João Baptista Galhardo
Meu primo Paulo, industriário, para inaugurar o barracão com churrasqueira que construiu no quintal de sua casa, organizou um churrasco com os colegas de trabalho. Para não ficar pesado para ele, combinaram que cada um levaria alguma coisa. No dia e hora marcados chegaram os amigos com as mulheres e filhos. Traziam latinhas de cerveja e meio quilo de carne. Pacote de sal grosso, limão, pinga e batida de amendoim. Fazer churrasco em casa com a colaboração de todos os participantes é fria. O convidado acha-se dono do pedaço e só vai embora quando tudo acabar, principalmente o que trouxe.
– Olhe, pega da minha…
As cervejas são colocadas no isopor com gelo. A coisa já complica ao acender a churrasqueira.
– Molhe pão no álcool.
– Põe uma latinha com óleo.
– É bom pão torrado…
Tem cara de pau que leva músculo. Para churrasco? Outros trazem a lingüiça mágica. A famosa cabo de relho. Plástico cheio de sebo e gordura. Quando levada ao fogo provoca uma labareda e desaparece.
Alguém convida um churrasqueiro. Geralmente um barrigudo aposentado, de bigode grosso e branco, com aquela mancha de nicotina sob o nariz, com um carro velho. Coloca no ombro um guardanapo e com ele limpa a mão, o nariz, os espetos, a faca e a travessa de servir carne. Na confusão ninguém distingue qual é o seu copo de plástico. As mulheres sentam na mesma mesa. Inicialmente bem comportadas. Os homens encostam no balcão que separa a churrasqueira. As mulheres entram na meia de seda (leite condensado com pinga) ou caipirinha para desconcentração. Na primeira dose os olhos viram como marcador de bomba de gasolina. Sob efeito do álcool as mulheres se soltam, perdem a boa postura e descem a pua nos maridos, inclusive sobre seus insucessos de cama, enquanto eles roncam papo na roda ao lado. Uma escuta e fala: “só se for na rua, porque lá em casa…”.
A carne demora para sair. O molho vinagrete desaparece com o pão antes do churrasco ficar pronto. O Zelão vem com um prato cheio de açúcar, rodelas de limão e uma garrafa de pinga:
– Vocês já tomaram coice de mula?
– O que é isso?
– Enquanto mastiga o limão com açúcar, você toma de uma só vez um cálice de pinga.
É a famosa caipirinha feita na boca. Liberação geral. O churrasqueiro fica de fogo. O pagode desafinado rola solto, tocando em tampas de panelas. As mulheres iniciam a rodada de piadas:
– O casal de caipiras foi ao médico conhecido como doutor Buscogina. Só receitava buscopan ou novalgina, dependendo do lugar da dor. Acima ou abaixo do umbigo. O médico deu ao seu Zico um supositório. Isto é para ser usado no ânus. Chegando em casa, disse: “Maria, onde fica esse tar de ânus?
– Não sei. Vamos perguntar para o médico.
– Ora Zico…é o reto, diz o doutor.
Vão para casa. E o Zico com a mesma indagação. Ela sugere retorno ao médico, mas ele se recusa:
– não vou não. O homem vai ficar irritado e vai mandar eu enfiar esse supositório no… em lugar que eu não quero ouvir!!!
A Cidinha conta outra:
– certo dia um bêbado passava em frente a uma igreja quando começa uma enorme gritaria. Após certo tempo, um homem bem vestido sai e encontra-se com o bêbado que pergunta: – que gritaria é essa? O homem responde: – é Jesus que está operando.
O bêbado continua por ali. Passa um cidadão que pergunta ao bêbado o que está se passando e ele responde: – Sei lá. O que eu sei é que um tal de Jesus tá operando e pela gritaria é sem anestesia!!!
A desbocada Lucinha, mulher do Zelão, vai mais longe:
– a mulher acompanha o marido ao Pronto Socorro. – Ele teve o bráulio picado por abelhas. O médico atende e ela pede:
– Doutor dá para tirar só os ferrões e deixar o inchaço?!?
Quase meia noite, termina o sacrifício do anfitrião e de sua mulher. Acabou o churrasco. Como as mulheres se retiraram antes, os maridos pegam carona com o churrasqueiro e vão embora batucando na lataria da Kombi.
Na segunda, comentam com o Paulão que ele precisa fazer outros churrascos. O que por certo jamais acontecerá…