agora, nas graças do PT, a ponto de ser convidado para integrar comissão especial de assessoria a ninguém menos que o próprio Presidente da República?
Quem diria que os escorraçados Sarney, ACM e Quércia passariam a merecer rapapés dos neo-governistas, estes mesmos que sempre os chamaram de grileiros, entreguistas e corruptos, afora delicadíssimos palavrões?
Destaque
Pelo enorme sucesso no carnaval de 1968, Sérgio Porto recebe hoje minhas homenagens. Seu admirável samba, de cujo enredo… ou falta dele… a narrativa acima é mero plágio, vem esquentar, de novo, cuícas e tamborins .Evoé!
“Foi em Diamantina, onde nasceu JK,
que a princesa Leopoldina arresolveu se casá,
mas Chica da Silva tinha outros pretendentes
e obrigou a princesa a se casá com Tiradentes.
Lá-iá-lá-iá-lá-iá,
O bode que deu vou te contá!”
(*) r.galli@uol.com.br é colaborador do JA.