Texto: Luiz Carlos Bedran
“De poeta, médico e louco, todo mundo tem um pouco”. A esse antigo provérbio popular poder-se-ia acrescentar também a prosa, pois parece que quase todas as pessoas, numa fase de suas vidas, pretenderam registrar para a posteridade suas mensagens, e através delas transmitir suas idéias, seus pensamentos, seus sonhos.
Assim, elas costumam deixar gravadas suas impressões sobre os acontecimentos, sobre as experiências por que passaram, sobre as pessoas com quem se relacionaram, seja por meio de cartas – cuja forma já está um tanto ultrapassada – seja por meio de bilhetes escondidos nas páginas de livros para serem lidos, saudosamente, anos depois, ou então, mais pacientemente, sob a forma de um diário, num caderno, tal como os adolescentes adoram fazer. Hoje talvez ele é feito no computador.
Mais modernamente, entretanto, costumam trocar mensagens pelo computador, pela comunidade do Orkut ou pelos blogs elaborados por aqueles mais intelectualizados, que tentam convencer seus leitores de que seus pensamentos e suas opiniões são as melhores. Nesse caso, embora sejam escritas, não se sabe se costumam depois ser gravadas em papel ou sob outra forma qualquer, para serem lidas noutra ocasião e assim poder comparar a evolução – ou involução – de suas idéias: – “Eu pensava assim. Era um tolo. Agora mudei de idéia. Piorei…”.
Com a proliferação dos meios eletrônicos de comunicação, expandiu-se essa saudável mania de se comunicar com seu semelhante e, de tal forma, que a mensagem (que é o meio) tende a ir para o mundo todo. E quando vai, não tem mais volta. O ato formal, o texto, esgota-se na própria mensagem; não há tentativas de se mandá-la. Ou ela vai de vez, ou então não vai.
Por isso a extrema responsabilidade em enviar a palavra pelos meios eletrônicos, pois as besteiras idas não conseguem mais ser consertadas. E o escrito fica para sempre marcado, ao contrário da palavra falada. Por isso é que os antigos já diziam: “verba volant, scripta manent”, as palavras voam, os escritos ficam.
Além do mais, segundo sabe-se qualquer mensagem enviada eletronicamente pode ser descoberta através de seu provedor e assim a pretensão de se manter segredo entre o remetente e aquele que a recebeu, inexiste completamente. A quebra de sigilo por parte de terceiro, embora seja garantido constitucionalmente o direito à privacidade, pode ocorrer perfeitamente, dependendo do quão importante possa ser esse interesse, principalmente por parte dos órgãos governamentais, num país que não seja democrático.
E mesmo num país onde as liberdades democráticas são garantidas, como nos EUA, o berço da revolução tecnológica e do controle do www, o próprio governo Bush, recentemente, editou uma lei, considerada inconstitucional, em que permite a violação do sigilo eletrônico do cidadão, considerado nocivo ao país.
Isso sem contar com as comunicações entre os internautas em que são cometidos crimes, através de sites pessoais, como a pedofilia. Por isso, toda mensagem escrita, mesmo a mais aparentemente insignificante e até aquela mais inconseqüente possível, há de necessariamente ser pesada e sopesada, como se estivesse sendo transmitida a qualquer pessoa fora daquele restrito círculo.
Não existe anonimato na web, por mais que se queira guardá-lo e até mesmo dentro da máquina do computador pessoal, que, segundo os experts, pode ser descoberto em suas profundezas. Não é à toa que os peritos criminais conseguem desvendar provas de crimes, principalmente os de colarinho branco, nos cpus.
Se escrever já é um perigo, pela internet então, nem se fala.