Antonio Delfim Netto (*)
Em apenas sete meses a equipe econômica do governo Lula desarmou, com insuspeitada maestria, a armadilha da inflação herdada de seu antecessor. Não era uma coisa pequena haver-se com uma expectativa de taxa de inflação de 30% ao ano e não há, portanto, como negar que obteve uma brilhante vitória. Foi preciso coragem para inaugurar o governo com medidas de política monetária de extrema dureza e um profundo corte de despesas, aumentando o superavit fiscal para 4,25% do PIB.
Essa batalha cobrou um preço sangrento, representado pelo crescimento do desemprego (anátema máxima num governo presidido por um trabalhador da indústria), com o conseqüente aprofundamento da crise social. A equipe do Ministro Palloci fez o que tinha que fazer, até porque não havia alternativa. Hoje, quando o futuro virou passado, é fácil dizer que houve algum exagêro na alta dos juros ou no ajuste fiscal, mas nada disso tem relevância diante do fato que se evitou a tragédia anunciada: o crescimento desordenado da inflação bloquearia a retomada do desenvolvimento, o que levaria o governo Lula a repetir a medíocre política de panos quentes de seu antecessor que paralisou a economia brasileira. Uma paralisia absolutamente compatível com o viés anticrescimento que caracterizou a política econômica em todo o período FHC e com o absoluto desprezo pelo que acontecia no setor produtivo e no mercado de trabalho. A mudança dessa ótica absurda é o ponto de partida para uma política de crescimento.
Quem produz o desenvolvimento é o setor privado. É ele que responde pelos investimentos e empregos. O governo pode ajudar, se tiver capacidade para cuidar da infraestrutura e melhorar as condições de saúde e educação do povo. Ajuda mais se mostrar que cumpre os contratos (mesmo os péssimos assinados nos governos que o precederam) e garante o direito à propriedade, sem o que não há progresso econômico nem se resolvem os problemas sociais. Mas são os empresários que têm a disposição de tomar riscos e fazer os investimentos. É preciso compreender que o investimento de um empresário representa a demanda de outro, que atrai um terceiro disposto também a tomar riscos e se forma um processo contagioso que vai substituindo as limitações ao crescimento. Para que este processo se inicie e prospere, no entanto, é preciso que a liderança política da Nação transmita a crença que chegou a hora de investir. No regime que adotamos, a criação desse estado de espírito é tarefa indeclinável do Presidente: é ele quem tem que convocar os líderes da iniciativa privada e, olho no olho, convencê-los que seu governo está todo ele engajado no processo de crescimento e que está disposto a ser cobrado quando houver desvios.
Está na hora de dar a partida.
E_mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br (*)