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O álcool é nosso, a natureza também

Sebastião Almeida (*)

O Brasil entrou em uma nova fase de entusiasmo com o álcool. Do ponto de vista econômico, a notícia é muito boa. Afinal, trata-se de um produto do qual devemos ter muito orgulho, pois ainda é uma das únicas fontes de energia que substituem o petróleo. Além de, é claro, ser um produto totalmente “made in Brazil” e menos poluente como combustível.

Após um longo período de estagnação nos anos 90, o álcool volta com força total e agita o agronegócio brasileiro. Mas essa euforia causa certa preocupação. Não do ponto de vista econômico, claro, mas ambiental. Com os bons resultados obtidos na retomada da produção do combustível, as usinas são obrigadas a aumentar sua produção e, por conseqüência, os danos à natureza. Um deles é o aumento da poluição provocada pela queima da cana-de-açúcar. Muitos municípios, como Ribeirão Preto, sofrem com a verdadeira “neve” de palha queimada que cai na cidade durante a época da safra. Isso sem contar o aumento de gás carbônico liberado na atmosfera com a queima.

O outro problema, também muito grave, é a expansão da monocultura, no caso a cana-de-açúcar. Há décadas, as terras férteis do Estado de São Paulo foram loteadas para a expansão da monocultura, destruindo matas e culturas que não agridem o solo de uma maneira tão perversa como a cana. No interior do Estado, hoje restam poucos nichos de mata. Apenas não cederam lugar para as grandes plantações porque são protegidas por lei. Mesmo assim, o prejuízo à natureza é muito grande, pois reduziu drasticamente a diversidade de espécies animais e vegetais abrigados nas florestas.

Outro grave problema refere-se à qualidade do solo, que cai progressivamente à medida em que é castigado pela monocultura. Quando não há reciclagem de culturas, há uma perda muito grande dos nutrientes do solo, como cálcio e fosfato. Com o passar dos anos, esse solo vai ficando cada vez mais pobre, estéril e se torna praticamente inútil para novas plantações.

Diante de tudo isso, é importante uma reflexão séria para apresentação de medidas que evitem um desastre ambiental a médio e longo prazo. A primeira delas seria o controle efetivo da monocultura, estabelecendo limites e regras para os produtores. Uma delas, já adotada por algumas usinas, é a rotatividade de culturas, substituindo a cana-de-açúcar por culturas como o feijão e o amendoim, ricos em nutrientes. Trata-se de uma medida importante para evitar o empobrecimento ainda maior do solo.

Também é necessário discutir como compatibilizar o desenvolvimento econômico com a proteção à natureza. O álcool gera muitas divisas e está na ponta de linha do agronegócio brasileiro. É justo que parte desse dinheiro gerado, mesmo uma parte pequena, seja revertida em projetos de proteção ao solo, às matas e estudos para evitar a expansão sem limites da monocultura.

Não há razão para impedir o desenvolvimento de um produto tão importante como o álcool. Nem há motivos para isso. O importante é que esse desenvolvimento não seja acompanhado de total destruição da natureza, comprometendo o futuro de uma das regiões agrícolas mais ricas do país.

E o que vale para as plantações de cana-de-açúcar no Estado de São Paulo, vale para outras monoculturas, em todo o País. Todos nós acompanhamos o que está sendo feito na Amazônia, onde a floresta está sendo sufocada e perdendo espaço para grandes plantações de soja. Ou no Mato Grosso do Sul, onde o projeto do governo em permitir a instalação de usinas de álcool em uma área próxima ao Pantanal provocou grande polêmica e acabou sendo arquivado.

Temos todos os motivos para ter orgulho da produção de álcool e o desenvolvimento de novas tecnologias para substituição do petróleo em veículos automotores. Mas que essa produção não comprometa o que ainda temos de recursos naturais no Estado de São Paulo. E não transforme o interior do Estado em uma grande plantação de cana-de-açúcar.

(*) O autor é deputado estadual pelo PT, presidente da Comissão de Meio Ambiente da Assembléia Legislativa e coordenador da Frente Parlamentar em Defesa da Água. E-mail: gotadagua@sebastiaoalmeidapt.com.br

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