Poema das Doenças

Sofre de reumatismo, quem percorre os caminhos tortuosos; quem se destina aos escombros da tristeza; quem vive tropeçando no egoísmo. Sofre de artrite, quem jamais abre mão; quem sempre aponta os defeitos dos outros; quem nunca oferece uma rosa. Sofre de bursite, quem não oferta seu ombro amigo; quem retesa permanentemente os músculos; quem cuida excessivamente das questões alheias. Sofre da coluna, quem nunca se curva diante da vida; quem carrega o mundo nas costas; quem não anda com retidão. Sofre dos rins, quem tem medo de enfrentar problemas; quem não filtra seus ideais; quem não separa o joio do trigo. Sofre de gastrite, quem vive de paixões avassaladoras; quem costuma agir na emoção; quem reage somente com impulsos; quem sempre chora o leite derramado. Sofre de prisão de ventre, quem aprisiona seus sentidos; quem detém suas mágoas; quem endurece em demasia. Sofre dos pulmões, quem se intoxica de raiva e de ódio; quem sufoca permanentemente os outros; quem não respira aliviado pelo dever cumprido; quem não muda de ares; quem não expele os maus fluidos.

Sofre do coração, quem guarda ressentimentos; quem vive do passado; quem não segue as batidas do tempo; quem não se ama e, portanto, não tem coração para amar alguém. Sofre da garganta; quem fala mal dos outros; quem vocifera; quem não solta o verbo; quem repudia; quem omite; quem usa sua espada afiada para ferir outrem; quem subjuga; quem reclama o tempo todo; quem não fala com Deus. Sofre do ouvido, quem prejulga os atos dos outros; quem não se escuta; quem costuma escutar a conversa dos outros; quem ensurdece ao chamado divino. Sofre dos olhos, quem não se enxerga; quem distorce os fatos; quem não amplia sua visão; quem vê tudo em duplo sentido; quem não quer ver. Sofre de distúrbios da mente, quem mente para si mesmo; quem não tem o mínimo de lucidez; quem preza a inconsciência; quem menospreza a intuição; quem não vigia seus pensamentos; quem embota seu canal com a criação; quem não se volta para o universo; quem vive no mundo da lua; quem não pensa na vida; quem vive sonhando; quem se ilude; quem alimenta a ilusão dos outros; quem mascara a realidade; quem não areja a cabeça; quem tem cabeça de vento. Causa e efeito. Ação e reação. Tudo está intrinsecamente ligado. Tudo se conecta o tempo todo. E assim, sucessivamente, passam os anos sem que o ser humano conheça a si mesmo. Somos certamente o maior amor das nossas vidas! Assim como o nosso maior inimigo é aquele que está oculto e que habita inexoravelmente no interior de nós mesmos.

Reflexão da Semana

“Só os grandes sábios e os grandes ignorantes são imutáveis” (Sabedoria oriental)

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