Marilene Volpatti
A auto-estima em baixa pode gerar mais conflitos do que um escorregão de uma amizade muito querida.
Carlos é bonito e cheio de vida, tem um emprego de causar inveja a qualquer um e é apaixonado por Carlota, carioca de origem, com quem morava junto. Não fosse seu temperamento, teria a vida que pediu a Deus. Armou o maior barraco com a garota pelo fato dela deixar a calcinha pendurada no banheiro, ao invés de colocá-la no varal da área de serviço. Com muita fúria, disse que era melhor ela voltar para o canto dela, pois aquele era o dele. O “X” da questão, porém, era totalmente outro. Carlota havia dito, à ele no dia anterior que passaria uns dias no Rio com a família, e ele estava com medo que ela não mais retornasse. Em vez de admitir seu temor, deixou-se tomar por raiva, tentando convencer-se que odiava aquela mulher, e não que a amava.
Por trás de uma cena como essa, esconde-se a insegurança, um mal mais comum do que se imagina.
Os acessos de fúria podem estar escondendo outro sentimento profundo e dolorido, que é o pânico. Quem, em algum momento da vida, não se viu invadido por idéias tenebrosas? Por exemplo: o marido que chega tarde, a esposa que sai com amigas e demora para voltar, o filho que não chega da noitada… Quando a pessoa, finalmente, retorna o outro se joga nos braços e diz: “Graças a Deus você está bem. Estava apavorado pela sua demora”. Em vez disso, em geral, escondem o pânico atrás da raiva: “Onde você estava? Custava telefonar para avisar que ia se atrasar?”.
Inadequação
Pessoas com auto-imagem negativa costumam iniciar discussões sob os mínimos pretextos. Claro que não querem destruir o casamento, mas, ficam tão transtornados que acabam fazendo justamente isso.
Esperança
Depois de vivenciar uma situação complicada com um companheiro e um rompimento dolorido, Elza saiu em busca de uma relação mais positiva. Encontrou Fernando, divertido, lindo, inteligente, carinhoso e sensual. Elza não se empenhou para manter o relacionamento, brigava por qualquer motivo. Estava acostumada a uniões tumultuadas. Não se achava digna de ser amada por uma pessoa como Fernando, por isso as brigas. Se ela revelar sua insegurança, a imagem viril que faz de si mesma vai ficar abalada. Portanto, o melhor que ela acha que pode fazer é explodir por qualquer coisa, por mais banal que seja.
Fúria
As brigas repentinas, muitas vezes, têm a ver com a raiva acumulada e contida contra nós mesmos – ou nossos pais, por exemplo – do que com situações presentes.
Muitas pessoas cresceram ouvindo: “Não seja malcriado”. Sendo assim, sentem-se mal expressando sentimentos negativos. A conseqüência é o acúmulo de ressentimentos. Sem válvula de escape, a fúria se manifesta de formas indiretas e destrutivas, implicando com a pessoa amada, esquecendo-se de seu aniversário ou deixando estragar a roupa preferida. Assuntos secundários, eventualmente, geram os conflitos mais estridentes.
Dicas para deixar brigas de lado
a) Procure manter sempre o bom humor. Quando perceber que está prestes a explodir, tente se desarmar, pense em alguma coisa boa que aconteceu em sua vida. Conte até mil.
b) Não fuja das discussões. Em vez de ir guardando mágoas até explodir por uma pequena bobagem, discuta o que tiver que discutir no momento exato e com bom-senso.
c) Quando estiver numa dicussão acirrada não corte o pensamento, vá em frente, mas, com consciência do que está dizendo. Coloque tudo para fora, o alívio virá em seguida.
d) Numa discussão, a agressão verbal não só eleva a temperatura do ambiente como também o escurece. A agressão física traz a escuridão total. Ataque somente o assunto, nunca a pessoa. A agressão física faz parte de indivíduos desajustados emocionalmente.
e) Tente ser pacífico. Agressividade ampla, geral e restrita leva à negação dos verdadeiros sentimentos. Portanto, seja claro e direto. Explique o que está incomodando, sem receios.
f) Fale sempre por você. Comece a frase dizendo “eu” em vez de “você”. Dizer que ficou preocupado com o atraso é melhor do que dizer: “Você não se preocupa comigo, por isso chega tarde em casa”.
g) Reconheça suas falhas. À medida que aprende a reconhecer os verdadeiros motivos de uma briga, vai deixando de lado as agressões. Se escapar uma alfinetada, vez ou outra, contorne a situação dizendo algo parecido: “Fiz novamente, o que não deveria ter feito. Não é nada disso”.
h) Se chegar a conclusão de que foi longe demais, peça desculpas. Essa atitude, de imediato, joga água na fervura e acalma os ânimos. Se assumir pelo menos, parte da culpa, pode até inspirar o outro a se dobrar também.
E lembre-se: mais vale uma boa colocação adulta do que uma briga de foice no escuro.
Serviço
Consultoria: Drª Tereza P. Mendes, Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.