João Baptista Galhardo
Dois caipiras chegam pela primeira vez à Capital. Morrendo de fome entram num restaurante chique. Não sabendo o que pedir, resolvem imitar o rico que estava à mesa ao lado. O rico pede uma entrada. Os caipiras falam: – pra nóis a mesma coisa. O rico pede um prato especial. Os dois caipiras: – pra nóis também. O rico repete o prato. Os caipiras: – garçom, pra nóis também. Os dois caipiras continuam com fome. O rico termina e diz para o garçom: – poderia arrumar um engraxate para mim? Os dois caipiras: garçom, pra nóis também. O rico ouvindo isto diz aos caipiras: – meus amigos, acho que um engraxate dá para nós três. Os caipiras, imediatamente: – não senhor!!! O senhor come o seu que a gente come o nosso. Um outro caipira foi pela primeira vez com a mulher e o filho passar uns dias na cidade grande. Ao chegar a um hotel, enquanto a mulher olhava a vitrine da loja, parou com o filho em frente ao elevador tentando entender para que servia uma porta com uma luz piscando. De repente uma velhinha entra no elevador. A porta fecha e ela desaparece. Pouco depois a porta se abre e sai uma linda garota de corpo escultural. Entusiasmado ele grita para o filho: – Zéca, vai correndo chamar a sua mãe. Esses e muitos outros casos eram contados por Pedrão, administrador do Sítio São Miguel de propriedade de amigos meus. O sítio com esse nome homenageava o Santo guerreiro, protetor de seus devotos e também o pai do proprietário, que se chamava Miguel, falecido precocemente e até hoje adorado pelo seu filho. Pedrão, homem de fé era o administrador. Trabalhador, considerado membro da família proprietária. Desajeitado no andar. Meio torto por causa dos “olhos-de-peixe”. Bigode fino e grisalho. Homem sabido. Contador de “causos”. Uma prosa puxava outra e logo vinha um novo “causo”. Mas o caso principal, onde ele foi o personagem, não contou para ninguém. Porque não sabia. Com quase sessenta anos, foi ao médico. Tinha fortes dores no abdômen. – É caso de cirurgia, disse o doutor. Ele me perguntou se eu conhecia o médico. Disse que sim. – É meu amigo de longa data. Se um dia tiver que operar será com ele. Ele é muito bom. Foi internado. O médico saiu triste da sala de cirurgia: – não tem nada a fazer. Abri e fechei. Disse aos familiares e amigos que ali estavam. Ao Pedrão, não teve coragem de dizer que teria pouco tempo de vida. Dizem que hoje os médicos são obrigados a dizer ao paciente seja qual for o diagnóstico. Não sei até onde essa franqueza faz bem ou mal. Há mistérios entre o céu e a terra que a ciência não consegue explicar. Tempos depois encontrei o Pedrão trabalhando naquela propriedade. Ele me disse : – o senhor falou que o médico era bom. Põe bom nisso. Não sinto mais nada. Voltei a tomar minha pinga e a fumar meu cigarrinho de palha. Nisso chegou um outro empregado com uma Kombi com um leitão limpo para assar. Ele não perdeu tempo. “O caipira, querendo fazer uma criação, comprou cinco porcos e cinco porcas. Perguntou ao vendedor: – como é que eu vou saber quando elas estão prenhas? “Elas rolarão na lama”, responde o vendedor. Uma semana, um mês, dois meses e nada das porcas rolarem na lama. Telefona para o veterinário, que lhe diz que nesse caso ele tem que fazer inseminação artificial em cada uma das porcas. Não querendo dar uma de ignorante, não pergunta mais nada e pensa que ele mesmo tem que fazer o “serviço”. Coloca as porcas na Kombi e leva para o mato dedicando meia hora de “prazer” a cada uma. No outro dia olhou para o chiqueiro e nada de rolarem na lama. Coloca as porcas na Kombi e novamente com elas para o mato dobrando o tempo de “amor” a elas. No outro dia nada de rolarem na lama. E assim várias vezes. Até que um dia com a “espinhela” caída, travado, cansado, chegando em casa foi direto para a cama. Quando acordou, sem forças, pediu para a mulher olhar se as porcas estavam rolando na lama. “Bom… rolando na lama não estão, mas conseguiram entrar na Kombi. No banco de trás tem quatro porcas pulando e acenando para cá e uma outra não pára de buzinar!”
Pedrão, depois daquela cirurgia trabalhou muitos anos. Morreu, já aposentado, por outros males, com quase oitenta anos de idade.