José Roberto Cardozo, enquanto vereador comprometido com as causas sociais, lutou e acabou vencendo com justificativas irretorquíveis e o PSC – Povo Sem Carro – ganhou o corujão para levá-lo de volta ao lar, por exemplo, depois de um lazer merecido. Antes dessa providência administrativa, depois da meia noite, esse contingente obrigava-se à amassar barro pelas madrugadas, sujeito à violência, testemunhando os primeiros raios solares. Podia até se deliciar com a decomposição da luz em gotas orvalhadas, as quais, inseridas em ramos e flores teimavam em ficar mas acabavam se precipitando a fim de permitir a vida de alguma semente latente. Essa caminhada dos integrantes do PSC, no entanto, não tinha nada de poético, era cansativa e poucos acumulavam adrenalina suficiente para deixar o lazer ultrapassar o horário-limite do transporte coletivo.
Pois bem, os corujões chegaram para democratizar o lazer e, agora pela imprensa, a manchete de que o presidente da CTA teria afirmado, dentre outras alternativas para enfrentar a escassez, que os corujões podem ser desativados. A prematura e, acreditamos, inquestionável aleivosia em aventar-se a desativação dessa conquista popular tem como fulcro a afirmação do prefeito Edinho Silva que não permite outro aumento de passagens já que o povo não teve majoração salarial.
Sem entrar no mérito do aumento (último, de 9,1%, em setembro) porque teríamos que falar da Petrobrás que prospecta 80% do petróleo no país do real e leva vantagem porque vende como se fosse 100% em dólar, nos parece pertinente lembrar ao advogado-administrador da Companhia Tróleibus Araraquara que o seu cargo é político e, portanto, não deveria anunciar o fim de um serviço que, politicamente, foi conseguido com um sem número de palavras e exemplos, em favor da comunidade desprovida de veículo próprio.
Torna-se oportuno lembrar que existem cargos, notadamente aqueles preenchidos por executivos de plantão (ainda mais os escolhidos pelo povo), que exigem a sensibilidade e inteligência dos indicados para vivenciar seus limites: falar o menos possível e trabalhar mais e, de preferência, jamais colocar o seu chefe em má situação.
De qualquer forma e sem filosofar desnecessariamente seria interessante que todas as partes tivessem em conta que os corujões são direito do povo e dever da nossa municipalidade. Tirar o doce dos menos favorecidos é demonstrar completa dissintonia com a realidade social.
Esse transporte da madrugada não pode ser lembrado como alternativa para equilíbrio de contas. É pensar linearmente pobre. Seria politicamente incorreto e, em termos sociais, totalmente inadmissível.