João Baptista Galhardo
Faleceu nesta semana o Doutor Francisco Loffredo Júnior. Foi por muitos anos Juiz de Direito desta Comarca. Dignificou a Magistratura Paulista. Viveu para o trabalho, para a sociedade e com abnegação para a família, como seu chefe exemplar, amoroso e irrepreensível. E também para os amigos, com sábios conselhos e constantes palavras de incentivo e carinho. E para estes tinha sempre uma piada nova para contar. Fui o primeiro Servidor da Justiça a ser examinado e habilitado como Escrevente por uma Banca Examinadora por ele presidida em 1956. Como funcionário do Registro de Imóveis, Escrivão do Júri, da Corregedoria Permanente e Chefe do Comissariado de Menores trabalhei muito ao lado do Doutor Loffredo. Posso testemunhar a singeleza do seu comportamento, bem como a forma lhana, gentil e educada de tratar indistintamente quem quer que seja. E o seu amor aos filhos, filha, noras, genro, netos e a essa doçura de pessoa, D. Maria, sua esposa, permanente amiga, companheira e conselheira de tantos anos. Dentre as perfeições e imperfeições próprias do ser humano, sobejavam-lhe as virtudes. Tanto funcionais como pessoais. Como juiz lhe sobravam a dedicação, honestidade, cultura, imparcialidade e bom senso, qualidades indispensáveis para o brilho da toga. Como cidadão probo, exornavam e enfeitavam o seu caráter, a sua bondade, a sua humildade, o seu bom humor e a sua vontade de servir. Foi fundador e incentivador de inúmeras instituições de caridade, quase todas ainda em atividade. Poderia arrolar inúmeras passagens da minha vida, envolvendo a sua participação. Quando um funcionário do Fórum concluía o Curso de Direito, o Doutor Loffredo encabeçava uma lista de fundos para a compra do anel de grau para o novo bacharel. Era entregue no dia 08 de dezembro, Dia da Justiça. Com direito a discurso. Tenho o meu até hoje. A família forense, inclusive advogados, se reunia várias vezes no ano. Na páscoa. No dia 11 de agosto. No Dia das Crianças. No Dia da Justiça e na véspera de Natal, sempre com festas, brindes e jantares. Graças à liderança e iniciativa do Doutor Loffredo. Freqüentávamos, uma vez por mês, à noite, o pesqueiro do Barranco Amarelo, onde ele animava a todos com casos pitorescos e piadas. Numa dessas reuniões rolou a prosa sobre o desempenho de cada um no leito conjugal. Foi um campeonato de mentiras. O mais fraco não falhava um dia. O “seu” Zico zelador que participava da conversa disse : – eu não sou tão valente quanto vocês não. Cada semana, dez dias…e mesmo assim tomando chá da cascara dessa árvore aí. A árvore, bem na frente da área da casa, não tinha mais que três metros de altura. Na hora de ir embora, notei e não sei que mágica usaram. Ela não tinha mais cascara alguma. Foi pelada pelos valentes mentirosos. Onde quer que se encontrasse o Doutor Loffredo alegrava o ambiente, principalmente com suas anedotas. Lembro-me como se fosse hoje. Depois de uma correição num dos distritos da Comarca, embaixo de uma jaqueira onde foi oferecido um churrasco, ele perguntou para um caboclo, de cócoras, desfiando o fumo na palma da mão: “hei, você não sabe nenhuma piada?” – Só de papagaio sei mais de trinta. – Então conta uma. E ele contou: “Duas solteironas arrumaram para companhia duas papagaias. Mas a vida delas virou um inferno. Cada vez que chegavam visitas masculinas, as duas falavam “somos prostitutas, querem se divertir”? As donas foram se aconselhar com o padre. Não sabiam o que fazer. O pároco disse: – deixa comigo. Eu tenho dois papagaios educados que eu ensinei a rezar. Levaram as duas papagaias e colocaram na gaiola dos dois papagaios. Elas imediatamente: – somos duas prostitutas, vocês querem se divertir? Um papagaio disse para o outro: “pare de rezar. Nossas preces foram ouvidas”. Quero guardar do Doutor Loffredo a sua imagem de cidadão probo, culto, chefe de família exemplar, homem bom, amigo leal e sincero, permanentemente bem humorado. O Céu ficará mais alegre com a sua presença.