Por que o camelo é feio?

Texto: João Baptista Galhardo

Nas cortes européias medievais havia um assessor do Reino que fazia a nobreza rir, divertir-se durante banquetes e cerimoniais. Contava piadas, fazia mímicas. Imitava e ridicularizava os súditos. Contava histórias "sem pé nem cabeça" para entreter o seleto público. Era o bobo da corte. O truão. Não deixava de ser um auxiliar importante. A tendência de governante alegre é tomar medidas simpáticas à população. Sempre houve, em todos os tempos, Assessoria e Comissão para todo gosto. É o que não falta até hoje. Só que atualmente os bobos e bufões estão aqui do lado de fora. E que a cada quatro anos vão às urnas para votar em seus adestradores, ou seja, naqueles que bem assessorados tiveram melhor desempenho na arte de fazer as promessas de sempre: "mais moradia, mais educação, melhor salário, mais emprego, menos impostos, mais saúde, mais segurança para o povo. Ladrões, bandidos, sequestradores, traficantes, corruptos irão para cadeia. Tolerância zero. Segurança total, etc… Segurança? Fala sério! O povo vive em regime semi-aberto. Sai de manhã para o trabalho rezando para não ser despedido, para não ser vítima de assaltos, de balas perdidas, de multas de trânsito e outras agressões. Volta à noite. Tranca o portão. Põe cadeado nas portas e janelas. Liga as câmeras. Aciona o alarme. Verifica a cerca elétrica e lixa os dentes dos cachorros. O povo tem sido o carcereiro de si mesmo. Mas Assessorias e Comissões é que não faltam. Até para assuntos aleatórios e para verificação de viabilidade desta ou daquela proposta. Quando se pretende deturpar, desfigurar ou sepultar algum projeto manda-se para uma Comissão. Dizem que o camelo, esse animal feio com cabeça de carneiro, orelha de lobo, pescoço torto e comprido, rabo de bezerro, corcundas e patas de cabra, é o resultado de um projeto de cavalo que Deus encomendou para uma Comissão.

Existia até um Assessor Sexual para cumprir seu papel.

Nos anos cinquenta quando fez sucesso a marchinha de carnaval "Maria Candelária", a alta funcionária, diziam que se colocassem de uma só vez nas respectivas repartições todos os "assessores comissionados" do Governo faltaria espaço mesmo colocando em pé um atrás do outro. E é assim no mundo todo. Na Tungchúria havia até Assessor Sexual. Um Agente do Governo. Para sua admissão se submetia apenas a um teste de virilidade e fertilidade. Uma lei obrigava todos os casais a terem pelo menos um filho dentro de cinco anos depois do casamento. Se não tivessem, a culpa presumida era do marido. Terminado esse prazo sem que tivessem um herdeiro, seria nomeado um dos Agentes ou Assessor Sexual do Estado para resolver o problema. Há então o seguinte diálogo entre o marido e a mulher: – Querido, hoje completamos o quinto aniversário de casamento e infelizmente não tivemos um filho. Será que eles vão enviar o tal Auxiliar?

– Não sei … responde o marido. Eu menos ainda, complementa a esposa.

– Vou sair. Estou atrasado para o trabalho. Se aparecer o Funcionário, trate-o bem. Lei é lei.

Logo após a saída do marido, batem na porta. Era um fotógrafo ambulante que tirava fotos em residências e que se enganara de endereço.

– Bom dia! Eu sou…

– Já sei… pode entrar.

– Seu marido está em casa?

– Não, foi trabalhar.

– Presumo que ele esteja a par…

– Sim, e ele concorda.

– Ótimo, então vamos começar.

– Mas já? Assim tão rápido?

– Preciso ser breve, pois ainda tenho dez casais para visitar.

– Puxa! O senhor aguenta?

– Aguento, meu trabalho é muito prazeroso.

– Então como fazer?

– Permita-me sugerir: uma no quarto, duas no sofá, duas no tapete, uma no corredor e a última na cozinha.

– Nossa! Não é muito?

– Não. Tenho comigo algumas amostras de meus últimos trabalhos.

E mostra fotos de crianças, dizendo: não são belas?

– Todas feitas pelo senhor.

– Sim, esta aqui foi na porta do supermercado.

– Nossa! Não lhe parece um tanto público? É, mas, a mãe era artista de televisão e queria publicidade. – Que horror! – Foi um dos serviços mais duros que já fiz. – Imagino… Esta foi no parque de diversões, em pleno inverno.

– Credo! Como o senhor conseguiu? – Não foi fácil. Neve caindo e uma multidão em cima de nós. Quase que não consigo acabar. – Ainda bem que sou discreta. Não quero que ninguém veja. – Ótimo. Eu também prefiro assim. Agora se me der licença, vou armar o meu tripé. – Tripééé? Para quê? – Bem madame, é necessário. O meu instrumento de trabalho além de pesado, depois de pronto, para funcionar, mede quase um metro de comprimento. Além disso, ainda tem um problema. Nem sempre consigo fazer sorrir na hora de sair o passarinho.

Aí… a mulher caiu dura!!!

jbgalhardo@uol.com.br

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