Prefeitura abandona pinturas sacras da Capela do Cemitério

Texto e Fotos : Rogério Tampellini

Cercada de imponentes colunas em estilo coríntio e exuberantes afrescos que embelezam seu interior, a Capela do Cemitério São Bento sofre com o abandono e a falta de cuidados. Sem segurança adequada e planejamento para a preservação, o edifício protegido legalmente por sua relevância histórica, cultural, arquitetônica e sagrada continua sendo vítima da ação do tempo e intervenções patrocinadas pela Prefeitura.

A infiltração que assola a edificação, há tempos, permanece contribuindo para a descaracterização do magnífico conjunto de pinturas que decoram seu interior. Mas, a infiltração, insuficiência do poder público e inabilidade de organismos que deveriam articular a preservação no município potencializam o processo que pode determinar a ruína deste importante bem.

As intervenções da Prefeitura, julho 2012, ilustram como o município cuida mal do patrimônio histórico e cultural. Fica evidente a utilização de materiais e mão de obra que não compreendem a complexidade do projeto. A pintura externa está novamente comprometida, trincas e rachaduras reaparecem, e as infiltrações na cúpula permanecem. Toda a estrutura que havia sido montada para as obras de restauro no interior da capela foi desmontada. Andaimes, escadas e materiais foram retirados restando apenas algumas faixas de proteção sob a cúpula. Um servidor que trabalha no cemitério, há 15 anos, conta que a obra foi paralisada pela Prefeitura no ano passado, após um problema com a empresa contratada para os serviços. "A movimentação durou cerca de quarenta dias, e depois, nunca mais ninguém foi visto para terminar a obra. A capela foi fechada ao público e está assim, abandonada e com as mesmas infiltrações, uma judiação", lamenta o servidor que prefere não se identificar.

A Capela do Cemitério São Bento está protegida pelo artigo 104 da Lei Complementar Nº 850 de 11 de fevereiro de 2014. Quaisquer intervenções previstas para a edificação devem ser aprovadas e fiscalizadas pelo Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico, COMPPHARA; que até ao presente sequer regulamentou a medida protetiva determinada pelo Plano Diretor.

Com omissão, falta de regulamentações, paralisação de obras e abandono o poder público assume integralmente a responsabilidade pelo avanço da deterioração dos afrescos da Capela do Cemitério São Bento. Fechando as portas deste importante monumento, a Prefeitura priva o cidadão de frequentar um espaço criado há décadas para suas preces e momentos de paz. Impede o contato e a oportunidade da população interagir com um raro exemplar do patrimônio histórico e cultural de Araraquara que ainda pode ser preservado.

Enquanto faltam leis inteligentes, projetos de educação patrimonial e um acompanhamento sério conduzido por um grupo democrático de cidadãos e instituições focados em preservar a memória de Araraquara, sobra espaço e abrem-se precedentes para que patrimônios importantes, como a Capela do Cemitério São Bento, sejam impiedosamente condenados ao extermínio.

Outro lado

Prefeitura de Araraquara preferiu não emitir nota acerca dos questionamentos.

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