Uma atividade tão rara quanto indispensável
devido ao nosso clima tropical.
Texto: Ernesto Lia
A restauração é um trabalho árduo e ao mesmo tempo gratificante embora não tão reconhecido no nosso país como uma profissão; ainda hoje, a atividade de restaurador é bem difícil.
É na verdade um trabalho que abrange fatores responsáveis pela degeneração material de um quadro, entre eles o problema do suporte, que juntamente com a tela fica estendido num chassis de madeira.
O suporte, em geral, torna-se enfraquecido, o que pode ocasionar o apodrecimento do chassis, quando então é necessário um reentelamento.
Outro fator é o estado da pintura, é importante e faz-se à base de gesso-cola que com isso se desprende da tela, danificando a pintura (esta ocorrência é um dos processos normais de envelhecimento).
A tela, por sua vez, pode ter sofrido um desgaste pela limpeza excessiva. Também o verniz que, com o tempo sofre um processo de escurecimento e requer tratamento cuidadoso, pode causar problemas.
É comum quadros chegarem a ficar completamente escuros, sendo impossível de se ter uma visão normal da pintura.
Após a limpeza no entanto tem-se a impressão de tela nova, de trabalho recente.
Nosso clima úmido acelera o envelhecimento dos quadros. Num país tropical como este, de grande variação climática, as precauções são importantes. Os museus por exemplo precisam ter salas hermeticamente fechadas com desumificador e temperatura diferente para cada tela, bem como condições ideais de luz.
Realmente aqui, o envelhecimento de telas é precoce e os museus principalmente precisam estar devidamente aparelhados para compensar os fatores externos. Tome-se por exemplo a localização do Museu de Arte Moderna, no Rio de Janeiro, situado em frente ao mar e onde as telas podem sofrer os danos da maresia. Com as más localizações principalmente, o estrago das telas é considerável, cria-se mofo nos papéis e assim a parte do preparo da tela sofre um deslocamento mais rápido e, além disso, ainda temos que combater o problema do cupim que acaba com a madeira, destruindo não só a moldura como a própria tela. É tão comum encontrar cupim em nosso país.
Infelizmente estamos longe de atingir o nível de restauração europeu, onde a tradição artístico-cultural do povo faz a valorização do profissional, o que justifica valores sempre muito maiores aos que temos visto por aqui, além da infra-estrutura do ensino altamente especializado.
Tivemos na verdade um pioneiro que, com muita seriedade, dirigiu a restauração em nosso país. A época foi marcante no mercado de arte, por volta de 1974 a 1976, Mesmo assim ainda temos bons restauradores… mas raros.
Assim sendo as pessoas passaram a ter maiores preocupações com seus quadros, e os próprios “marchands” percebendo a enorme especulação em torno dos objetos de arte cuidaram de procurar bons profissionais. Dessa forma todo o movimento de Arte foi benéfico para a pintura, já que os colecionadores resolveram zelar pelos seus autores preferidos, transformados em verdadeiras fortunas.
É muitíssimo importante pois que as autênticas obras de arte recebam o devido cuidado de conservação.