"Procura, antes de tudo, pregar com tua vida e costumes; não seja dos que dizem uma coisa e fazem outra".
Bom dia. Hoje é o dia, a hora é agora! Provavelmente, depois da leitura desse semanário, você vá cumprir a sua obrigação de votar na eleição de hoje.
As opções estão aí lançadas. Todos nós, brasileiros, vamos escolher o que julgamos ser o melhor para o nosso país. Vamos mudar ou continuar do mesmo jeito? Você vai escolher por aqueles que fizeram parte da camarilha que vimos? Ou vai dedicar seu voto a alguém que aparentemente tem bons propósitos e deseja tornar esse país mais digno? Você vai optar por um governo ou por um desgoverno? Seu candidato pelo menos sabe se expressar em um bom português? Você tem coragem de votar em um candidato que foge de um debate? Você pretende votar em candidatos que sabidamente não têm nenhuma possibilidade de ir para o segundo turno? Em quem você vai votar? Contra ou a favor do BRASIL? Enfim… a decisão é única e exclusivamente sua. Mas pense… pense bem!!! Um presidente e um governador devem ser pessoas sérias, honradas e comprometidas com a verdade e com o nosso povo. Parece-me que existe uma boa opção. Ainda temos de escolher deputados federais, estaduais e senadores. Aí é fácil. Você pode escolher aquela que dança, ou aquele outro que já esteve na cadeia, ou ainda aquele que a mulher acabou com a vida dele. Existem também aqueles engraçados. O do avestruz, o Raul Seixas não sei da onde, o gordinho do Fat Family. Quem vai se esquecer dos clássicos "meu nome é Enéas", ou então "peroba neles". Existe até um senador "emergência". É… para esse cargos está difícil. Mas com certeza deve haver alguém que valha a pena. A sorte está lançada.
Reflitamos, lendo o texto que segue:
Cautela com a laborlatria
Uma das boas memórias de quem já teve o prazer de mergulhar na produção satírica de Mark Twain – pseudônimo do escritor norte-americano do final do século 19, Samuel Langhorne Clemens – é, sem dúvida, a narrativa da cerca a ser forçadamente pintada pelo menino na obra-prima As aventuras de Tom Sawyer. Em um dia de sol inclemente, à beira do Rio Mississipi, quando tudo chamava para a brincadeira e o lazer descompromissado, eis que surge a convocação compulsória para o trabalho e não há alternativa que o garoto possa encontrar, a não ser tornar todo aquele fardo algo com um dissimulado ar prazeroso e, mais ainda, convocar e convencer outros que deveriam ajudá-lo com satisfação.
Em um determinado momento, procurando livrar-se da atividade e, até, ganhar algum dinheiro com aquilo que desejava que outros fizessem em seu lugar, aparece o argumento de que "trabalho é tudo aquilo que uma pessoa é obrigada a fazer… Passatempo é tudo aquilo que uma pessoa não é obrigada a fazer".
Pouco mais de um século após, um compatriota de Twain, o cartunista Bob Thaves, desenhou uma de suas instigantes tirinhas que tem como personagens Frank & Ernest, os desleixados e eventualmente oportunistas representantes do "homem comum" do mundo contemporâneo urbano; nesse quadrinho, Ernest, preocupado, pergunta a Frank: "Nós somos vagabundos?" Frank, resoluto, responde: "Não, nós não somos vagabundos. Vagabundo é quem não tem o que fazer; nós temos, só não o fazemos…"
Essa visão colide frontalmente com um dos esteios de uma sociedade que, na história, acabou por fortalecer uma obsessão laboral que, às vezes, beira a histeria produtivista e o trabalho insano e incessante. Desde as primevas fontes culturais da sociedade ocidental, como por exemplo, vários dos escritos judaico-cristãos, há uma condenação cabal do ócio e do não-envolvimento com a labuta incessante; no Sirácida, um dos livros da Bíblia (também chamado Eclesiástico), há uma advertência: "Lança-o no trabalho, para que não fique ocioso, pois a ociosidade ensina muitas coisas perniciosas" (33,28-29).
Já ouviu dizer que o ócio é a mãe do pecado?
Ou que o demônio sempre arruma ofício para quem está com as mãos desocupadas? Ou, ainda, que cabeça vazia é oficina do diabo?
Essa não é uma perspectiva exclusiva do mundo religioso. Voltaire, um dos grandes pensadores iluministas e hóspede eventual da prisão na Bastilha dos começos do século 18, por seus artigos contra governantes e cléricos, escreveu em Cândido que "o trabalho afasta de nós três grandes males: o tédio, o vício e a necessidade".
Ou, como registrou Anatole France, conterrâneo e herdeiro, no século seguinte, da mordacidade voltairiana: "O trabalho é bom para o homem. Distrai-o da própria vida, desvia-o da visão assustadora de si mesmo; impede-o de olhar esse outro que é ele e que lhe torna a solidão horrível. É um santo remédio para a ética e a estética. O trabalho tem mais isso de excelente: distrai nossa vaidade, engana nossa falta de poder e faz-nos sentir a esperança de um bom acontecimento".
Não é por acaso que Paul Lafargue, um franco-cubano casado com Laura, filha de Karl Marx, e fundador do Partido Operário Francês, foi pouco compreendido na ironia contida em alguns de seus escritos. Em 1883, quando todo o movimento social reivindicava tenazmente o direito ao trabalho, isto é, o término de qualquer forma de desocupação, o genro de Marx publicou Direito à preguiça, uma desnorteante e – só na aparência – paradoxal análise sobre a alienação e exploração humana no sistema capitalista.
Nessas horas é sempre bom reviver Rubem Braga em O conde e o passarinho que, ao falar sobre o Dia do Trabalho, escreveu: "A ordem foi mantida. Os operários não permitiram que a polícia praticasse nenhum distúrbio".
Ainda no clima das eleições e falando sobre os cargos de deputado, veja que piadinha interessante me foi enviada sobre o assunto. Chama-se A CPI.
Encontraram uma criança recém-nascida em frente ao Congresso Nacional. Instalaram uma CPI para descobrir o que havia acontecido e se a criança havia sido feita por lá. Após meses e meses de pacientes e dedicadas investigações, os ilustres membros da CPI chegaram à seguinte conclusão:
1. A criança não é produto do trabalho ou atividade de qualquer das duas casas que compõem o Congresso Nacional em virtude de:
a) Em nenhuma delas nada jamais foi feito com prazer nem com amor;
b) Para o nascimento de uma criança é imprescindível um mínimo de colaboração entre as partes envolvidas, coisa impossível de ocorrer por aqui;
c) A criança encontrada tem pé e cabeça. Ocorre que raramente aqui se faz algo com pé e cabeça.
d) Nove meses é o tempo necessário para que uma criança fique pronta para vir ao mundo. Esse tempo é curto demais para que se conclua algo em qualquer destas duas casas.
"O amor é como o infinito: nunca chega ao fim; quanto mais se ama mais se deseja amar…".
Até a próxima semana, se DEUS quiser, com o segundo turno confirmado.
Desejando fazer contato – celp@terra.com.br
Profª Teresinha Bellote Chaman