Antonio Delfim Netto (*)
Não repercutiu nos meios de divulgação como merecia a descoberta de uma formidável reserva de gás natural no litoral de Santos, semana passada. As estimativas indicam a existência de um volume aproximado de 420 bilhões de metros cúbicos, elevando as reservas brasileiras a 650 bilhões, que eqüivalem à metade das reservas da Bolívia, cuja utilização em nosso mercado tem exigido pesados investimentos na rede de distribuição devido principalmente à distância dos principais centros consumidores. Isso faz com que o acesso ao gás boliviano tenha um custo para a nossa indústria 25% superior ao do gás natural brasileiro, extraído basicamente do litoral do Rio de Janeiro.
A relevância maior desta descoberta, portanto, é que ela se situa na proximidade dos mais importantes centros consumidores de energia e da ainda modesta rede de gasodutos do país, abrindo a possibilidade de solução para alguns dos graves problemas que desarticularam nossa matriz energética devido à falta de investimentos no setor durante a década passada. O abandono do planejamento estratégico para o desenvolvimento, uma das mais sinistras marcas daquela década, resultou no desperdício de uma das maiores vantagens comparativas que o Brasil possui, que é a geração da energia limpa das hidrelétricas, a baixo custo.
O “apagão” que em 2001 puniu a nossa imprevidência, a par de custar ao país dois pontos percentuais de crescimento do PIB (um módico desinvestimento de 18 bilhões de reais …) nos obrigou a montar apressadamente um plano emergencial para a construção de termelétricas. Um projeto que a médio prazo só poderia gerar a energia suja do óleo combustível e que está paralisado principalmente pelos altos preços do gás.
O gás natural tem a vantagem de ser menos poluente, além de ter uma eficiência térmica superior ao óleo e ao carvão. Hoje, ele representa algo como 8% apenas da oferta de energia às indústrias e residências. Estimativa da ministra Dilma Rouseff, de Minas e Energia, admite que ela pode subir a 20% nos próximos anos. O aproveitamento do gás natural de Santos, se fizermos os investimentos corretos, pode se tornar o fator predominante para a reconstrução da matriz energética nacional.
Abre-se portanto uma nova frente de investimentos que terá importância decisiva para a aceleração do desenvolvimento brasileiro, com oferta de energia que garanta o barateamento dos custos de produção e a conservação do meio ambiente.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br