Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves (*)
Radical, mas adequada, a postura dos fornecedores brasileiros de carnes, que suspenderam o fornecimento da mercadoria às 150 lojas do grupo francês (Carrefour, Sam’s Club e Atacadão) espalhadas pelo País. Já faz um bom tempo que os produtores franceses – apoiados ou peno menos tolerados pelo presidente Emmanuel Macron – fazem campanha e protestos contra o acordo comercial da União Européia (de que a França faz parte) com o Mercosul. Os franceses, sem condições de competição com o Mercosul (Argentina, Brasil, Paraguai e Uruguai) criam toda espécie de problemas mas, mesmo assim, o comprador francês continuava aqui se abastecendo, não por ser bonzinho, mas porque o nosso preço é menor. Quando o CEO do Carrefour disse que ia ceder às pressões dos produtores franceses, os fornecedores brasileiros suspenderam o fornecimento de suas mercadorias às lojas do grupo. Está criado o impasse.
O agronegócio da região do Mercosul é altamente competitivo e produtivo. Consegue colocar suas mercadorias – carnes e grãos – a bom preço nos mercados consumidores, coisa que a França não faz porque tem outro tipo de estrutura produtiva. Suspenso o fornecimento, agora a rede varejista francesa tem de se posicionar e fazer sua opção por adquirir as mercadorias de quem as produzi de corema competitiva ou, então, pagar os altos custos da produção européia, o que tende a baixar a venda. É o momento em que o Mercosul precisa estar unido e fazer valer a sua condição de bloco econômico pois, se não for para momentos como este, não há razão para a sua existência.
O agro brasileiro é, sem dúvida, o setor que mais evoluiu e fez a “lição de casa” nos últimos 30 anos. Abriu fronteiras agropecuárias em regiões antes tidas como improdutivas. Com o emprego de pesquisa e tecnologia, consegue entregar ao mercado o bovino para abate aos 18 meses (não aos 24 como anteriormente) e, com o clima tropical, produzir três safras por ano – a tradicional, a safrinha e a irrigada – enquanto .outras regiões, se clima mais severo, como a Europa, só faz uma safra a cada 12 meses. O que tem faltado ao Mercosul é coordenação e força de negociação. Espera-se que os países componentes priorizem a produção – que já é alta – e as melhores condições de colocação dos seus produtos no mercado, deixando em segundo plano diferenças políticas e ideológicas que tanto têm atrapalhado o desenvolvimento do organismo comercial nas ultimas décadas. Que o Brasil, independente do que pensa ideologicamente seu presidente, empreenda negociações ao lado dos demais países-membros do bloco, sem priorizar o posicionamento político-ideológico dos parceiros. Quando estiverem reunidos no Mercosul, tratem só do negócios em comum e ignorem as diferenças políticas e, principalmente, a vaidade pessoal.
Apesar das dificuldades de alavancar o Mercosul, o Brasil tem uma importante estrutura negocial no Agro. É o setor que vem dando fôlego à economia nacional, apesar do ranço e do preconceito que sofre dos governos de esquerda. É preciso acabar com as divergências que só servem para atrasar os negócios. Temos de ser pragmáticos e não misturar os interesses para que um não atrapalhe ao outro. O governo brasileiro, particularmente, precisa reputar bem o Mercosul e as suas rendas. Enquanto outros setores – especialmente os gastos públicos – enfrentam problemas, a renda do Agro poderá ser a solução para o equilíbrio hoje difícil de se obter.
Que o rompante do CEO do Carrefour francês seja utilizado como uma eficiente alavanca para colocar o Mercosul e o agro sulamericano no local de destaque que há muito merece mas até agora no se conseguiu alcançar. E os franceses paguem mais pela proteína que consomem até o dia em que deixarem de votar no presidente Macron e de ceder aos produtores locais que não tem preços para competir com o agronegócio sulamericano. Quanto ao Carrefour do Brasil e seus associados, que também busquem bom relacionamento continental e não no seu país de origem que, apesar da tradição e da história hoje pouco representa em produção agrícola, especialmente quando se discute o preço de cada mercadoria.
Não se pode ignorar que, por razões climáticas e populacionais, o Mundo tem necessidade cada dia maior de alimentos para as populações. Se o francês e outros europeus querem fazer disso instrumento de disputa política, nós que temos as mercadorias, simplesmente devemos deixar de para vender e buscar outros mercados, também carentes de alimentar as respectivas populações…
(*) É dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)