Texto: João Baptista Galhardo
Amigo é espelho onde a alma se reflete. É um refletir que nos torna melhores, mais dignos do abraço fraterno, da palavra exata no momento exato. É o melhor de nós, o outro em que nos reconhecemos. Aquele que vigia nossos sonhos e transforma nossa lágrima em orvalho de esperança, como diz Paulo Bonfim o “Príncipe dos Poetas”.
Um amigo vinha constantemente me convidando para um jantar neste fim de ano. “O convite é para a família inteira”, dizia ele. Seria nestas vésperas de Natal.
Um dia depois da última reiteração do convite, a morte levou-lhe de improviso, com pouco mais de quarenta anos.
No mês de dezembro há muita magia e manifestações de amor e solidariedade. Nesse período o Criador outorga procuração ao Papai Noel para distribuir alegria, renovando esperanças e desejos de paz, saúde e prosperidade. É ele quem reina nesse espaço de tempo.
Natal significa renascimento. Renascer para si mesmo. Significa sobretudo o milagre da vida. E vida é o reverso da morte.
Mas… que sacanagem Papai Noel! Levar, numa época de festas, o pai de um garoto de doze anos. O marido de uma jovem e adorada esposa. O filho de um casal já com o dever cumprido com a vida. Um amigo. Um irmão. Que aconteceu Papai Noel? Você andou bebendo? Ou vai sair pela tangente dizendo que não sabe de nada?
Nesta época em que todos armam a sua árvore, colocando em cada galho a tolerância para que ninguém se exalte com o modo diferente de agir, de pensar e de sentir daqueles que vivem ao nosso redor; nestas festas em que penduramos no pinheiro enfeitado o sorriso, a gentileza, a bondade, o amor, a flexibilidade espiritual, a sinceridade, a compaixão, a verdade e a simplicidade… tudo para lhe esperar. E você comete essa desfaçatez? O descaramento de enlutar e entristecer uma família que nada lhe fez?
Deus devia lhe outorgar poderes limitados, reservando-se o direito da última palavra. O Divino, depois de ouvir os anjos, serafins e querubins, poderia decretar num artigo só: “é proibido morrer em dezembro”.
Naquela mesa estará sempre faltando alguém… quantos lares recordam com saudade uma pessoa querida que já não está entre nós?
Sabemos que o passado não volta e que o futuro é incerto. Importante é o agora. O presente. E que o presente nada mais é do que o encontro do passado com o futuro. Mas, saudade? Saudade… quem é que não tem? Só mesmo alguém que nunca soube querer bem. Saudades são lembranças gostosas. E lembranças são os cabelos brancos do coração. Envelhecem, mas permanecem vivas dentro do peito. Não é por isso que se vai apagar as luzes e chorar no escuro. Temos poderes extra-sensoriais adormecidos. Na noite do Natal cada um deve explorar a sua própria hipersensibilidade, o seu emocional consciente e inconsciente, para perceber, sentir e brindar a presença dos ausentes. Essa sincronicidade deve ser permanentemente exercitada. Devemos fazer das boas recordações motivo de felicidade. Felicidade, inclusive para os que já se foram e onde eles estiverem. A busca da felicidade é eterna. Não era esse o desejo deles em vida?
Como diz o poeta, essa felicidade que supomos, árvore milagrosa, que sonhamos toda arreada de dourados pomos, existe sim.
Mas nós não alcançamos porque está apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos.
Tim/tim…
Feliz Natal!!!