Colaboração: repórter Giovani Henrique Peroni
A era romântica das mãos da velocidade de quem ajudou a construir a história do automobilismo brasileiro
A oportunidade de poder estar presente e ouvir depoimentos dos homens que fizeram época no automobilismo é um grande privilégio. Muitos gostariam de estar ali para perguntar as curiosidades e ouvir as respostas do Miguel Crispim, mais conhecido como Crispim, que trabalhou como mecânico, desenhista, projetista, chefe de equipe, instrutor e dono de oficina.
Iniciou a sua carreira como meio oficial mecânico B, gerenciado pelo alemão Hermut Brand que participou da Segunda Guerra Mundial, vindo para o Brasil para chefiar o Departamento de Testes da Fábrica. O trabalho era avaliar o desgaste das peças dos veículos 2 Candangos, 2 Vemaguetes e 2 DKW. Esses carros andavam o tempo todo e depois eram desmontados pelos mecânicos, e aí que entra o nome do Crispim.
Na década de 60 a Vemag participou das Mil Milhas, em novembro Crispim foi convocado e recebeu a incumbência para ir trabalhar em Interlagos. O DKW era o veículo mais rápido do Brasil com um motorzinho de 108 cavalos, 1080 cc em um momento que o talento das mãos se aliavam na balança do dinamômetro na ponta do eixo do virabrequim e que se fazia as contas com régua de cálculo na prancheta.
Nessa corrida entre a parada no box, levantar o carro, retirar o tambor de freio, as lonas e molas, colocar tudo de novo de volta, regular as lonas e, ainda baixar o carro, gastava-se 2 minutos com muita habilidade e na raça.
Outra curiosidade mencionada nessa entrevista com Crispim ficou por conta de uma corrida no circuito de rua em Piracicaba-SP, muito preocupado orientou os pilotos Anisio Campos que estava pilotando um Belcar DKW e Chico Lameirão com um Malzoni, para que tivessem os devidos cuidados, pois era a primeira vez que que estes pilotos iriam andar em circuito de rua ¨tenham muita atenção, vão devagar, com calma, etc.¨ Mas de nada adiantou, no primeiro dia Anísio saiu reto em uma curva e bateu. Depois o Lameirão saiu em uma curva, perdeu o controle do carro e caiu dentro de um galinheiro.
Fatos assim que foram feitos num período que a tecnologia da comunicação era bem diferentes e precárias em relação aos equipamentos de hoje, mas que podem ser relatados e imaginados pela memória fantástica daqueles que estiveram presentes no fantástico mundo do automobilismo raiz.