Luiz Carlos Bedran (*)
Era o que sempre repetia, com um misto de ironia e resignação, o saudoso Mário Barbugli quando não parava de chover. Um homem de muita cultura humanística (estudara na Itália), além de haver sido um exímio pescador e também um caçador que respeitava as épocas próprias da caça. Hábil comerciante e agricultor, desbravou os sertões do Paraná como agrimensor que era. Foi voluntário na Revolução de 32 e teve intensa participação política (foi vereador e presidente da Câmara) e social em nossa cidade.
Quando chovia intensamente, o Rio Moji Guaçu, que não era tão assoreado como o é atualmente, enchia tanto que suas águas transbordavam pelos barrancos e espalhavam-se pelas várzeas. É evidente que com o rio barrento não se conseguia pescar de caniço, pois os peixes além de estarem bem alimentados, dedicam-se mais em se reproduzir, quando sobem o rio para desovar nas cabeceiras. Mas alguns predadores/pescadores do passado aproveitavam-se da piracema para armar suas redes e então pegavam os curimbatás à profusão.
Mas não o “seu” Mário. Respeitador do meio ambiente, mesmo nessa época, não deixava de ir ao seu rancho, a enfrentar os pernilongos, que, nessa ocasião, a das cheias, janeiro, fevereiro e março infestam suas margens, formando verdadeiras nuvens. Mas era o seu refúgio e aquilo que gostava. Observar a natureza e filosofar. E assim ele ficava no alpendre, vendo a chuvinha cair e a aceitava, prazerosa e resignadamente, aquela contínua e até a intermitente, pois a considerava como sendo uma dádiva dos céus, um verdadeiro maná, pois substituía, com amplas vantagens, a necessidade de adubo (enxofre) nas plantações. Era o que ele dizia: “a chuva é o melhor adubo do mundo”. E ficava repetindo: “piove, governo ladro”.
Esse antigo e popular provérbio italiano reflete com propriedade o espírito das pessoas quanto ao conceito de governo, como regra geral. Quaisquer que sejam eles, independentemente daquilo que acontece na natureza ou no mundo – o que tem a ver a chuva com o governo?! – são ladrões e culpados, faça sol ou faça chuva.
Exageros à parte, “si non Ô vero, Ô bene trovato”.
(*) Advogado e colaborador do J.A.