Por falta de missa é que não foi

João Baptista Galhardo (*)

No ano de 1814, por desavença familiar, mudou-se de Araraquara um dos primeiros colonizadores do sertão de Araraquara. José da Silva Neto, filho de Pedro José Neto, fundador da primeira capela da nossa cidade.

Conta Alberto Lemos (História de Araraquara- Museu Histórico e Pedagógico Voluntários da Pátria) que José, por largo espaço de tempo, permaneceu longe da família, sem enviar qualquer notícia.

Em 1842, já casado, reaparece, mal de finanças, sem qualquer progresso na vida. Procurou seu irmão Joaquim Ferreira Neto, que até então se julgava único e universal herdeiro dos bens deixados por seus pais.

Queria vacas, espingarda, chapéu, tacho velho…

Para José não passou despercebida a má vontade com que era recebido. Pretendia José a partilha de escravos, semoventes, objetos, bestas, vacas, espingarda, trabuco, espada, chapéu, um par de brincos, tacho velho, forno de torrar farinha, um par de canastras (cestas de madeira, sem tampa), um aparelho de ferrar e outros bens.

A pedido o Juiz Arruda mandou abrir o inventário, citando Joaquim Ferreira Neto, que por estar atacado de cegueira foi ouvido em sua moradia, assinando o termo Demétrio José Xavier, em lugar do interrogado.

Além da metade dos bens que julgava ter direito, José da Silva Neto queria lucros das vendas patrimoniais e aumentos verificados na herança. Omitia-se de considerar eventuais despesas ou possíveis perdas, como falecimento de escravos no interregno de sua ausência. José exigia ainda que o irmão respondesse e arrolasse no inventário escravos mortos. José queria, ainda, que o irmão prestasse contas do produto apurado por Pedro José Neto na venda da sesmaria de Monte Alegre.

Finalmente no dia 14 de Fevereiro de 1844 o Juiz de Órfãos, José Joaquim de Sampaio, julgou a partilha, considerando bem feitas e valiosas as contas, aprovando-as, determinando o seu cumprimento. Não houve recurso, segundo mencionado historiador.

Orações fervorosas pela alma…

Mas chama a atenção o número de despesas e pagamentos que o acionado Joaquim Ferreira Neto apresentou no processo de inventário para abater o monte a ser dividido, inclusive um recibo com data de 8 de fevereiro de 1820 pelo vigário Francisco Manuel Malachias, o que não agradou o irmão.

“Certifico que disse quinze missas pela alma do falecido Pedro José

Neto, depois disse mais vinte e cinco missas pelo mesmo

e mais vinte e cinco pela mulher do dito Neto, depois encomendou-

me mais trinta e uma”. (42$910)

Noventa e seis missas foram rezadas por alma do sertanista Pedro José Neto e sua mulher. Se não foram para o céu… não foi por falta de missa.

(*) jbgalhardo@uol.com.br

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