Hoje senti saudade de ter pai. Vê-lo todos os dias, observar seu sorriso cativante e seu cuidado com as pequenas coisas. Senti saudade de ser vista como filha, já que a partir de quando temos outra vida, temos que muitas vezes dar conta de tudo.
Ser filha é um jeito interessante de descansar da vida, de depender, de poder perder a hora, de esquecer o compromisso, não cumprir o combinado. É uma forma justificável de realizar pequenas transgressões. A bronca do pai vem sempre depois disso. Até mesmo das broncas eu tive saudade. Quanto amor havia naquelas repreensões! Tive saudade de vê-lo chegar, entrar pelo portão da garagem com seu carro sempre impecável e de dentro dele, claro se escutava o som de um de seus CDs preferidos, pois não vivia sem música. Um jeito silencioso de andar, de guardar sua inseparável pasta e chamar pela minha mãe. Chamava por chamar, só para anunciar sua chegada. Eu me recordo das alegrias daquele tempo. Somadas formam uma grande felicidade hoje. Ainda que alguma coisa fosse difícil naquela hora, hoje, distante do tempo, a vida se reveste de novas cores e o que antes era triste, agora se transforma em saudade feliz.
Ter pai é um jeito interessante de ter fé em Deus. Uma fé que não passa pelo horizonte das formulações racionais, mas que nos surpreende com um impacto nos afetos. Uma fé que nos rouba as palavras e nos coloca um balbucio que diz sem dizer: Não sei dizer pela qual acredito, eu só sei acreditar. Talvez seja por isso que eu tenha acordado com tanta saudade de ter pai de novo. Talvez eu esteja precisando voltar à fé simples…
A fé que não precisa explicar, que não sabe dizer, que sabe esperar…Não saber dizer é um jeito interessante de cultivar sabedoria, um pouco estranho, mas é.
Meu pai era um homem que tudo o que dizia era com muita sabedoria, pois tinha muita facilidade com as palavras. Apesar de ter muita paciência ao formar frases, ele dizia que a palavra que demora mais tempo na boca, quando nasce, nasce mais sábia. Aprendi isso com ele. Aprendi também que sempre é tempo de aprender. Ele por ser extremamente carinhoso sempre teve muita facilidade de demonstrar seu afeto. Tinha um coração imenso e demonstrava de forma única o que sentia.
No último ano de sua vida, quando a doença chegou para levá-lo de nós, parece que externou mais o amor que tinha pela minha mãe e por cada um de seus filhos.
Meu pai viveu 62 anos, e nesses anos teve coragem para mostrar seu amor, seu carinho, nos abraçar e nos beijar muito, sem receios. Acho isso lindo. Isso me ensina, me faz entender a lógica do amor de Deus.
Deus não se prende ao que a gente não conseguiu. Ele prefere olhar para o que a gente soube realizar. Eu lamento que foram somente 62 anos, mas ao mesmo tempo agradeço a Deus: foram dias mais felizes do que tristes que ele me proporcionou. Eu quero recordar a grande lição que ele me deixou antes de partir: NUNCA É TARDE PARA APRENDER!
Obrigada pai! Fique em paz. Saudade… e até um dia!
Te amo! (Cassinha Sério)