Antonio Delfim Netto (*)
É claro que existe um estado de tensão entre o governo e uma parte do PT, entre o Presidente Lula e um pequeno grupo de radicais do Partido dos Trabalhadores. A ilusão deles é pensar que venceram a eleição, quando foi Lula quem ganhou a eleição com um programa novo, apresentado de forma convincente à Nação com o nome de Carta aos Brasileiros. Um programa que nada tinha a ver com as velhas idéias que o PT defendeu durante anos e com elas foi derrotado nas duas eleições anteriores.
Há descontentes com o fato que Lula está honrando o programa de prometeu realizar no governo e que eles enxergam equivocadamente como mera continuidade da política praticada no segundo mandato tucano, sob a inspiração salvadora do FMI. Na verdade, Palocci reforçou o ajuste fiscal, sem cair na tentação de afrouxar a política monetária apenas para acalmar a agitação dos grupos radicais. E nestes dois anos operou na direção de reduzir o constrangimento externo e criar as condições da retomada do desenvolvimento. Há necessidade de mudanças no mix das políticas fiscal e monetária que certamente vão ter que ser consideradas no curto, curtíssimo prazo. É um ganho extraordinário, no entanto, certificar que o foco de toda a política voltou a ser a aceleração do desenvolvimento: não é exagero comemorar o abandono do viés anticrescimento que orientou as políticas governamentais dos últimos anos.
A grande dificuldade desses radicais é compreender a natureza do processo de mudança, que não é tão sutil assim. Trata-se de um grupo barulhento, de gente honesta, até mesmo ingênua, que acredita que se pode produzir o milagre da multiplicação dos pães, bastando ter, apenas, a "vontade política". São muito poucos para impor a sua vontade, dez ou doze membros dentre 90 deputados da mesma origem, constituindo algo como 2% da Câmara, mas acostumaram-se a agir como maioria. É aqui que mora a tensão. O PT inteiro representava 20% e depois da vitória de Lula continuou sendo 20% na Câmara. A minoria radical vai demorar um pouco, mas acabará aceitando a idéia que Lula se elegeu porque apresentou um novo programa, convencido que com aquele programa antigo do PT era impossível dar conta dos problemas brasileiros.
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